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Política é uma coisa muito mais intrincada do que usualmente já se pensa ser. Muitas vezes, os polos de uma disputa se unem no esforço de evitar o surgimento de outros campos que mudem a configuração do jogo político. É assim que os supostos arquirrivais Republicanos e Democratas estão sempre unidos para impedir a mudança do sistema eleitoral e partidário nos EUA. É assim que no Brasil, os sócios da era neoliberal, PT e PSDB, tentaram transplantar para cá o sistema norte-americano e impedir uma terceira via.

Hoje, temos novos sócios tentando implantar uma nova polarização no Brasil. Ao contrário da anterior, que era uma sociedade democrática e racional de centro para gerir a hegemonia neoliberal, a atual é uma sociedade radicalizada no discurso, e, em seus dois polos, com fortes componentes psicóticos que são muito perigosos para o país.

De um lado temos o bolsonarismo, uma turba negacionista da ciência, desumanizada, que tem um discurso eivado de patriotismo de extrema-direita enquanto patrocina o governo mais fracassado, desastroso, entreguista e servil aos interesses dos EUA de nossa história.

Do outro temos o petismo, com sua confederação de militantes que foram convenientemente radicalizados pelo partido para enfrentar a prisão de Lula. Hoje, esses se veem como pontas de lança de uma revolução bolchevique vermelha enquanto Lula promete privatizar a Caixa e colocar Renan de vice e Meirelles no comando da economia.

Esses dois polos pagaram suas penas de aluguel e suas blogosferas para impor ao Brasil o discurso de que não há espaço para a terceira via. O discurso é tão inverossímil quanto radicalizante. Na verdade, o núcleo duro dos votos de Lula e Bolsonaro hoje são os 20% onde gravitavam antes da liberação de Lula para concorrer. A inflada para a casa dos 30% do último mês era totalmente esperada e vem do efeito da polarização, o “TINA” (There is no alternative). No mundo real, o mesmo onde eles têm essas intenções de votos, cerca de 60% dos eleitores preferiam nem Lula nem Bolsonaro como futuro presidente (O que inclui parte dos que hoje indicam seus nomes), e mais de 50% dos brasileiros quer Lula preso.

Não é que exista espaço para a terceira via. É que existe uma avenida. E é por isso a luta contra ela. Quando um nome se consolidar nessa posição, haverá uma mudança radical do cenário eleitoral.
Não quero aqui equalizar Lula, um democrata evidente, com Bolsonaro, que é um sociopata em quem encontramos poucos traços de humanidade. Mas o problema é aquilo que suas bases acreditam que são. A primeira acreditando livrar o Brasil de um globalismo gaysista e comunista dos Rothshields que só existe num escritório da Virgínia. A segunda acreditando que Lula vai finalmente implantar a agenda que há quarenta anos simula seguir sem fazê-la avançar no concreto um único centímetro. Já dizia o verdadeiro bolchevique: “Na política, a prática é o critério da verdade”. Ou o verdadeiro socialista: “Pelos frutos os conhecereis”.

E nós conhecemos Lula muito bem. A tentativa de vende-lo como Biden brasileiro é um completo non sense, a não ser por sua idade avançada. Nunca é demais lembrar que Lula, por ter uma saúde mais frágil que Biden, provavelmente está tentando eleger para governar não ele, mas seu candidato à vice. Será Renan? Temer? Meirelles?

Mas a questão que importa na inadequação de Lula como “Biden” é seu perfil de agente do sistema, envolvido em corrupção maciça e líder de um governo que manteve o Brasil o paraíso dos ricos e da desigualdade.

Biden não foi o “Macron” americano. Ele não veio com o perfil moderado e liberal econômico no discurso que Lula tenta montar e a imprensa simula que o americano tem. Biden foi para as eleições com um discurso radical. Vamos recuperar o que aconteceu nos EUA e o que significa Biden para aquela nação.

Em 2016 o Partido Democrata apostou no identitarismo e na estabilidade do modelo econômico e político para vencer as eleições. Acreditavam que o simbolismo da primeira mulher presidente, como antes foi o simbolismo do primeiro negro presidente, bastaria para decidir a fatura. Por outro lado, Trump, considerado pouco menos palhaço de circo do que Bolsonaro, apostou no discurso oposto. Ele conseguiu amalgamar o politicamente correto, a abertura comercial, os gastos com guerras e o estabilishment político numa só figura, a “Killary”, e botou fogo no circo eleitoral americano.

É preciso não esquecer que Hillary na verdade não perdeu no voto popular, ela perdeu no colégio eleitoral. A estratégia do partido democrata e a força da correção política nos EUA não era nada desprezível. Mas o Partido Democrata perdeu todo cinturão azul de estados industriais dos EUA, fato preocupante e inédito.

Apesar de se manter numa candidatura do establishment, o PD apostou em uma estratégia totalmente diversa em 2020. Escolheu o “homem, branco, hétero, cis, velho, etc…” como candidato. Contemplou a força identitária com a vice-presidência, mas se afastou totalmente das pautas comportamentais, evocando valores universais identificados com a história americana. Fazendo pesado discurso reindustrializante e pró-sindicatos e classe média no cinturão azul (Michigan, Ohio, Illinois, Winsconsin), reconquistou votos tradicionais. O resultado, todos conhecemos. Mais de cinco pontos de vantagem na maior votação da história dos EUA. A força do discurso oposto também todos conhecemos: Trump perdeu tendo a segunda maior votação de um candidato a presidente na história dos EUA.

A chave para entender tanto o fenômeno Trump quanto o fenômeno Biden é a do fim da hegemonia neoliberal. Ambos tiveram que atacar (discursivamente) valores básicos desse discurso – como o livre-comércio e o antiestatismo – para se eleger. Aqui Lula faz o contrário. Ele é o representante do modelo e apresenta uma nova carta aos brasileiros para convencer a Faria Lima de que pode servi-los melhor do que ninguém.

O problema de Lula para ser a Hillary (e não o Biden) de 2016 é que ninguém mais quer o país nesse jogo de radicalismo discursivo, governo corrupto e venda do controle de seus próprios exércitos de zumbis. É difícil convencer a Globo, por exemplo, que esse Lula de hoje, cheio de ódio, vai segurar a turba que tem na coleira, ou não vai fazer um governo de vingança contra seus verdadeiros algozes, que ele conhece muito bem e sabe que não incluem o sistema financeiro.

A estratégia neoliberal de Lula tem dois perigos simples e claríssimos para o Brasil. O primeiro é reeleger Bolsonaro, que pode manter contra Lula a narrativa de antissistema mesmo sentado no Planalto há quatro anos. O segundo é reeleger Lula, que com uma quinta traição neoliberal (2002, 2006, 2010, 2014) e um governo com o velho PMDB, causaria uma frustração tão grande e um desastre econômico tão profundo que nos legaria na sucessão (já sem condições de concorrer, se vivo) uma aberração ainda maior que Bolsonaro.

Biden, vimos em seus 100 primeiros dias, é um anti-Lula. É o presidente que está propondo as reformas mais profundas nos EUA desde Roosevelt. Nosso “Biden” não é Lula Três-pinos, mas aquele que há vinte anos luta pelas mudanças aqui que Biden está promovendo nos EUA. O nome dele todos sabem, é Ciro Gomes.

Como Biden, ele não vem para implodir o sistema político, e sim para fazê-lo voltar a funcionar. Ele não vem para fazer um governo sectário, mas para integrar a parte da elite que já aceitou o esgotamento do modelo. Ele não vem para inflamar turbas psicóticas, mas para trazer o país para a racionalidade política e dissolver a polarização.

Mas ele vem trazendo outra, e a verdadeira polarização que está por trás da história política desse país. Essa é entre o desenvolvimentismo, que fez do Brasil o país que mais cresceu no século XX, e o neoliberalismo, que com suas sucessivas reformas e aprofundamentos desde Collor fez do Brasil a nação mais fracassada do planeta nos últimos trinta anos.

Como dizia Barbosa Lima Sobrinho, só existem dois partidos no Brasil: o partido de Tiradentes e o partido de Joaquim Silvério dos Reis. E o partido de Tiradentes está de volta. Tem espaço. Tem candidato. E vai vencer. Tem que vencer. Ou essa terá sido a última eleição da história de nossa nação.

Sem Ciro agora, em 2026 só poderemos eleger o governador do Brazil. Se muito.

***

Nesta segunda-feira, 03/05 às 20h00, estreia o Questão Nacional com os convidados Gustavo Castañon e José Fernandes do Portal do José para falar sobre a pandemia e a crise política do Brasil. Acione o lembrete e não perca:

  1. esse Castañon é muito fraco! Que texto mixuruca pra um professor de filosofia de univerdade federal. Laudatório, sem análise.

  2. Caro Gustavo, como vc mesmo afirma, a política é algo bastante intrincado. Por isso, não esqueçamos que, de posse do seu habitual pragmatismo político, boa parte das elites brasileiras já pode ter feito sua escolha de qual candidatura vai alavancar para vencer em 2022.
    Pensando no momento e pragmaticamente parece que essa escolha recai, hoje, sobre o cavalo que reúne mais chances de derrotar Bolsonaro: Lula. No mínimo, ele já conhece a pista e, a última queda, tudo leva a crer, não tornou-lhe um pangaré manco.
    Não foi à toa que a edição do Jornal Nacional, do dia primeiro de maio, reservou para Lula 25 segundos de discurso no ar.
    A Globo não faria isso de graça. Ela sabe pelo que está passando: nos governos de Lula, apesar das bravatas, ela nunca teve que demitir seu plantel de profissionais, muitos, inclusive, pagos para ficar em casa, evitando assim contratar com a concorrência. Ela não pode esperar muito, nem arriscar demais. Ela e outros veículos e negócios precisam sair da situação em que se encontram o mais rápido possível. Sob risco de uma derrocada irreversível.
    Por outro lado, pela experiência e esperteza histórica de tais elites, elas só rivitalizarão Lula depois de deixá-lo totalmente amarradinho, amarradinho, como dizia Zeca Diabo.
    De preferência, acredito, com papel assinado de gaveta, caso precisem puxar as cordas no futuro.
    É uma jogada arriscada, admito, mas, nesse tipo de política, apostar boa parte das fichas em uma determinada crença que se ache vai trazer o retorno esperado, é o que verdadeiramente interessa.
    Lula, como se diz no popular, “deve está piabando” por uma oferta desse tipo. É, talvez, a última chance que tem, não digo de limpar totalmente, mas de mitigar os enormes prejuízos já assinalados na sua biografia histórica.
    Então, diante do cenário político atual, acredito, ele se encontra envolvido por aquele habitual paradoxo: é pegar ou largar!

    Olhando rapidamente pelo seu passado político, existe ainda uma viva alma que acredite que Lula vai rasgar um contrato como esse, que, pelo andar da carruagem, parece estão a acenar-lhe?

  3. Parabéns pelo artigo! Também acredito que temos uma terceira via que o Ciro representa muito bem em seu projeto para o Brasil. Aliás, ele é o que sempre apresenta as possíveis soluções para a trágica realidade que enfrenta o nosso país em todos o setores.

  4. O texto incia criticando justamente a falta de terceira via do pleito americano…e a conclusão é se espelhar no partido Democrata? Agora a onda é disputar quem é mais parecido com Biden? Lula ou Ciro? Palhaçada.

  5. Muito bom o texto e concordo que Ciro Gomes é a 3 via. Precisamos de mudança, nem a volta do passado corrupto e com crise financeira do PT e nem a continuação do presente com o Bolsonaro e suas crises econômicas, de saúde pública e política contra o STF. Muda Brasil!

  6. Parabéns pelo artigo, Guilherme!
    De uma visão progressista muoto clara e didática.
    Não sei se o Ciro Gomes ocupará este espaço de 3a via, mas é seu o meu voto para esta possibilidade.
    Forte abraço!

  7. Eu gostei muito das reflexões de Gustavo Castanon.

    Para leitores que estão presos nas análises eleitorais e de conjuntura feitas por encomenda pelos blogues partidários das forças polarizantes, se deparar com outras variáveis e fatos, como os deste artigo, provoca de imediato uma atitude reativa, levando à negação das reflexões feitas aqui por Costanon.

    A reação ao artigo, seja por leitores que, querendo ser ‘de esquerda’ e cultivando Lula como Mito, já foram radicalizados pelos blogues das correntes do PT que acham que são marxistas e que conhecem o trabalho de Marx; seja por leitores bolsonaristas que absorveram ideologismos tolos, mas perigosos, de canais da internet controlados pelo seu também Mito, ambas são reações negacionista que representam o desejo transformado em crença pela fanatização desses petistas e bolsonaristas.

    Os fatos e os dados mesmos sobre as campanhas e os candidatos estão sendo debulhados agora. A inconsequência populista do PT entre 2007 e 2016 já foi decantada, com o recuo da popularidade do se Mito, que se estagnou em uma aceitação eleitoral entre 25 e 30%. Considerando que Lula é o nome eleitoral de maior lembrança, fosse Lula a 1ª opção do eleitor antibolsonarista o seu nome já teria alcançado números eleitorais maiores que 50% de aceitação. Isto não ocorreu. Lula, quando muito, mal passa de 30% nas pesquisas que lhe são mais favoráveis.

    No correr da campanha, com outros nomes se apresentando e sendo divulgados, essa aceitação de Lula irá recuar mais um pouco. Como Lula não pode arriscar uma derrota nas próximas eleições, que o irá colher, ao final de 2022, frente a um novo julgamento em 2ª instância das acusações a que responde na justiça caso seja condenado novamente em 1ª instância pelos mesmos crimes a que já foi condenado, só que agora não mais em Curitiba, mas em Brasília, a sua condição ética e moral fragilizada pela eminência de nova condenação poderá até mesmo levá-lo a não manter a candidatura, renunciando para dar apoio a candidato menos desgastado, que poderá ser o Haddad, ser um outro nome do PT ou até mesmo um candidato de outro partido.

    A renovação das condenações de Lula é a situação mais provável. O ex-juiz Sérgio Moro, que o julgou e condenou inicialmente, não inventou ou falcificou as provas que usou para condená-lo, tendo incorrido tão somente em descumprimentos de ritos processuais acessórios, sendo suas medidas decisórias anuladas pelo STF devido a esses descumprimentos de ritos processuais. Sérgio Moro, portanto, não é um juiz ladrão, como os blogues sujos do Lula divulgam. Tratar o ex-juiz assim não passa de mais uma desonestidade coletiva do PT que só faz aumentar a raiva do eleitor não petista contra a sigla. Sérgio Moro cometeu irregularidades processuais sim e a anulação de seus atos decisórios pelo STF foram corretas, para que Lula, como qualquer outro réu tem direito, passe por um novo julgamento, desta vez absolutamente correto, desejamos. Mas a manipulação que o PT faz dos fatos é que são desonestas. Com a nova condenação, se de fato ocorrer, desta vez com as irregularidades processuais cometidas por Sérgio Moro saneadas, será impossível a Lula e ao PT prosseguirem com a narrativa da perseguição política. Com nova condenação, mesmo os militantes fanatizados pelos blogues sujos petistas, em boa parte, irão acordar para os fatos e admitirem a corrupção petista. Quanto ao desastre econômico, com as consequências sociais a ele associadas e que levaram à eleição do bolsonaro, como o desastre econômico é difícil explicar a esses petistas fanatizados, o discurso de golpe e de que os culpados pela crise econômica são os outros eles continuarão a fazer. Até porque se escondem dos próprios erros acusando Temer, bolsonaro e outros pela crise, embora Temer e bolsonaro possam ser acusados mesmo, mas apenas de não terem resolvido a crise econômica que herdaram. Mas o criador de fato da crise econômica foi o PT. Esvaziado, Lula não arriscará uma derrota para bolsonaro ou para qualquer outro candidato.

    Se existe a possibilidade, portanto, de Lula nem ser candidato em 2022, o mesmo pode ocorrer com bolsonaro. O agravamento da crise sanitária e da crise de desemprego pode levá-lo a grande perda de popularidade, impedindo sua reeleição. Já é bem surpreendente que um político comprometido com a morte de seus próprios eleitores conserve popularidade tão grande como bolsonaro conserva, mas fazer tudo errado e mesmo assim ser mitificado por seus apoiadores é um fenômeno conseguido por políticos ou religiosos como os populistas Lula e bolsonaro.

    Não vou me surpreender se acontecer de, nas eleições de 2022, nem Lula, nem bolsonaro estiverem no 2º turno. Mesmo a candidatura Ciro Gomes pode acontecer de ser retirada, só que a retirada se daria por alguma necessidade político-eleitoral no Ceará, e não por mal-feitos. A julgar pelos fatos de hoje, acho mais provável que a candidatura de Ciro seja mantida é que ele seja um dos finalistas em 2022. E também acho que contra Lula, contra bolsonaro ou contra qualquer outro candidato, ganha Ciro.

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