Taxação de grandes fortunas: um ato de proteção à vida

Taxação de grandes fortunas um ato de proteção à vida
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Por Neudes Carvalho e Nicole Macedo – Novo relatório da Oxfam demonstra como bilionários lucraram durante a pandemia às custas de milhões de pessoas lançadas na pobreza.

A pandemia que trouxe sofrimento, fome e diversas privações sociais para a maior parte da humanidade, foi um dos melhores momentos da história para a classe dos super-ricos, que hoje somam 2.668 bilionários, desses, 573 se fizeram de 2020 para cá. Juntos, eles possuem uma fortuna estimada em US$ 12,7 trilhões, representando 13,9% do PIB global.

E é em meio ao aumento exorbitante das fortunas desse pequeno grupo de pessoas, que assistimos a um aprofundamento da já conhecida e discrepante desigualdade, que em 2022 tende a piorar, com a projeção de que um milhão de pessoas sejam empurradas para a extrema pobreza a cada 33 horas, quase a mesma velocidade que se fez um novo bilionário durante a pandemia (um a cada 30 horas). Ou seja, o tempo que levou para se fazer um novo bilionário durante a pandemia é praticamente o mesmo que pode levar um milhão de pessoas a viver na extrema pobreza esse ano.

É isso que mostra o novo estudo da Oxfam Lucrando com a dor, lançado em 22 de maio, às vésperas do encontro presencial do Fórum Econômico Mundial em Davos (Suíça).

O estudo ainda revela que enquanto a concentração de renda avança, principalmente nos monopólios das famílias ligadas aos setores de energia, alimentação, tecnologia e medicamentos, as pessoas comuns sofrem com a alta nos preços de produtos básicos, desde o arroz e feijão ao gás e eletricidade. O relatório ainda destaca que os salários dos trabalhadores e trabalhadoras ficou estagnados, o que impôs as famílias assalariadas o corte nos gastos com saúde e educação, por exemplo, para garantir a comida do dia a dia.

Em outras palavras, em um momento de crise sanitária, as grandes corporações estão lucrando de forma desproporcional e às custas do profundo declínio na qualidade de vida da maioria da população. Podendo essa combinação entre pandemia e aumento no custo de vida, fazer com que até 263 milhões de pessoas estejam na extrema pobreza em 2022, desfazendo décadas de combate à fome e progresso social.

Nesse cenário desolador, se torna urgente ações que visem evitar que a desigualdade dispare ainda mais e aprofunde o drama da fome, da falta de moradia, de acesso à água potável, saúde e educação, sendo para isso, imprescindível que os nossos tomadores de decisão se unam em torno de um pacto progressista de taxação de grandes fortunas, visando conter a desmedida concentração de renda, e utilizar esse dinheiro para proteger as vidas das pessoas comuns, reduzir a desigualdade e proporcionar o resgate do respeito a dignidade humana.

Além desse aspecto, conter a concentração de renda extrema é também uma medida que visa salvaguardar o nosso sistema político, pois, ao concentrar riqueza, concentra-se também poder, que pode ser usado de formas inimagináveis com o intuito de corromper ou enganar a opinião pública, por exemplo.

Ainda, cabe destacar que além das disparidades de riqueza e renda, a pandemia fez agravar as conhecidas e, por vezes negligenciadas, desigualdades de gênero e raça. Esses dois grupos foram afetados de forma desproporcional e mais duradoura, com milhões de mulheres não conseguindo retornar para o mercado de trabalho, devido ao aumento do trabalho não remunerado (cuidado doméstico) por exemplo, e os grupos racializados representando as maiores taxas de morte pela covid e os menores salários nessa retomada dos empregos.

Frente a essa indecente realidade, onde super-ricos e oligarcas poderosos lucram com o sofrimento e a privação dos direitos básicos de milhões de pessoas, a ação mais imediata e significativa que os governantes devem implantar nesse momento, é a taxação dessas imensas fortunas. Precisamos abolir o consenso neoliberal e frear o lucro desenfreado desses 2.668 bilionários, lucro esse ancorado no aprofundamento da desigualdade que tira das famílias o acesso a três refeições, a água potável, a um atendimento hospitalar e a uma sala de aula para educar os filhos e netos.

A redução da desigualdade precisa ser o nosso Norte como humanidade, e a saída deve ser estrutural e não mais com medidas paliativas, ou seja, com a realização de uma reforma tributária justa e eficaz, garantindo que o dinheiro seja investido na proteção universal dos direitos sociais, protegendo as pessoas, protegendo a vida e a dignidade humana.

Neudes Carvalho – Presidenta Estadual do Movimento Negro PDT SP, Pesquisadora Futuro do Trabalho e integrante da Bancada Trabalhista

Nicole Macedo – Integrante da Bancada Trabalhista

Referência
Oxfam. (2022). Lucrando com a dor.