A grande ilusão da austeridade é a seguinte: como ela é uma política que não funciona, as pessoas pegam o sintoma de seu não funcionamento para falar que ela não está sendo aplicada direito. Por isso que conseguem dar sobrevida a isso por muito tempo.
Pega o caso da própria Dilma, que é o modelo clássico disso no Brasil. O governo fechou 2014 com um déficit da casa dos 30 bilhões e o consenso na época era por um ajuste fiscal para equilibrar as contas, o que foi prontamente aceito pelo governo Dilma.
O comando da Fazenda foi trocado: saiu Guido Mantega e entrou Joaquim Levy, um indicado do Bradesco, para tocar essa agenda de ajuste no país. A linha do governo era essa: fazer o ajuste, equilibrar as contas e fazer a economia crescer (conhecem esse discurso?).
Vejam o discurso do Mercadante, ministro da Casa Civil da Dilma, defendendo essas políticas sendo aplicadas no seu segundo mandato. Isso era a linha econômica do governo na época. Aí você pode pensar, ah, mas isso era só retórica. Será mesmo?
Isso daqui era o anúncio do “maior corte de gastos da história”. Vejam, quase 70 bilhões de reais em cortes de gastos em maio de 2015. A linha era simples: vamos cortar de uma vez só, recuperar a “confiança” e seremos salvos. Qual foi o resultado disso?
O resultado é que o “maior corte de gastos da história” levou um déficit de 30 bilhões para 150 bilhões simplesmente porque ele nos mergulhou na maior recessão da nossa história (-7% em 2015 e 2016) e levou nossa economia para o buraco, mas qual a malandragem aqui?
Como a política de austeridade não funciona, ela não entrega os seus objetivos de equilibrar as contas. Daí, as pessoas enxergam o desequilíbrio e acham que a culpa da economia ter caído foi do desarranjo nas contas, sendo que isso, na verdade, foi o sintoma.
As pessoas enxergam o resultado da falência da austeridade, mas, como ela não entrega equilíbrio (por que não funciona), acham que isso é prova de que ela não foi aplicada direito, o que evidentemente é um erro grosseiro. Daí entra o mecanismo pseudocientífico desse discurso.
A austeridade te promete equilíbrio, esse equilíbrio não vem quando essas políticas são aplicadas. A culpa é da política que não funciona? Não! É que ela não foi aplicada direito. Com isso, você cria um mecanismo de blindagem teórica para sempre justificar o que falhou.
O nome disso é pseudociência e é isso que domina o debate público no Brasil desde os anos 1990. Lá fora já foi abandonado em boa parte dos países, mas aqui nós vamos ficar reciclando isso até quando? Até o Brasil se dissolver?
