Ano passado eu quase morri, e por isso nesse ano sei como não passar nem perto disso

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Ano passado eu quase morri, e por isso nesse ano sei como não passar nem perto disso

Existem alguns que usam o termo “fraseologia” como algo negativo, imbuído de alguma hipocrisia. Para certo prisma estão correto, mas para quem encara a vida como uma sucessão de causos do acaso que podem ser muito enriquecidos por belos jargões, ditados e frases arrebatadoras, fraseologia tem um imenso valor. Eu particularmente sou um que não perde a chance de anotar uma boa frase disparada.

Dia desses um novo pensador baiano, amigo de anos, querendo me consolar pelos fatídicos doze meses recém vividos, falou que o fim de ano é apenas uma invenção do capitalismo para vender rojão encalhado do São João. Se a frase é verdadeira, o que não duvido, é também verdade que o começo de ano, inventado ou não, é dotado de uma força transformadora quase ilimitada em nossos corações e almas.

Com isso dito, queria trazer algo um tanto quanto contrário à preposição anterior e voltar nossa atenção ao campo da arte, em especial da leitura recreativa, que sempre foi o foco dessa coluna. E com isso queria propor algo que adoto há anos mas nunca vejo ninguém falando sobre, pelo contrário, vejo indo de encontro à tal proposta. Não é hora de fazer metas de leitura, calendário de planejamento de livros com temas específicos para se ler ao longo dos meses ou se forçar a acabar algum livro que está estagnado há anos na estante.

Que em dois mil e vinte e quatro possamos usar essa força devastadora do ano novo para nos entendermos melhor com o ócio e o prazer da leitura enquanto um legitimo lazer, e não enquanto uma obrigação. Pois ler, no contexto em que a maioria esta inscrito, não é algo dotado de metas a serem batidas ou calendários a serem cumpridos. Livros encalhados dizem algo que custamos a aceitar ouvir, que simplesmente não queremos ler aquilo ali. Tenho livros que comecei há mais de 7 anos e nunca terminei, pelo simples fato de que ler aquilo não me traz prazer algum, na verdade é um verdadeiro suplicio. E por que me esforçar para sofrer?

Um autor que já foi trabalhado aqui na coluna, Alejandro Jodorowsky, em sua tiragem de tarot de fim de ano, escreveu que dois mil e vinte e quatro é um ano de número oito, de relativa paz. Vamos aproveitar essa paz, que não se fez presente no ano que passou, para ficarmos em paz também com nosso lazer. Feliz ano novo.

Jodorowsky e seu Tarot
Jodorowsky e seu Tarot

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