Por Luiz Campos – 2022 é um ano especial para os brasileiros e principalmente para os mineiros: Milton Nascimento comemora 80 anos e o clássico álbum Clube da esquina completa 50 anos.
Bituca, como Milton é chamado pelos amigos, carioca de alma mineira, foi criado na aconchegante cidade de Três Pontas, terra de cafezais que se perdem no horizonte. Cresceu ao som de violeiros, folias de Reis, congadas e dos cantos religiosos da festa do Padre Victor. Nenhum outro artista mineiro soube utilizar essas influências de forma tão criativa e sensível.
A essas influências regionais se juntaram o rock dos Beatles, o Jazz, a Bossa Nova, a música erudita e a canção popular latino-americana. Como cantou em “Para Lennon e McCartney”, Milton é do Mundo e é das Minas Gerais, com sua música que tem raízes e também asas.
O Clube da Esquina é o álbum em que essa alquimia mineira atinge seu ápice. Também celebra o movimento de mesmo nome, formado, além de Bituca, por gênios da mineiridade como Beto Guedes, Lô Borges, Toninho Horta, o trespontano Wagner Tiso, Márcio Borges, Tavito e o violeiro Tavinho Moura.
No álbum e no movimento encontramos a essência do que há de mais importante para o mineiro. O espírito comunitário, seja do grupo de amigos, seja da família. São belíssimas as histórias dos amigos de Milton sendo recebidos em Três Pontas, na casa de seus pais adotivos, com a típica hospitalidade e mesa farta do mineiro. A música do famoso álbum nos abraça e nos acalenta como uma visita ao interior das Gerais. Mas não é só isso, é o olhar do homem enraizado que olha para os povos vizinhos, do Brasil e da América do Sul, compreende, celebra e canta a unidade na diversidade e se torna ainda mais si mesmo. Bituca, durante sua carreira, cantou, por exemplo, com Clementina de Jesus e Mercedes Sosa, o que o tornou mais brasileiro e mais latino-americano. Gravou canções do folclore mineiro e cravou os pés ainda mais profundamente nas montanhas de sua terra.
Clube da Esquina é um manifesto cultural que celebra as Minas Gerais, através de sua riquíssima música, enquanto coração do Brasil, parte da Pátria Grande latino-americana e como um dos mais belos e mágicos cantinhos do mundo.
Por Luiz Campos. Texto publicado originalmente pela Frente Sol da Pátria
