A saída da Ford

A Ford está saindo do Brasil. Ao se aproximar a data de demissão dos últimos 5 mil funcionários, os artigos e matérias nos jornais se avolumam.
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A Ford está saindo do Brasil. Ao se aproximar a data de demissão dos últimos 5 mil funcionários, os artigos e matérias nos jornais se avolumam.

De um lado, dois economistas desenvolvimentistas, Nelson Barbosa e Nelson Marconi, de outro um economista liberal, Samuel Pessoa, e um editorial de Valor lamentam o fato.

Mas, afinal, o que dizem todos é que a indústria automobilística, embora excessivamente onerada com impostos, é compensada com subsídios, de forma que decisão da Ford decorre de má administração?

Será verdade, ou antes, desde o célebre acordo automotivo de 1995, foram criados incentivos de cerca de 35% que impediram que acontecesse com as montadoras o que aconteceu com o resto da indústria brasileira: fosse liquidada.

A indústria de transformação passou por violenta desindustrialização porque, a partir de 1990, o Brasil deixou de neutralizar a doença holandesa – e a indústria passou a enfrentar uma grande desvantagem competitiva.

A neutralização da doença holandesa era feita intuitivamente através de elevadas tarifas de importação e elevados subsídios à exportação de manufaturados. Em 1990 as tarifas foram radicalmente baixadas e os subsídios, eliminados.

O acordo automotivo de 1995 salvou as montadoras. Mas como não se sabia que estavam assim neutralizando a doença holandesa em relação ao mercado interno, quando começou a pressão liberal, a resistência das montadoras foi pequena.

E assim estamos acabando com a indústria automobilística no Brasil. Há muito perdemos a capacidade de exportar, e à medida que caíram as tarifas, as empresas deixaram de ser competitivas internamente.

Sempre se pode dizer que o problema é a incompetência da Ford, mas é assim que nos auto-enganamos.

Escrevo esta nota para fazer um apelo aos jovens economistas. Façam pesquisa para confirmar ou rejeitar o que estou afirmando. Eu sei que o momento não é bom porque desde 2014 a taxa de câmbio está competitiva.

Mas ninguém se engane. Está competitiva porque os preços das commodities caíram, porque a taxa de juros caiu, e porque os investidores estrangeiros perderam confiança no Brasil.

Por: Luiz Carlos Bresser-Pereira.