Balanço da campanha do companheiro Ciro Gomes pela base

Balanco da campanha do companheiro Ciro Gomes pela base
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Por Lucas Batista – Sou membro da direção da JS Niterói, construo a candidatura de Ciro Gomes desde 2017, quando decidi me filiar ao PDT como melhor caminho para essa construção. No Partido eu segui a risca a fidelidade partidária, apoiei e fiz campanha para todos os cargos que o partido se colocou em disputa, mas sempre colocando em questão o que aquela candidatura soma para o projeto nacional. O Projeto Nacional é o norte e a razão de ser do PDT, não existe partido nacionalista sem a disputa pelo projeto de nação.

Acompanhando dia a dia as movimentações de Ciro Gomes e da política brasileira, organizando atos de campanha e pré-campanha, formações políticas, filiando simpatizantes do PND, posso avaliar com certa autoridade de quem viu de perto tudo acontecer e não através de manchetes ele cortes de vídeos. Acredito que a complexidade dessa campanha precisa ser analisada em três partes: Conjuntura, papel do Ciro, papel do PDT.

Conjuntura

O Campanha do Ciro Gomes cometeu erros sim, e esses erros passam pelo partido, pelo marketeiro e pelo próprio Ciro. Mas nenhum desses erros foi determinante, Ciro poderia não ter feito nenhuma crítica do ponto de vista moral ao Lula que em nada isso significaria na prática, a argumentação do voto útil teria o mesmo peso. Se tratou de uma eleição que antecipou o segundo turno, o veto tomou lugar do voto. A rejeição do Petismo enfrentando a rejeição do Bolsonarismo, o medo enfrentando o medo, a esperança que Ciro tanto falava evaporou a ponto de liberais-conversadores passarem a votar no Lula e os reacionarios que se sentiram traídos pelo Bolsonaro voltarem para o mesmo.

O Eleitor que Lula tirou de Ciro não foi apenas do campo progressista, em que muitos relataram desistir do voto no Ciro com o sentimento de medo ao verem filas imensas com camisas do Brasil para a votação, o eleitor retirado do Ciro também foi aquele que não veste a camisa do Bolsonaro mas que votou por não permitir as volta do Petismo em primeiro turno.

Então quer dizer que o Ciro tinha eleitores de Bolsonaro? Sim, o objetivo era exatamente esvaziar o Bolsonarismo logo no primeiro turno. Mas não, o Lula em sua estratégia anunciada de ganhar em cima de Bolsonaro precisava manter o Bolsonarismo vivo, por isso a esquerda que está em sua órbita não poderia lutar nem pelo impeachment e nem pela prisão de Bolsonaro. Porém, o fator surpresa foi esse Bolsonarismo passar o carro no sudeste, e fazer uma oposição que potencialmente tornará o Brasil sem Bolsonaro um país ingovernável. Enquanto o Lulismo não for superado, o Bolsonarismo não será. Porém isso não é mais a tarefa de agora, só temos forças para enfraquecer um inimigo nesse momento, e esse precisa ser Bolsonaro por razões óbvias.

Papel de Ciro Gomes

Muitas análises estão batendo na trave sobre a questão moral que Ciro pautou nessa campanha. A Questão não é, e nunca deveria ser, que só podemos apontar a corrupção do Bolsonaro sem apontar a do PT. O Lula chegou ao poder tendo a pauta moral como uma de suas grandes forças, porém com o tempo essa pauta foi entregue a direita supostamente anti-sistema, para enfrentar uma esquerda na defensiva. Na defensiva moral, na defesa de instituições que não tem um mínimo de apreço popular e na defesa de um legado de governança sem condições de repetição.

Todo político que quiser destaque precisa ter uma autoridade moral perante seus adversários, e o Ciro tem por razões naturais. É necessário apontar que a política liberal e a corrupção são como unha e carne, e não existe nada de udenismo em expor estritamente como funciona liberalismo no país.

Mas, o problema mora ao lado. O Foco excessivo no combate a corrupção foi um erro, e esse erro não foi comprovado pela votação do Lula e sim pela força do Bolsonarismo. Bolsonaro notório por transformar sua família em quadrilha, não apenas teve mais votos no primeiro turno que em 2018, elegeu diversos corruptos pelo Brasil, entre eles Cláudio Castro ganhando em primeiro turno no Rio de Janeiro depois de montar um dos maiores esquemas de corrupção de nossa história no Rio com o CEPERJ, esquema que envolvia desde ONGs até dinheiro da CEDAE Privatizada. Na prática o Bolsonarismo fez aquilo que apontou no PT por 13 anos, varreu a corrupção pra baixo do tapete.

A Reflexão que toda a esquerda precisa fazer, em especial o Ciro, é que o povo fora da classe média alta, ou fora do Paraná, não se importa tanto assim com corrupção.
O que pega mesmo o é o lema fascista capturado pelo Bolsonaro: Deus, Pátria e Família.

É esse lema que precisamos desconstruir, e utilizar a pauta de anti-corrupção através dessa desconstrução: não existe defesa da família por uma família de quadrilheiros, não existe defesa de Deus por um mentiroso que se fantasia em casa religião, e não existe defesa da Pátria com a desnacionalização do país, com a destruição do patrimônio nacional. A Questão não é só usar do discordo, é saber como usar na medida certa.

É Preciso defender a família provendo emprego para a família subsistir, é preciso defender a pátria de forma clara e direta perdendo o medo de falar “patriota” ou “nacionalista”, é preciso debater a questão da religiosidade no Brasil com seriedade, superando os medos que são colocados de forma mentirosa na mente conservadora da população.

Sobre o debate na Globo, Ciro ir pra cima do Lula na primeira oportunidade do debate é outro erro que é necessário pontuar. Em qualquer debate o primeiro a perguntar quando não é o governista, enfrenta o governista. Ciro quebrou esse protocolo e facilitou a difamação de sua campanha pela esquerda a troco de nada.

Outro erro fundamental do Ciro, mais uma vez, é apostar nas redes sociais convencionais de campanha e não focar sua munição no telegram e whatsapp onde o Bolsonaro nada de braçada e consegue uma mídia paralela que atribui com bastante exito todos os erros de seu governo a oposição e as instituições.

E por último, a seletiva personalidade carismática de Ciro. Ciro sempre arrebenta quando é apertado por jornalistas, quando vai em entrevistas de variados os tipos ou quando fala com o povão com sua força bruta argumentativa, seu sotaque característico e suas tiradas brilhantes. Mas quando está em ambientes de maior seriedade, como debates, Jornal Nacional e até mesmo programas eleitorais ele se torna novamente o professor que voltou de Harvard. Acredito que o Ciro tenha medo de se tornar uma caricatura de si mesmo, mas hoje as duas maiores caricaturas que o Brasil ja produziu estão no segundo turno, portanto não existe caminho para chegar lá da forma que se prefere.

Papel do PDT

Agora chegamos a parte mais difícil, falar do meu histórico e amado partido. Ao longo desses 5 anos defendi uma integração de apoiadores do Ciro Gomes no partido, e atuei com essa política na JS Niterói tendo resultados expressivos. Defendo que os Ciristas entrem no partido para ajudarem na construção da base do partido, juntamente com os trabalhistas históricos que muito contribuiram para a imortalidade do PDT. Defendo que essas duas forças estejam unidas contra oportunistas fisiológicos e reacionários que tentam se infiltrar na base do partido.

Porém isso não foi feito em larga escala, em muitos lugares por receio de perder espaço, outros por engessamento do partido. O resultado foi uma militância cooptada por gurus com discursos raivosos e por vezes despolitizados, por fora dos espaços que o PDT pode controlar, e os históricos trabalhistas lamentando por essa influência externa.

Dentro do partido alguns largaram de mão o Ciro, junto com os ideais do partido, logo que Lula recuperou seus direitos políticos. Muitos outros apoiaram descaradamente ou veladamente Lula no primeiro turno, muitos só foram aparecer no segundo turno para participar ativamente, da forma mais cínica e previsível possível. Tivemos casos de “militantes” que se comprometeram a ajudar na campanha do Ciro, receberam dinheiro pra isso, não ajudaram e ficaram batendo no Ciro internamente, o cúmulo do oportunismo.

Caberia aos militantes do PDT entenderem a importância de marcar posição nessa eleição para pensar em um futuro para o Trabalhismo, ao invés de venderem seus sonhos tão facilmente. Caberia ao PDT montar um comitê de experientes para aconselhar o Ciro, e não deixar a campanha concentrada no marketeiro que não se renovou tanto quanto precisava para os tempos digitais, e gurus que trazem mais rejeição que voto. Nada disso seria o bastante, mas tornaria a campanha mais digna como foi em 2018. Lembrando que eu me refiro apenas de uma parcela minoritária e barulhenta da militância e não sobre sua maioria.

Dito isso, eximo de culpa o presidente Carlos Lupi que manteve com toda garra a candidatura do Ciro aguentando pressões internas de oportunistas e aguentando os cantos da sereia vindos de fora do partido. Tal como eximo de culpa os políticos que pensaram em sua própria candidatura antes do debate nacional, porque a polarização esmaga tudo que encontra pelo caminho.

O Saldo de nossa estratégia de manter candidatura segue sendo positiva apesar da maior polarização da história do país. Mesmo com a força tarefa Alckmin-Dino-Freixo que Lula fez para tomar o PSB, PSB não só diminuiu sua bancada como também perder em primeiro turno o Governo do Estado que mais atuou pela aliança com Lula, Pernambuco. Toda a esquerda diminuiu sua representação no parlamento e o único crescimento significante foi para o PT, sem dúvida eles tem muito a agradecer para os 10 partidos que apoiaram Lula.

O PDT manteve sua posição e agora se tornou o segundo maior partido do campo da esquerda na câmara e no senado.

E Se o PDT não quiser com o tempo desaparecer na cláusula de barreira que esse ano devorou mais 6 partidos, entre eles a nossa ex-sigla PTB, sugiro que após derrotar eleitoralmente Bolsonaro sustente de forma independente a defesa de um projeto melhor para o país, porque é exatamente isso que o povo brasileiro quer e precisa.

Por Lucas Batista

  1. Eu também faria uma crítica a própria militância, que muitas vezes via uma casca de banana jogada pelo petismo e ia lá pisar. Foi muito desgastante esse tipo de comportamento. O que sugiro é que se faça uma triagem de todos os militantes e se crie uma forma de acolhimento e mobilização perene. Foi o que faltou em 18. E o partido precisa se comprometer em fazer uma “limpa” para poder nascer algo novo.

  2. Os apoiadores do PT acreditando que Ciro Gomes foi o grande derrotado das eleições, que ele foi humilhado e que morreu politicamente. Essa é a visão egocêntrica deles. Difícil ver a palavra “egocêntrica” ser usada com tanta propriedade porque, de fato, no centro deles tudo isso é verdadeiro, mas fora da bolha petista… Eu votei no Ciro e sou entusiasta do PND. Não me sinto derrotado e sim vitorioso por agora conseguir enxergar claramente o que existe por trás da máscara do PT. Também não me sinto humilhado, porque a agressão covarde humilha o agressor, não o agredido. Tenho orgulho de fazer parte dos 3% e, parafraseando Darcy Ribeiro, não gostaria de estar no lugar dos que me venceram (ou que acreditam ter me vencido).

  3. Parabéns Lucas Batista! Sua análise sobre os erros e acertos do PDT no pleito eleitoral de 2022 é a mais clara reflexão que tive oportunidade de analisar. Concordo com quase tudo que você pontuou. Também acredito que o maior erro do Ciro foi ter mantido o estilo auditor de contas com mão de ferro, que aponta erros e ameaça demissão geral. Enquanto os dois lados da polarização se juntaram para tornar suas denúncias e promessas sem qualquer impacto diante da opinião pública. Faltou a ele a técnica tão bem aplicada pelo Lula e muitas vezes relembrada por ele mesmo, ou seja, SER UM ENCANTADOR DE SERPENTES. Ao invés de ameaçar oponentes, e com isso criar uma corrente de oposição poderosa a sua pessoa e projeto, usar a caricatura do político paz e amor!

    Marcelo Santos

  4. Parabéns Lucas Batista
    O Ciro foi o único candidato com projeto bem definido para o país
    Os erros de campanha que apontas não fizeram a diferença
    O que, no meu entender, fez a diferença foi a despolitização do nosso povo, a máquina midiática do Bolsonaro e do Lula e o apoio da nossa elite econômica a essas duas candidaturas. Embora diferentes são iguais para essa elite econômica , como muito bem colocou Ciro Gomes
    A esperança e a luta por um Brasil melhor passsam por pessoas como Ciro Gomes
    Prefiro perder defendendo o que penso ser correto do que vender a alma para ganhar eleição

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