A pedagogia reversa do lulismo

A pedagogia reversa do lulismo
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Lula é o comunicador nato, isso é indiscutível, mas há um elemento no discurso lulista que é meio evidente, ainda mais agora em época de redes sociais e informações a um clique de distância: a contradição entre discurso e prática.

Enquanto faz discurso defendendo investimento em educação, criticando quem trata educação como gasto, seu próprio governo trata a educação como gasto fazendo cortes sucessivos nessas áreas e trabalhando ativamente para reduzir os recursos federais para a área.

Existem dois Lulas: o primeiro faz o discurso para a torcida, o embate retórico com a direita e reafirma a personalidade de esquerda, lutadora, que anima boa parte da militância nas redes; o segundo é o que governa, aliadíssimo com a elite financeira e sua agenda econômica.

Isso podia fazer algum sentido nos anos 2000, sem a proliferação das redes, mas hoje é algo que não faz qualquer sentido. É a insistência em um método do desastre. Como bancar um discurso e fazer o oposto no governo hoje?

As grandes lideranças políticas devem ter um papel de politizar a nação, um papel pedagógico. Na esquerda, devem mostrar a natureza da desigualdade, mobilizar a sociedade em direção à superação dessas desigualdades. O que é feito pelo lulismo? O oposto.

O discurso contraditório com a prática já tem um efeito desmobilizador enorme, mas o lulismo ainda vai além. Ele ensina para a militância que a desigualdade é natural e que não há nada para fazer, apenas gerir o que está ruim. A culpa? A mítica correlação de forças.

Só que tem um ponto: esse discurso anestesia parte da sociedade, mas é direcionado com muita violência para aquela parcela organizada que não aceita essa rendição. Agora reparem nessa relação interessante que vai se formando na sociedade a partir da prática lulista:

1) As políticas neoliberais que o PT aplica pioram a vida das pessoas e a qualidade do serviço público;

2) Quem poderia criticar isso é violentamente atacado pelo militante organizado que aceitou a rendição;

3) A extrema-direita herda toda a contestação.

Tem como dar certo?