A Semana de Arte Moderna e a contestação chique

A Semana de Arte Moderna e a contestação chique ruy castro gilberto maringoni-min
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RUY CASTRO PRODUZIU um artigo surpreendente para a Folha deste domingo. Munido de informação e argumentação consistentes, o autor de “O anjo pornográfico” coloca em questão o alcance da Semana de Arte Moderna de 22 e seu caráter elitista e localizado, que cresceu à sombra de releituras variadas feitas no meio século que a sucedeu.

O evento reuniu artistas diversos – alguns de enorme talento – no Theatro Municipal de São Paulo e é tido como uma espécie de marco fundante do Brasil contemporâneo no terreno da cultura. Aqueles três dias de fevereiro há cem anos teriam – com penas, acordes e pincéis – nos tirado do academicismo afrancesado das artes plásticas de então, do beletrismo empoeirado de nosso parnasianismo e do artificialismo romântico de José de Alencar (os jovens elegantes da metrópole do café parecem ter abstraído a existência de João do Rio e de Lima Barreto, entre outros). Mutatis mutandis, é mais ou menos o que alguns criadores da bossa nova achavam de seu movimento em relação à produção musical brasileira anterior.

O grande personagem paulista da Semana foi Mário de Andrade, não apenas pela produção literária e pelo talento musical, mas por sua ação como pesquisador musical e de folclore. Macunaíma – lançado seis anos após a Semana – é um marco definidor na literatura brasileira. Assumiu também o lado prático da vida cultural ao ser nomeado primeiro titular do Departamento de Cultura e Recreação da Prefeitura Municipal de São Paulo (1935). Era um órgão mais abrangente que a atual Secretaria Municipal de Cultura, pois tinha sob sua responsabilidade também a gestão de parques públicos e a criação dos primeiros parques infantis da cidade (atuais Escolas Municipais de Educação Infantil).

Mas Castro não se restringe a isso, e dedica a maior parte de suas linhas às ligações dos principais personagens da Semana com a oligarquia do café-com-leite. É o caso do mais ruidoso dos promotores, o – a meu ver – sempre superestimado Oswald de Andrade, ele mesmo herdeiro de grossa fortuna.

Juntamente com a admirável reportagem de Mino Carta sobre o cinquentenário da Semana – publicado em janeiro de 1972 na revista “Realidade” – o artigo de Ruy Castro é uma importante contribuição para se avaliar o alcance daqueles antigos e apimentados dias no centro de São Paulo.

  1. Sinceramente, não li o artigo do autor a quem, você, Maringoni, indica leitura, mas com base no que você diz e comenta, faço algumas contestações.

    O autor e você nas suas linhas menciona o fato de que a Semana de Arte Moderna de 22 tinha um cárater elitista. Imagino que esteja se referindo ao caráter dos artistas envolvidos e talvez em relação ao conceito artístico envolvido, no que então eu pergunto: em algum momento a arte não foi elitista? Em algum momento da história da arte ela não foi formada, produzida, pensada e concebida pelas pessoas do mais alto estrato social? Alguém acha mesmo que Bethoveen, Mozart, Michelangelo, Aleijadinho, Rodin, Tom Jobim, etc, viviam de quê? De caridade? Sem serem alguém de uma família de bom nível financeiro, cultural e que lhe estimule às artes, duvido muito que essas figuras tenham chegado aonde chegaram. Em qualquer lugar do mundo, arte custa caro, porém muito mais caro ainda é ela não existir, não se difundir e não ser concebida, esse preço é muito maior.

    Quanto ao modernismo de 22 só ter a proporção que tem depois das loas feitas 50 anos depois, esse também é um tema que terei de discordar veementemente. Primeiro, porq a arte e determinados acontecimentos em seu momento onde tal se realizam não possuem a proporção e a repercussão que mereciam ter, e só depois é que se dá o mérito e isso também não consegue se sustentar quando vemos primeiro o alarde que gerou e pela movimentação gerada nos salões de São Paulo, segundo, porq toda aquela geração e seus sucessores basicamente formarão todas as artes plásticas e toda a noção de Brasil e de identidade brasileira pela arte. Ou alguém acha que seria possível conceber o Brasil moderno sem Portinari, Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Manabu Mabe, etc?

    O levante de 22 de Copacabana e a Semana de Arte Moderna ao meu entender só podem ser comparadas e em muito casam com a Proclamação da República e a Escola do Recife: ambas partem da ideia de uma compreensão de um novo povo encaixado numa fase de sua institucionalidade apartir da Lei Aurea e da própria República, partindo de um empirismo sociológico muito profundo de não se deixar colonizar: de ser e pensar e de se dedicar ao Brasil, a partir do Brasil e pelo Brasil. E a julgar pelos “intelectuais” e “artistas” que o Brasil vem produzindo, é para ontem o lembrete dessas figuras à vida brasileira e o abismo que nos separa deles.

  2. E faltou dizer uma coisa: a história e os fatos só são importantes não são por si só, mas também se cultivamos a lembrança dos fatos do passado e de suas repercussões do presente. É nisso que o Brasil também se encontra onde se encontra na sua politica partidária: apostou – se na lei de anistia e na ideia de se contar a história para que ela não se esqueça.

    A esquerda no fim é o ÚNICO grupo político interessado em denunciar ao regime, mas também se perde na sua guetificação, no vocabulário universitário pernóstico e em discussões estéreis, além de o tempo inteiro só falar de si própria e mais ainda, se contrange diante do moralismo hipócrita da direita, que como manda a cartilha dos hipócritas, demanda dos outros as virtudes que não tem.

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