Doria desiste, e Ciro-Mandetta cresce nos bastidores da centro-direita

Doria desiste, e Ciro-Mandetta cresce nos bastidores da centro-direita
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A manchete do Estadão, cidadela do reacionarismo tucano paulista, foi avassaladora: “Doria já admite disputar reeleição em São Paulo, em vez de campanha ao Planalto“. Enquanto isso, Ciro Gomes cresce nas conversas de bastidores como alternativa para os partidos de centro-direita que não querem nem Lula, nem Bolsonaro.

O Estadão ainda informa, quase lamentando, que a aliança PSDB/DEM em São Paulo está cada vez mais enfraquecida. Os tucanos não pretendem abrir mão do maior e histórico poder orçamentário que tem na mão há mais de duas décadas, principalmente diante do pífio desempenho de Doria como pré-candidato presidencial. A rejeição do governador é estratosférica e suas chances de ser eleito presidente é quase nula tendo em vista a antipatia da população e dos líderes políticos de outros estados, inclusive dentro do próprio PSDB. Caso o vice Rodrigo Garcia do DEM queira ser governador vai ter que se filiar ao PSDB e torcer para Doria não desistir de ser candidato a presidente e renunciar ao cargo em abril de 2022, o que está descartado nesse novo cenário de inviabilização nacional.

Aécio Neves, que ressurgiu como uma fênix dentro do PSDB articulando os setores anti-hegemonia paulista do partido dentro do Centrão na Câmara dos Deputados, já descartou Doria e defende a Frente Ampla de todos os candidatos de centro com Ciro Gomes: “Centro ampliado tem de ter de Ciro a PSDB, MDB, DEM, com o Mandetta, Luciano Huck, o Eduardo Leite e o Rodrigo Pacheco“. Eduardo Leite é um governador ainda muito jovem, que precisa crescer nacionalmente e por isso se coloca como alternativa ao hegemonismo paulista do PSDB, mas não seria capaz de liderar uma grande aliança ampla nacional. Luciano Huck está praticamente descartado devido à vacilação e falta de habilidade política, principalmente diante da proposta da Globo de colocá-lo no lugar do Faustão no domingo. O mesmo vale para qualquer outsider arrivista, a política voltou e não será tutelada por animadores de auditório. Rodrigo Pacheco é presidente do Senado e não tem nenhum tipo de mobilização eleitoral de massas, nem na mídia e nem nas redes sociais, que possa justificar uma candidatura presidencial, mas ele é citado por se tornar um articulador central devido ao protagonismo no Congresso. O que realmente fica dessa fala de Aécio é a insinuação da chapa Ciro-Mandetta, que uniria a centro-esquerda (PDT/PSB/Rede/PV) à centro-direita. Aécio só não cita o PSD devido ao seu antagonismo regional com Alexandre Kalil, o popular prefeito de BH que deve ser eleito governador em 2022, e além disso, já é um entusiasmado apoiador de Ciro.

Como eu expliquei ontem no artigo “Lulinha Paz e Amor voltou, mas vai ser difícil tirar o PT do isolamento“, o caminho para Ciro Gomes é o centro, e é isso que apavora os petistas que esperneiam como se vê na coluna do simpático jornalista Rodrigo Vianna no Brasil 247, “A operação Ciro-Mandetta“. É claro que discussões de chapa são totalmente precipitadas, e servem apenas como balões ensaio para testar os ânimos das lideranças de construir alianças partidárias complexas. Na verdade, essa especulação denunciada pelos meios de comunicação lulista apenas comprova a dificuldade do PT de sair do isolamento, mesmo com o Lulinha Paz e Amor, como eu apontei.

Mandetta dificilmente teria estofo político para ser candidato a vice-presidente, e muito menos presidente. Seu nome é ventilado apenas pelo antagonismo midiático que conseguiu criar contra Bolsonaro como ministro da Saúde. Mas a construção de uma chapa mesmo vem bem depois da construção das alianças partidárias, é isso que realmente importa.

Em relação ao eleitorado mesmo, a histeria em torno de chapas serve apenas para animar os histéricos comentaristas e os militantes desavisadas. O debate real entre os tomadores de decisão se dá apenas sobre a viabilidade do candidato efetivo a presidente. O candidato a vice é decidido às vésperas da eleição com base na correlação de forças internas da aliança, vice não elege ninguém. Não são as infinitas e alucinógenas especulações da internet ou mesmo dos grandes jornalões sobre chapas supostamente imbatíveis que viabilizam alianças. É o papo sobre interesses concretos e divisão de poder entre os caciques de partidos grandes como Kassab do PSD, Ciro Nogueira do PP, ACM Neto do DEM, e depois dos partidos médios como o PSB do governador de Pernambuco Paulo Câmara, e da miríade de partidos pequenos que seguem o fluxo político como Paulinho da Força do Solidariedade, etc.

O que realmente fica cada vez mais claro nas discussões de bastidor é que para a centro-direita, o caminho é encontrar alguém viável que consiga enfrentar tanto Bolsonaro quanto Lula, que tenha votos no nordeste, e consiga ser amplo ao centro no sudeste do país. Quem melhor do que o terceiro colocado das últimas eleições presidenciais mesmo sem apoio nenhum? “Esse cara sou eu” do Rei Roberto Carlos virou a música favorita do “Ciro 12%”, como os petistas gostam de tripudiar. Ironicamente, esses 12% podem ser o trunfo decisivo para Ciro e o prego no caixão da hegemonia lulista como alternativa para o centro no enfrentamento com a extrema-direita nos rincões do Brasil.