O bem público para o castilhismo

O bem publico para o castilhismo
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Por João Pianezzola – É na questão do bem público que vemos o castilhismo contrastar sobremaneira com o liberalismo. Enquanto para este o bem público é o resultado da harmonização entre interesses individuais, da proteção à propriedade privada, da liberdade de comércio e da liberdade civil, para o castilhismo o bem público ultrapassa o interesse individual: é imaterial, espiritual e impessoal. É o mesmo que o bem-estar coletivo.

Enquanto para o liberalismo o bem público resulta duma espécie de movimento ascendente, de baixo pra cima, em que os entes particulares da sociedade, através da representação política, dos debates e das discussões, imprimem seus desejos e ambições ao Estado, que deve tratar de cumprí-los, para o castilhismo, inversamente, o bem-estar coletivo, a paz social, o bem comum e a ordem, devem, antes, ser impostos de cima para baixo, por um Estado forte, iluminado e científico. A isto dá-se o nome de moralização diametralmente oposta à representação dos liberais.

Disso advém que, para Castilhos, o governo é uma questão de competência, principalmente; apenas os sábios devem governar, e aquele que governa deve estar imbuído de uma “imaculada pureza de intenções”. Deve ser virtuoso, pois a República é o regime da virtude.

Percebemos, portanto, que o castilhismo recapitula conceitos-chave da política platônica: a coisa pública (“República”) deve ser administrada –paradoxalmente, pois Castilhos era antimonarquista — por um rei-filósofo e por uma guilda de sábios, moralmente superiores aos governados, mesmo que aqui a filosofia seja substituída pela ciência antimetafísica (ainda que revestida de uma profunda mística) e o rei pela figura de um presidente ou ditador republicano; e o Estado deve assumir um papel ativo de condução, instrução e educação vertical: deve operar de cima para baixo, infundindo nas almas a virtude e a ordem, tendo mais respeito pelo bem público do que pelos bens e interesses particulares.

É do respeito pelo bem público e da noção ativa que o Estado deve ter para com ele que derivam todos os aspectos do castilhismo enquanto ideologia política própria.

Por João Pianezzola