Ameaça de golpe na busca de um acordão

Ameaca de golpe na busca de um acordao
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Por Christian Lynch – O número de Bolsonaro é monotonamente sempre o mesmo: repetir a mentira de que está sendo agredido, encenar que tem povo e militares ao seu lado para intimidar quem resiste à sua vontade e obrigá-la a fazer o que ele quer, sem ter de se dar ao trabalho de disparar um tiro. Tem sido assim desde o começo de sua carreira. A famosa entrevista da Veja, em que supostamente ele iria explodir bombas aqui e ali, deixa entrever que era blefe, um truque publicitário. E já então ele era dúbio o bastante para poder recuar caso fosse necessário.

Sinceramente, tudo é sempre muito grave e tal. Mas, tirando os novos figurantes, ontem só vi mais do mesmo. Bolsonaro quis“empatar” o jogo depois do encontro de Fachin com observadores estrangeiros um mês atrás. E repetiu o número de sempre, que todo mundo já sabe qual é. A imprensa cumpre seu dever em dar o alarme, condenar o absurdo da situação, na expectativa de contrabalançar as narrativas e reações contrárias. Mas substantivamente não houve nada de novo. Bolsonaro agiu com sua rotineira e previsível delinquência. Bolsonaro sendo Bolsonaro.

A obsessão de Bolsonaro é sempre com a cadeia. Ele quer continuar impune para continuar a tocar o modelo de negócios que ele criou no Brasil, a da caftinagem democrática, que passa por explorar o ódio à República para viver às custas da coitada. Seguido pelos Silveiras e Amorins. Todos os seus shows têm por fim intimidar Morais. Bolsonaro não dorme, angustiado com a perspectiva da punição. E tem o apoio dos generais aposentados, porque foram seus cúmplices nos mesmos crimes. Temem a desonra de acabar atrás das grades, presos pelos civis que tanto odeiam.

O STF é odiado por esses generais como o principal obstáculo à recuperação autoritária de poderes presidenciais. E depois de sonharem com a restauração da ditadura na democracia, eles se veem diante da iminência de perderem o poder e enfrentar ameaça de prisão. Quanta injustiça! Por esse quadro se explicam os atos de Bolsonaro e a cumplicidade de seus generais de pijama, simulando a adesão da tropa para obrigar a Justica a arranjar um jeito de ficarem no poder, fraudar as eleições em seu benefício, ou lhes darem garantia de impunidade fora do poder.

Os generais da ativa não estão nem ai para o destino de seus colegas que toparam a aventura bolsonarista e os obriga a participar da pantomima. Só terão a ganhar dando provas de legalidade ao novo governo, sendo recompensados por sua lealdade em contraste aos antecessores. Enfim, estou muito curioso, dentro dos sobressaltos, em como isso tudo irá terminar. Mas acho que não será com golpe. Será provavelmente com uma arruaça protocolar, seguida por um acordo por cima, costurado por Lira e Nogueira, arrendatários do governo, com Moraes e Rosa Weber.

Tem mais cara de Brasil, inclusive.

Por Christian Lynch