Chapa Lulalckmin é fuga para o passado

Chapa Lulalckmin é fuga para o passado
Botão Siga o Disparada no Google News

A chapa Lulalckmin é o resumo da política brasileira entre o Plano Real e a Lava Jato. A unificação dos antigos polos de disputa contra o novo inimigo, a “antipolítica” morista/bolsonarista, sinaliza a superação histórica daquele contexto, assim como a tentativa de restaurá-lo. Mas, como a história ensina, não existe restauração, toda tentativa nesse sentido é frustrada pela realidade.

Não se deve esquecer o passado, pois ele é o substrato histórico do presente, mas também não se deve buscar revivê-lo, pois se desperdiçará energia tentando o impossível. “E ninguém põe vinho novo em odres velhos; se o fizer, o vinho rebentará o odre e tanto o vinho quanto o odre se estragarão. Ao contrário, põe-se vinho novo em odres novos. (Marcos: 2: 22).

A grande questão hoje é a construção de um poder novo adequado. Para isso, precisamos viver o presente, sonhar o futuro e interpretar o passado a partir de hoje e das condições de hoje.

Nesse sentido, Lula e Alckmin, juntos ou separados, representam uma fuga do turbilhão do presente, assim como Moro e Bolsonaro representam uma mera negação da ordem que Lula e Alckmin simbolizam, sem colocar nada no lugar.

Faz-se necessária uma força afirmativa e construtiva, enraizada no passado mas não amarrada nele, com plena liberdade de, a partir dele e do legado e aprendizado que ele proporciona, movimentar-se no presente em disparada ao futuro. Sem essa força, o Brasil continuará à deriva, incapaz de seguir e muito menos de comandar o bonde da História.

  1. Não sou um militante das esquerdas eleitoreiras. O protagonista das mudanças radicais com que sonho e que, para acontecerem, demandam a conquista do poder, é o proletariado, ou seja, os trabalhadores e o povo organizados, mobilizados e guiados por uma organização revolucionária (logicamte uma tal organização não poderia ser nem o PT, nem o PDT, dois partidos eleitorais, da ordem). Entretanto, não estou entre aqueles que negam importância à luta institucional. Para mim, pouco importa, entre Lula e Ciro, quem derrotará Bolsonaro se vier a derrotá-lo. Esse é o objetivo principal das eleições de 2022. Qualquer programa de governo que prometa algo para além da vitória política sobre o fascismo será mais um, entre tantos outros, que não se cumprirá, a depender dos mecanismos de governança institucionais existentes, se contrariar os interessses de classe da plutocracia financeira que nos domina. Isso porque essa oligarquia se denomina dominante não por força exclusiva de seu poder econômico, mas porque detém, de fato, o controle sobre o Estado brasileiro, sobre o grosso de seus agentes políticos, jurídicos e militares, sendo assim capaz de anular ou tornar praticamente nulas toda e qualquer medida adotada por um governo supostamente progressista que contrarie seus interesses, os interesses dessa oligarquia (esse fato nos é confirmado pela História, sendo absurdo separar esse ou aquele período histórico particular do processo histórico geral como um todo. No balanço histórico geral, os interesses de classe que terminaram sendo atendidos jamais deixaram de ser os interesses dessa oligarquia dominante. Getúlio Vargas pôde se fazer conhecido como nacionalista e promotor da industrialização brasileira porque apoiava-se em uma burguesia brasileira então emergente, que nucleava essa oligarquia. Essa burguesia fragmentada, perseguindo interesses industrias nacionais não existe mais, ou melhor, transmutou-se, encontrou a sua posição definitiva, associando-se a interesses transnacionais, deixando de compartilhar interesses nacionais com outras classes da sociedade brasileira). A luta institucional não é, portanto, ocasião para fazer promessas que jamais se cumprirão. A partir de uma vitória de um candidato progressista, conquista-se apenas melhores condições para a luta que se trava fora das instituições burguesas, além de medidas paliativas capazes de melhorar um pouco a vida dura dos trabalhadores e do povo (bolsa família, reserva de vagas em universidades, melhoria do padrão de financiamento da saúde pública, etc.) Qualquer ponto de um programa de reformas progressista que confronte os interesses de classe da plutocracia financeira somente poderá ser conquistado com o apoio consciente e organizado dos trabalhadores e do povo. Sem o concurso da luta dos “de baixo” em defesa dos seus interesses, qualquer medida que contrarie os interesses da plutocracia financeira será anulada pelos mecanismos vários de contole do estado possuídos por ela, plutocracia financeira brasileira. Para concluir, depois dessa digressão que a maioria terá considerado fastidiosa, a chapa Lula- Alckmin se, de fato, se consolidar, terá sido um tiro de misericórdia nas pretensões eleitorais de todos os demais candidatos, em termos de eleições presidenciais, e de muitas outas candidaturas, em termos de governos estaduais, promovendo em todos os estados alianças eleitorais imprevistas e consideradas improváveis há pouco tempo atrás. Certamente a aceitação de Alckmin em participar de uma chapa com Lula terá tido como contrapartida uma ampla negociação envolvendo concessões do PT no âmbito de seus interesses exclusivistas em cada estado para partidos como o PSB, PSD, entre outros. A mim me parece que o que orienta esse tipo de arranjo político que nada tem com o passado, posto que motivado por condicionantes absolutamente presentes e contemporâneos, é o interesse principal que atribuo à eleição presidencial de 2022: a derrota do fascismo, do bolsonarismo e de suas perigosas milícias armadas até os dentes. Não sou lulista, cirista e muito menos alckminista, mas considero essa aliança conveniente aos que pretendem, de fato, derrotar o bolsonarismo e não apenas Bolsonaro. O ideal é que o PDT e outros partidos como o Cidadania, a Rede e o PV, participassem desse concerto político. Ciro Gomes poderia figurar como futuro Ministro da Fazenda, participando da campanha ativamente nessa condição, com garantia de apoio à sua atuação durante os 4 anos de governo Lula-Alckmin. Com isso, além de poder executar o programa econômico de que tanto fala, teria ademais uma poderosa vitrine para firmar sua imagem nacional. Para isso, o PDT deveria colocar na mesa de negociação as medidas que defende na área econômica, que passariam a ser o núcleo basilar do programa econômico dessa Frente Ampla contra o fascismo. Esse acordo político seria histórico, reconhecido como momento de superação de interesses particulares em nome de interesses nacionais maiores. Quatro anos passam de pressa, e os que alimentam o sonho de ser Presidente do Brasil poderiam agardar esse tempo sem maiores prejuízos sobretudo se tiverem menos de 70 anos como alguns sonhadores terão.

Deixe uma resposta