Obrigado Rolando Boldrin, por tirar o Brasil da gaveta!

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Por Amaury Leite e Luiz Campos – Hoje, não bastasse a perda de Gal, flor tropical, faleceu Rolando Boldrin, nome de incomensurável importância à divulgação da cultura sertaneja. Cantor, ator e apresentador dos tradicionais programas dominicais Som Brasil e Sr. Brasil, Rolando nasceu a 22 de outubro de 1936 em São Joaquim da Barra, cidade situada no interior do estado de S. Paulo. Afeiçoado à música caipira desde a tenra idade, encetou sua carreira artística aos doze anos no município natal, formando a dupla Boy e Formiga com seu irmão Leili.

Partiu ainda na mocidade para a capital do estado, instigado pelos familiares a tentar ganhar a vida na cidade grande, rio de oportunidades. Passou por diversas profissões antes de, auxiliado por sua esposa – também cantora – Lurdinha Pereira, com quem havia gravado discos em dupla, lançar no ano de 1974 o seu primeiro LP solo, “O Cantadô”, epíteto que muito lhe vale, posto que, à maneira dos velhos sertanejos viajantes que contavam as notícias no repique da viola, lhe valiam mais a transmissão da mensagem e do sentimento ao refino artístico. Particularidade comum a grandes nomes da música brasileira, aliás. Cartola, Adoniran. Não eram donos de vozes portentosas, mas não podiam tocar mais o ouvinte.

Mas foi nos palcos da televisão que Boldrin tornou-se figura expressiva, fosse atuando em inúmeras produções da extinta TV Tupi ou apresentando os consagrados Som Brasil (em que permaneceu de 1981 a 1984) e Sr. Brasil de (encetado no ano de 2005 até o dia de hoje), respectivamente transmitidos pela Rede Globo e pela TV Cultura. Neste último, em particular – maior trabalho de sua vida -, cantou, dançou e cedeu espaço, nas telinhas – que cada vez mais tem se dado ao marasmo de ideias -, às mais diversas expressões da cultura nacional, com atenção especial à da Paulistânia. Contra a tirania do “jabá”, Boldrin democratizou o audiovisual, ao levar a seu público tão diverso – constituído tanto por macróbios saudosos quanto por jovens curiosos – tanto os rebentos cobertos pela industria cultural quanto os grandes nomes ignorados pela contemporaneidade. Num cenário que evocava a própria infância e a de milhões de brasileiros vindos da roça, fez um ambiente fraterno, rico na modéstia, de alegria contagiante, boa prosa e respeito à arte. Não admitia o infame playback e a guitarra gringa. Eram bem-vindas as violas, violões, bandolins, pandeiros, sanfonas etc.

O Brasil Profundo, de múltiplas raízes e miríades de frutos, respirou por muitos anos graças ao esforço sincero e desinteressado de mestres como Rolando Boldrin, Inezita Barroso e Moraes Sarmento. Neles sobrevivia, de forma atualizada, a missão de nomes como Mário de Andrade e Câmara Cascudo. Fica a semente, e cabe a nós, nacionalistas, interessados na continuidade da construção do país, na qual é imprescindível a valorização da miríade de frutos que nos legaram os antepassados, tomar a vanguarda desse empreendimento nobre que perde seu grande líder hoje.

Rolando Boldrin gostava de dizer que “tirava o Brasil da gaveta”, no sentido de ser um descobridor e divulgador da cultura de um país ignorado por muitos de seus habitantes. Cabe a cada um de nós, apaixonados por essa terra singular que Deus nos deu, continuar lutando por esse Brasil desvelado pelo mestre cantador. Muitas violas chorarão hoje em sua homenagem e, como ele mesmo cantou, um dia nos encontraremos num cateretê.

Por Amaury Leite e Luiz Campos

Publicado pela Frente Sol da Pátria

Obrigado Rolando Boldrin por tirar o Brasil da gaveta