Olavo de Carvalho e a ‘inteligência militar’

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O maior amigo do Olavo de Carvalho nas Forças Armadas era um general chamado Sergio Avellar Coutinho. Ele compartilhava das mesmas teses malucas do recém falecido a respeito de uma susposta conspiração “gramscista” das instituições — da mídia à Igreja católica – encabeçada pela esquerda brasileira. Na verdade, é mais provável que Olavo tenha copiado o milico babão, pois este já participava, como responsável pelo serviço de informação do Exército, da elaboração de documentos internos dos anos 80 (como o famigerado Orvil), nos quais o pavor a respeito de um suposto plano maquiavélico dos comunistas na democracia recém conquistada já dava o tom.

Escrevo isto porque me lembrei de um fato a respeito da “obra” do tal general publicada pela Biblioteca do Exército, na qual critica a Constituição de 1988 e o regime dela advindo, alertando o país a respeito da suposta estratégia gramscista do marxismo cultural petista/comunista. Nela, o insigne escriba condena praticamente todos os partidos imortantes do país como socialistas — até o PMDB! –, mas tenta dar uma sofisticada, especificando a variante de socialismo professada por cada partido. Sabe como ele classifica o PT? Socialismo nasserista!

Sim, “nasserista”, de Gamal Abdel Nasser, o líder anti-colonial egípcio que era arqui-inimigo de Israel e botou pra correr o imperialismo francês e inglês na crise do canal de Suez.

Durante muito tempo, procurei, sem sucesso, referências sobre uma suposta influência do nasserismo na ideologia petista. A coisa nunca pareceu fazer sentido algum, já que o nacionalismo de “homem forte” do regime de Nasser jamais teve a mínima semelhança com o socialismo igrejeiro e cheio de entusiasmo com a democracia, marcante do petismo dos anos 80 e 90. Tampouco há sentido histórico e geográfico: a influência de Nasser se restringiu ao “mundo árabe” durante o tempo que governou. Fora certas relações internacionais com partidos socialistas franceses e governos terceiro-mundistas do “bloco dos não alinhados“, jamais se internacionalizou como ideologia relevante no movimento operário ou socialista.

Mas o general, munido, talvez, daquela mistura de convicção de aço e ignorância brutal que tanto caracteriza o estilo do seu amigo Olavo, cravou que o petismo deveria ser interpretado desta forma.

Eis a nossa “inteligência militar”. Um sintagma que, em nosso pais, é uma contradição em termos, convenhamos.