O viés racista de certo identitarismo pós pós é um problema que vai muito além de Marcelle Decothé, agora ex-assessora da Ministra Anielle Franco.
Decothé é, aliás, doutoranda de sociologia pela UFF. Isso aponta o quanto a Academia mergulhou de cabeça na importação do divisionismo étnico-racial das universidades ianques sob justificativa de “combate ao racismo”. [Como o episódio demonstrou, se trata muitas vezes de insuflar ideias racistas.]
Esse tipo de militância política identitária, colonizada mentalmente e baseada na difusão do ódio, tem de ser enfrentada antes que destrua as instituições e lance o país de vez no caos.
Enfrentada nas universidades, denunciada na arena pública, criticada em sua hegemonia no discurso da grande mídia, exposta em seus financiamentos etc. Decothé é mera consequência da falência identitária pós pós. Sua exoneração é bem vinda, mas nem causa arranhões no problema, cujas dimensões se tornaram assustadoras.
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Segundo alguns identitários passadores de pano, foi só um ”vacilo”, um ”erro político”. Mas os prints demonstram que é uma característica da mentalidade e do discurso de Decothé.
A frase demonstrando nojo de ”suor branco” [!!!] e comparando-o a uma epidemia dá a dimensão do ódio racial da moça. Lembrando que ela é fruto da militância política esquerdeira e da universidade brasileira atual [sim, isso tem de ser dito]. E amiga pessoal de Anielle Franco, com quem trabalha há anos.
“Branca falando branquice”.
“mediocridade branca”
“gente branca é gente branca em qualquer lugar”
“mediocridade branca e masculina”
“branco é branco em qualquer lugar do globo”
“se não peguei COVID, não é suor branco que vai me derrubar”
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Notem a tentativa não só de diminuir a responsabilidade de Decothé mas de pintá-la como vítima. Decothé teria cometido apenas um “erro político”, um “vacilo”, e a exoneração seria desproporcional e motivada por uma cultura que “aceita punir pretos”.
Vamos imaginar que estivéssemos falando de um assessor ‘branco’ cuja postagem qualificasse a torcida de “preta descendente de africano safade”. Os mesmos identitários “passadores de pano” estariam babando pra jogar o sujeito na cadeia pro crime de ódio e inafiançável: injúria racial agora é racismo e ponto final, diriam.
Esse é o duplo critério hediondo que certa militância decidiu importar das universidades, movimentos e think tanks promovidos pela sociedade mais fracassada das Américas no quesito das relações inter-étnicas: os EUA.
Para importar as “soluções” fracassadas dos ianques, eles têm primeiro de importar as categorias e classificações. Daí importam o conflito e o ódio racial a partir dessas categorias. Para tanto, estabelecem justificativas teóricas mambembes pra se proteger da lei enquanto difundem ódio.
A postagem de Decothé foi racista, não tem por onde fugir. E é necessário frisar isto não porque se deseja “punir negros”, como delira o articulista. E sim porque é necessário apontar o perigo e a inadequação desse tipo de identitarismo.