O que significa a aliança Lula e Alckmin

O que significa a alianca Lula e Alckmin
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No último domingo, um jantar ao custo de R$500,00 por cabeça, cuja arrecadação foi direcionada à projeto social, reuniu lideranças partidárias e figuras da política nacional, em um claro gesto de aproximação de Lula e Alckmin e a aliança eleitoral que vai se consolidando entre esses históricos rivais políticos. Me parece simbólico um jantar caro, seleto, e a benevolência para a pobreza, que agudiza no Brasil de hoje, ao que uma aliança como essa promete continuar produzindo, se nos basearmos nos governos já ocorridos de ambos.

Fernando Haddad, articulador deste namoro eleitoral, anunciou em 2018 que simpatiza com a perspectiva liberal, desde que esta tenha uma preocupação social, e foi exatamente essa receita que o governo Lula seguiu ao longo de oito anos. Em fato recorde na história nacional, os bancos lucraram oito vezes mais em seu governo do que no de seu antecessor, chegando a quase trezentos bilhões de reais em lucros, de acordo com levantamento realizado pelo jornal O Valor Econômico.

Nem o próprio Lula tem vergonha de dizer que nunca os bancos ganharam tanto dinheiro como em seu governo, como declarou à uma televisão mexicana em julho deste ano. Contudo, o ex-presidente também brada sobre as conquistas das classes menos abastadas, dando a impressão que combateu a desigualdade social, o que, de fato, não ocorreu! No Brasil, 1% dos mais ricos tem a posse de 50% da riqueza nacional e apenas cinco pessoas possuem a fortuna equivalente ao que possuem as cem milhões de pessoas com menos recursos do país. Somos a maior concentração de renda dentre as principais economias do mundo, não cobramos impostos sobre lucros e dividendos, não taxarmos filé mignon, caviar e salmão, e temos uma das maiores taxas reais de juros do mundo. É inadmissível uma realidade como essa após tantos anos de um governo progressista, que nada se afasta da proposta de país dos declaradamente liberais, como o tucano Geraldo Alckmin.

Por 12 anos como governador do estado de São Paulo, apesar de um semblante que passa a ideia de bom moço, a marca deixada por este político foi o sucateamento da educação pública e métodos autoritários com profissionais da educação e suas instituições, como as denúncias da APEOESP às tentativas do governo de inviabilizar financeiramente o funcionamento da entidade, ou as práticas violentas e repressivas às organizações de professores nas reivindicações da categoria. Com uma média de 45 alunos por classe e ocupando apenas a décima posição nacional de remuneração docente, de acordo com dados do Observatório da Remuneração docente, da Faculdade de Educação da USP, sob governo Alckmin e PSDB, a educação paulista passou por processos severos de sucateamento.

Mas o autoritarismo e a repressão não ocorreram apenas com os profissionais da educação. Um verdadeiro genocídio da juventude negra ocorre no estado de SP, sob comando tucano há décadas. Logo no início de seu primeiro mandato Alckmin declarou: “Em São Paulo, bandido tem dois destinos: prisão ou caixão”. Dito e feito. Um estudo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) mostra que entre 2010 e 2011, por exemplo, 61% das vítimas assassinadas pela PM paulista eram negras, 97% eram homens e 77% tinham idade entre 15 a 29 anos.

Em artigo recente de Fausto Salvadori, o jornalista pontua a política genocida do governador Geraldo Alckmin e cita fala de um Secretário de Segurança Pública na gestão Covas, em que diz acreditar que no governo Alckmin a ordem para a PM matar voltou a ser como era no governo de Antonio Fleury Filho.

Esses são apenas exemplos que marcam a forma de governar de Lula e Alckmin e seus projetos que mais se assemelham que se distanciam. Qual o custo para a população nessa volta ao passado, em um presente que cada vez mais leva nosso povo para o fundo do buraco, no sentido subjetivo, mas também no literal? Não podemos admitir que um projeto nefasto como o que se desenha é a solução para o país, enquanto terceira via. Essa é a via sendo praticada na república brasileira há muitos anos, que mata a população preta e pobre e maquia a sujeira com políticas sociais que nada modificam as estruturas da desigualdade. Estamos vendo, lamentavelmente, o prenúncio do neoliberalismo com preocupação social mais uma vez determinar nossas vidas e mortes.

Por Marisa Demarzo

Professora, Doutora em Educação, mãe, e vice-presidente do PDT de Praia Grande-SP