Sérgio Moro resiste até a campanha?

Sérgio Moro resiste até a campanha
Brasília/DF. 02/07/2019 - O Ministro Sergio Moro durante depoimento na CCJ da câmara. Foto Lula Marques
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No final do ano passado, antes da entrada de Sérgio Moro, o cenário eleitoral apresentava o seguinte quadro: Lula na frente com cerca de 45% dos votos; Bolsonaro atrás ao redor dos 25% (um péssimo número para um presidente em exercício); Ciro em terceiro ao redor dos 9%. Quando Moro se filia ao Podemos e lança sua pré-candidatura, é tido como a grande novidade para romper a polarização com grande apoio da mídia, que praticamente segurou a sua vaga enquanto “terceira via natural” enquanto ignorava a posição de Ciro Gomes em terceiro por todo o ano de 2021. A empolgação foi tanta que chegaram a cravar que Moro iria passar Bolsonaro em fevereiro. Pois bem, parece que a empolgação passou.

Saiu essa semana mais uma pesquisa CNT/MDA e ela veio como um balde de água fria na pré-candidatura de Sérgio Moro, sedimentando uma tendência de queda já observada por outros institutos (com a exceção do estranhíssimo Poderdata). Moro, que vinha em tendência de alta e tinha 8,9% em dezembro, caiu quase 3% e fez 6,2% na pesquisa divulgada hoje. Para piorar a situação, sua rejeição aumentou expressivos 5,5%, chegando a 58,2% da amostra respondendo que não votaria em Moro de jeito nenhum. No geral, o potencial de voto (votaria com certeza + poderia votar) caiu 3,7%, sedimentando um sentimento de que a candidatura de Moro já deu o que tinha que dar. O resultado da pesquisa de hoje foi tão impactante que o portal O Antagonista, apoiador ferrenho do ex-ministro de Bolsonaro, sentiu o impacto e chegou a colocar em xeque a própria metodologia das pesquisas, indicando que estes números não fariam sentido.

Como se não bastassem os dados ruins apresentados acima, o ex-juiz ainda viu Ciro Gomes ultrapassá-lo, crescendo 2,8% e reduzindo a sua rejeição em 3%, ocupando o terceiro lugar isolado nas pesquisas, complicando o discurso de terceira via que era o principal mote de campanha de Moro. Como sustentar um discurso de terceira via “contra os extremos” se nem em terceiro lugar Moro está mais? Nesse caso, o que explica a queda de Moro e qual será seu destino?

Das quatro principais candidaturas com recall, Moro era a única que poderia disputar com mais força na raia bolsonarista, mas a leitura errada do cenário e as deficiências do próprio candidato falaram mais alto. A campanha de Moro cometeu um erro em apostar com mais força em um discurso “nem-nem” para tentar herdar votos de quem não quer um segundo turno entre Lula e Bolsonaro, mas faltou o principal: um candidato. Sérgio Moro, a partir do momento em que começou a apresentar suas ideias, simplesmente reduziu seu discurso político a uma série de platitudes e obviedades sem qualquer conteúdo programático. A fala de Moro sobre o combate à pobreza no Canal Livre, da Band, expõe com bastante força a fraqueza de ideias do candidato. Em um cenário como o atual, como empolgar o eleitor para furar a barreira da polarização repetindo obviedades?

Nesse caso, o que sobra para Sérgio Moro e para quem tenta furar a polarização entre Lula e Bolsonaro? Para Moro, só existem duas alternativas: uma mudança completa na pré-candidatura, o que esbarra nas limitações do candidato; caso contrário, sobra a tentativa de buscar uma vaga no legislativo (seja pelo Paraná como deputado ou por outro estado como senador) enquanto ainda consegue preservar algum capital político. Para as outras candidaturas, sobra a lição de que não vai ser possível furar a polarização com platitudes vazias e sem um projeto claro para o Brasil.
Ainda sobre o último ponto, salta aos olhos a rejeição de João Dória, batendo 66% dos entrevistados. O “Bolsodória” está cobrando seu preço. Ao grudar sua imagem na de Bolsonaro, Dória ganhou um bilhete de ouro para o Palácio dos Bandeirantes em 2018, mas entregou todo o seu capital político ao bolsonarismo, que agora o odeia.

Diante desse cenário, que lição pode tirar os postulantes a romper com a polarização? A tal “candidatura de terceira via” só vai empolgar se conseguir encantar a juventude brasileira com um programa de transformação verdadeira e com muita militância. Enquanto as principais máquinas partidárias vão ser divididas entre o lulismo e o bolsonarismo, o que resta é o trabalho de base bem feito nas ruas e nas redes a partir de um programa que dialogue diretamente com os anseios do brasileiro batalhador. Ainda assim, será difícil, mas não há outro caminho.