Xi Jinping expurgou a burguesia no 20º Congresso do PCCh, e não Hu Jintao

Xi Jinping expurgou a burguesia no 20º Congresso do PCCh, e não Hu Jintao
REUTERS/Tingshu Wang
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O 20º Congresso do Partido Comunista da China (PCCh) termina com uma surpreendente formação do Comitê Central. Claro isolamento de uma chamada “ala liberal” e carta branca à construção de “people-centered economy”. Outros elementos devem ser destacados.

Claramente uma mudança de eixo do poder do país de Xangai e Guangdong à própria burocracia do PCCh. Esta disputa interna é antiga e somente após a completa retirada de cena do quase centenário Jiang Zemin essa questão começou a se encaminhar em prol da burocracia partidária.

Evidente que isso tudo traz consequências. A burguesia interna perde ainda mais força, seu isolamento se acentua a olhos vistos. A política externa não muda com a manutenção do ministro de relações exteriores Wang Ming no Comitê Central.

Se aprofundará políticas de combate à corrupção, taxação de grandes fortunas e elevação da dominância das formas públicas de propriedade. Giro à “esquerda’. A meu ver trata-se de uma forma binária de tratar as questões de poder na China. O que o ocorre é a necessidade de tomar de determinadas decisões que não faziam sentido há vinte anos atrás, mas faz no atual momento. Deve se acirrar a luta de classes no país com os trabalhadores ocupando ainda mais espaço no bloco histórico de poder que chegou ao poder em 1949.

Em dez anos 150 milhões de camponeses, com DNA taoísta e rebelde tornaram-se operários urbanos radicalizados. A China é o país onde tanto se faz mais greves no mundo quanto os salários têm crescido acima do PIB, inflação e produtividade do trabalho.

A composição do Comitê Central ao privilegiar uma presença imensa de cientistas sinaliza ao mundo o crescente poder e papel destas figuras em um país que está sendo proibido de acessar linhas de suprimentos de infraestruturas de semicondutores. O próximo período de cinco anos serão cruciais.

Hu Jintao não tinha nenhum cargo no PCCh, não liderava nenhuma oposição interna e, como Xi Jinping, combatia a ala de Xangai. Além disso, a desinformação é tamanha que não se presta a atenção a um fato. Hu Jintao nunca foi um “reformista”. Ao contrário ele iniciou todas as políticas que foram aprofundadas por Xi Jinping. Não faz sentido atribuir “oposição a Xi” este episódio. Acadêmicos no ocidente tem a mania de se igualar a jovens jornalistas disputando espaço dentro de uma redação. Pegam a hipótese mais fácil e jogam à plateia.

Só para lembrar: Nem Mao Tse Tung fez isso, que estão a dizer que Xi Jinping fez com Hu Jintao, com Liu Shaoqi nos momentos de maior divergência entre ambos. História é tudo.

Decisões deste 20° Congresso irão afetar o mundo, e em especial, o Sul Global de forma definitiva. O eixo do mundo está mudando. No ocidente, descarta-se o essencial para se fixar na foto.