A cultura é um direito de todos

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Leandro Altheman Lopes – A polêmica causada pelas denúncias de superfaturamento na contratação de cantores sertanejos por prefeituras, incendiou as redes sociais nos últimos dias expondo as contradições da ‘política cultural’, se é que assim possa ser chamada, do governo Bolsonaro.

O problema é que no afã de expor essas contradições, o grupo político, ora na oposição, busca se eximir da sua própria responsabilidade na condução da política cultural do país quando, recentemente, ocupou esse mesmo espaço de poder.

A sobrevalorização dos cantores de um subgênero específico do sertanejo é apenas a ponta do iceberg de um problema anterior e mais profundo. Para além da identificação do bolsonarismo com a atividade agropecuária, há aí uma política deliberada de se contrapor a outros estilos musicais e artísticos. Um dos resultados dessa política é o sufocamento de outros segmentos representativos da diversidade cultural do país.

A questão é que não foi o bolsonarismo que inaugurou uma política cultural com essas características. Inclusive, parte das críticas que alimentou o crescimento do bolsonarismo, se deu justamente em cima da política cultural praticada durante os governos petistas.

Nos últimos anos dos governos petistas foi sendo consolidada no meio artístico e cultural do país, a noção de que obras e artistas mais alinhados com a agenda do progressismo cultural cosmopolita defendido pela esquerda, eram mais beneficiados por recursos, em detrimento de outras.

Tais queixas puderam ser ouvidas por exemplo, no teatro, onde obras alinhadas com essa agenda cultural internacional foram beneficiadas.

Na área musical, as queixas foram outras, como por exemplo de que artistas regionais recebiam cerca de 1% do recurso destinado a cantores supostamente ‘nacionais’. Ou seja, quando tiveram a oportunidade, os governos petistas simplesmente reproduziram as mesmas distorções do mercado fonográfico.

Contudo, ainda que o bolsonarismo tenha se constituído a partir da crítica às políticas culturais dos governos petistas, é atado por sua incapacidade técnica e política de propor algo novo, que pudesse valorizar a cultura nacional de modo generoso e democrático com o grande e expressivo conjunto da diversidade cultural brasileira.

Isso se deve, em grande parte, a própria natureza ideológica do bolsonarismo. Alimentado pelos princípios da ‘guerra cultural’, ele não está interessado em promover os valores de nossa rica cultura nacional, mas de contrapor uma agenda de um progressismo cosmopolita internacional, com outra agenda do conservadorismo internacional, inspirado sobretudo nos valores do protestantismo tal qual praticado no ‘bible belt’ do sul dos EUA.

Nada poderia ser mais estranho à realidade cultural brasileira, criada no seio do nosso cristianismo sincrético e tropical.

Por Leandro Altheman Lopes

Publicado pela Frente Sol da Pátria