Desde o surgimento da Graphic MSP em 2012, como desdobramento das comemorações pelos 50 anos de carreira de Mauricio de Sousa, e sua proposta de releitura dos consagrados personagens do autor por outros quadrinistas brasileiros, um título em especial chama atenção em meio a tantos outros sucessos, Piteco.
O homem das cavernas criado nos anos 60 para a Folha, com um visual bem diferente do que a maioria conhece, surpreende por ser o destaque entre outros personagens mais difundidos de Mauricio, como a quase hegemônica Turma da Monica (para rimar). Talvez seja suspeito para falar por adorar o tom dado às histórias do pitecantropo desde seu primeiro título do selo MSP, “Ingá”, lá em 2013 pelas mãos do sempre genial Shiko, mas tendo a acreditar que não seja uma preferência puramente minha já que o título levou um HQ Mix (o “Oscar” dos quadrinhos no Brasil) logo ali na estreia pela categoria “melhor publicação de aventura/terror/ficção”.
A aclamação continuou com o personagem passando para as mãos de Eduardo Ferigato (Opala 76) no encadernado “Fogo”, de 2019, onde vemos um Piteco já com família feita. “Presas” é a continuação do trabalho de Ferigato no título e a qualidade da história e dos desenhos se mantem intacta. Nesse arco temos uma aldeia de Lem assolada pela fome decorrente do inverno que afugentou a caça da região, nem mesmo os melhores caçadores conseguiam suprir a demanda, o que faz um desses caçadores, Groto, se aventurar pelas proibidas e Montanhas Brancas e não voltar. Groto é amigo e mentor de Piteco, que vai de encontro ao perigo certo para resgatar o amigo desaparecido no gelo não explorado.
A trama de “Presas” aprofunda ainda mais o desenvolvimento de Piteco como um personagem complexo, à medida em que deixa fluírem suas emoções para o leitor pela arte madura de Ferigato, e nos rende mais uma excelente história da MSP, firmando o personagem e o autor como pontos fortes do quadrinho nacional de 2021. Piteco: Presas é o trigésimo primeiro quadrinho da Graphic MSP e o melhor lançado no ano passado.
