Por Pedro Bordinhão – Com a notícia de que Geraldo Alckmin poderá ocupar a vice-presidência na chapa encabeçada pelo ex-presidente Lula, muitos dentro da esquerda já começam a endossar a candidatura que acabaria por tornar-se imbatível frente a Bolsonaro.
Alckmin, que liderou por anos a frente mais à direita dentro do já de direita PSDB, e que se notabilizou por ser um dos maiores oponentes do petismo nas eleições em que disputava com força, hoje transforma-se em líder democrata, importante estrategista, personagem de peso na política nacional e, por fim, mensageiro do verdadeiro projeto de Luiz Inácio: manter sem nada alterar, envernizar para reciclar.
Fingindo não saber disso, setores da esquerda começam, no sentido de endossar a aliança, a rememorar a união de Lula com José Alencar em 2002, ano em que se iniciava o mandato petista e que, por certo, o ex-presidente necessitava de alianças dentro do campo conservador. No entanto, esquecem-se que José Alencar representava dentro do governo a ala conservadora alinhada aos industriais (já em decadência no período) e que, queira ou não, simbolizava um importante setor da economia brasileira. O mesmo pode-se dizer da aliança em 2018 entre Ciro e Kátia Abreu, que por mais conservadora que fosse, simbolizava também o setor produtivo relacionado ao agro dentro de um possível governo de reconstrução. Enfim, alianças desse tipo são possíveis e fazem sentido dentro de uma democracia fragilizada como a nossa, no entanto, Geraldo Alckmin não representa nada dentro dos setores produtivos brasileiros, apenas o que há de mais podre na política gestada em São Paulo. Alckmin é alinhado ao capital parasita e, por consequência, barriga de aluguel do fascismo bolsonarista (que mesmo com a possível vitória de Lula não deve ser extirpado da vida nacional).
Bem, então o que representa a aliança entre o ex-presidente e o ex-governador? São duas as respostas: primeiro a consumação do fracasso que simboliza o projeto petucano gestado em São Paulo, de corte ora neoliberal radical, ora neoliberal perfumado; e segundo a total alienação das classes médias progressistas do nosso país, que, desistindo de uma reversão no mínimo estrutural do quadro apodrecido de nossa república, opta por opções alienantes como a proposta pelo PT (em que não há projeto, não há declaração de intenção, não há posicionamento firme, não há aposta na mobilização popular, há apenas a figura sacrossanta de governos findos). E uso como recorte a classe média pois é ela que, sendo o setor com vias de acesso maiores aos meios de informação e, não sendo comprometida com as elites, tende a alinhar-se com maior facilidade ao campo popular (aqui exclui-se o setor reacionário e conservador dessa).
Portanto, qual a razão de apostarmos na chapa Lula-Alckmin? O medo do imprevisível? A certeza de que ao menos o mínimo será feito? A crença de que Lula transformará, da água para o vinho, o país? Ou a vontade nula de pensar em novas vias para a nação? Enfim, um novo governo Lula não estará preocupado em reestruturar o Brasil, tampouco sedimentar bases para um futuro longe de instabilidades políticas e investidas fascistas…aliás, é justamente na opção por uma chapa como essa, destinada ao fracasso (relembrem Dilma-Temer), em que o reacionarismo é gestado, na crença inabalável de que, como se fosse uma entidade mística, a “democracia” tenderia a colocar tudo em ordem por uma questão de honra e, de tempos em tempos, o capitalismo brutal brasileiro fosse se apaziguando.
Por fim, há ainda os que comparam a aliança JK-Jango com a Lula-Alckmin…bem, não me considero capaz de dissecar o cérebro de jumentos, então me absterei.
Por Pedro Bordinhão – Estudante de Geografia/UFRJ, Diretor da UEE/RJ e militante da Juventude Socialista.