‘Vale o escrito’: nova série da Globoplay sobre o Jogo do Bicho

Vale o Escrito nova serie da Globoplay sobre o jogo do bicho
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Estou assistindo “Vale o escrito”, a série da Globoplay sobre o Jogo do Bicho. Mais dois episódios e termino a primeira temporada.

É ainda melhor que a série sobre o Castor de Andrade, que se focou principalmente na parte folclórica de um dos mais folclóricos e populares banqueiros do Bicho. Podiam fazer alguma coisa parecida com o Piruinha, também ia ficar show, os momentos em que esse senhor de 93 anos de idade aparece na série dando presentes diários para a comunidade, distribuindo doces no dia de São Cosme e Damião, tomando chopp cercado de mulatas etc. são impagáveis.

Mas ”Vale o escrito” tem outra linha narrativa. Se concentra nos conflitos internos de algumas das principais famílias de Bicheiros pra mostrar a natureza mafiosa do ”Clube Barão de Drummond”. A série se concentra nas disputas da família Garcia [de Miro e depois seu filho Maninho, com alguma influência do mítico “Tio Patinhas”, que controlavam a Zona Sul e a Zona Norte nobres do Rio] e da família Andrade [a luta pelo espólio do Castor de Andrade] pra compor uma rede de intrigas, ressentimentos, violências, e autodestruição.

E ainda tem tempo de tratar de Adriano Nóbrega, o Capitão Adriano, personagem que se tornou símbolo da ascensão das milícias à política por ter vínculos diretos e indiretos com os Bolsonaro. Pouca gente sabe, mas o ‘miliciano’ Adriano, líder do ”Escritório do Crime” — um esquadrão da morte de ex-policiais que era usado por mafiosos em suas pendengas–, era antes de qualquer coisa um Bicheiro.

É uma abordagem pra lá de fascinante. As pessoas se entretém com filmes da máfia ítalo-americana, séries sobre a Camorra italiana, a Yakuza japonesa, as organizações russas. Mas as famílias mafiosas do Brasil, os Bicheiros, dariam produções e mais produções do gênero. Claro que sempre se corre o risco de glamourizar aquilo que, infelizmente, já é glamourizado demais na sociedade.

Muita gente vê os Bicheiros com simpatia. Na verdade, transferem a admiração que tem pelo simpático e popular jogo para os chefões que o monopolizam pela ausência de regulação do Estado. Mas os Bicheiros são o mais verdadeiro e palpável crime organizado brasileiro.

É um império de jogatina, com cassinos e bingos clandestinos, boa parte deles voltado para a elite, espalhados por toda a América Latina. Suas atividades envolvem contrabando pela fronteira, incluindo aí o de armamento pesado, tráfico de atacado, prostituição, extorsão, assassinato de aluguel, investimentos imobiliários fraudulentos, e todo o tipo imaginável de lavagem de dinheiro. Sua proximidade com o poder é notória, dando mesadas para as polícias e o Poder Judiciário, além de amizades político-partidárias com os altos escalões do poder.

Não são apenas os bicheiros cariocas — como Rogério de Andrade, Anísio e Capitão Guimarães — que estão no topo da cadeia de predação do crime organizado: Ivo Noal, de São Paulo, e Carlinhos Cachoeira são nomes notórios que construíram verdadeiros impérios com braços em diversos setores da economia, até mesmo no sistema financeiro.

Perto dessa máfia, o tráfico de varejo em favelas fica parecendo às vezes brincadeira de criança.