A arquitetura dual de Asterios Polyp e Dave Mazzucchelli

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A arquitetura dual de Asterios Polyp e Dave Mazzucchelli depois de uma década da nossa saudade

Não é de se estranhar que o nome David Mazzuccheli seja um conhecido mistério para os leitores de quadrinho do Brasil, um conhecido pois ilustrou brilhantemente grandes obras da nona arte, há de se falar sempre de Batman Ano Um, de forma merecida, evidente, vistos os méritos alcançados pela obra que definiu a origem do homem-morcego após anos de sua criação. Mas é importante não esquecer, que talvez seja a mesma coisa que lembrar, de sua brilhante fase, novamente junto de Frank Miller, com o Demolidor e de sua baila belíssima com Paul Auster em Cidade de Vidro.

Porém, também é um mistério aos leitores porque Mazzuchelli sofre com os grandes hiatos entre reedições de suas obras no Brasil pelas editoras nacionais. É tamanho o tempo injustificado entre as republicações que eu mesmo nunca tinha tocado no título que justifica a coluna de hoje, mesmo lendo quadrinhos desde 2012. Pois bem, antes tarde do que nunca, Asterios Polyp está de volta aos catálogos brasileiros depois de uma dezena de anos esgotado.

A obra máxima de Mazzucchelli à época de seu lançamento varreu todas as premiações possíveis, do Eisner ao Harvey, e até sua edição brasileira faturou HQMIX, como não poderia deixar de ser dado ao brilho único da obra.

Asterios Polyp e Dave Mazzucchelli

Asterios Polyp é o arquiteto que dá o nome a obra. Famosíssimo, respeitado e prestigiado nos mais altos círculos da academia, Asterios nunca teve sequer um projeto tirado do papel, é um arquiteto teórico, um verdadeiro idealista, no sentido mais ortodoxo do termo e extremamente soberbo. Toda essa construção vai por terra quando, após um divórcio, seu apartamento pega fogo, tendo somente tempo para resgatar três objetos e fugir, a partir daí o quadrinho nos leva pela jornada futura e passada de Asterios, desde seu nascimento com um irmão gêmeo natimorto até as causas de seu divórcio, passando pela construção de sua carreira impecável e sua personalidade maçante.

Cada aspecto do roteiro e do desenho são milimetricamente pensados e bem entoados, fato dado à quase uma década que Mazzucchelli dedicou às suas elaborações e também as estudos da teoria arquitetônica que empregou habilmente na construção das páginas, sempre em tons de cor básicos e com desenhos quase nada comuns, enquanto o texto bem polido flui até pela escolha das fontes empregadas e nos toca com a sensibilidade do autor. Essa sensibilidade e essa genialidade ímpar na narrativa fizeram Asterios Polyp ser, com tranquilidade, um dos três maiores quadrinhos lançados nesse milênio.

Que louvemos a bossa de João Gilberto e extirpemos a saudade deixada por Mazzucchelli e Polyp nesses dez longos anos lendo-os, muito mais de uma vez, pois garanto-lhe que todas as belas nuances não podem ser captadas de uma cajadada só. Boa leitura.