Os desafios da jovem e inexperiente militância cirista

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A militância cirista é uma confluência de vários setores: nacionalistas mais conservadores, nacionalistas progressistas, progressistas oriundos de setores do PT, do PSOL, da REDE e de outras forças de esquerda. Em sua grande parte, são jovens bastante engajados na defesa do Projeto Nacional de Desenvolvimento representado pela candidatura de Ciro Gomes. Em compensação, são jovens com pouca ou nenhuma experiência em organização partidária, o que acaba acarretando, em algumas ocasiões, certa ingenuidade.

Tivemos um exemplo dessa ingenuidade nessa semana. Quando Lula praticamente selou o convite para que Geraldo Alckmin assuma a vaga de vice em sua chapa na eleição presidencial desse ano, uma série de influenciadores da esquerda radical se levantaram contra essa aliança, criticando a flagrante contradição em botar Alckmin na vice de Lula a partir do histórico neoliberal e truculento para lidar com demandas sociais enquanto era governador de São Paulo. Um dos casos mais citados foi a violência policial contra a população pobre resultante da operação de reintegração de posse na comunidade do Pinheirinho, em São José dos Campos, em 2012. Diante disso, boa parte da militância trabalhista sentiu que poderia buscar o diálogo com vários desses influenciadores, o que acabou sendo respondido com pesadas críticas e deboche contra o Ciro e seus eleitores.

Por mais que estejam criticando a contradição de Lula em colocar Alckmin de vice e suas críticas se assemelhem às dos trabalhistas em alguns aspectos, eles não vão dialogar com o Ciro ou com o PDT. Por quê? Essas pessoas simplesmente não vão sentar para conversar com o Ciro para se convencer do seu projeto apenas pelo debate porque o jogo delas é outro, muito mais duro e tem toda uma estratégia de militância envolvida. Vamos tentar explicar um pouco mais sobre isso?

Assim que o Lula foi preso, o sentimento na esquerda era de que a base lulista estava em disputa. Quem herdaria os espólios de um lulismo, até então combalido, para um novo ciclo na esquerda? Ciro herda parte dos votos, apenas por pragmatismo em 2018 e a base (militantes, sindicatos e outros) ficou à deriva sem Lula ativo politicamente. Quem primeiro entrou para disputar isso foi o PSOL/Boulos. O “boa noite, presidente Lula” não foi acidental ou uma cortesia com o Lula, mas um aceno para a base lulista que estava ficando sem liderança. Esse aceno deu errado em 2018, mas rendeu frutos em 2020, com a ida de Boulos ao segundo turno da eleição municipal em São Paulo. Qual a estratégia de Boulos e do PSOL na época? Ambos apostavam em uma aproximação com o PT, abrindo canais de comunicação com a sua militância e sua base para irem direcionando a base lulista para uma nova configuração. Isso vai até a anulação das condenações de Lula.

A disputa pela base lulista continua em curso até a volta de Lula ao jogo, que usa da sua liderança e impõe ordem novamente na sua base, o que força uma reconfiguração nessa disputa. Ciro abandona a disputa dos espólios do Lula (acertadamente, mas isso é conversa para outra reflexão) e a esquerda radical entra com força nesse jogo. De que forma? Acenando para a bolha lulista em troca de audiência e interlocução enquanto preparam uma disputa pela esquerda já sabendo que Lula iria caminhar cada vez mais para o centro na tentativa de se eleger pela terceira vez. É aqui que entra a discussão sobre a ingenuidade: tudo tem estratégia!

Militantes e influenciadores da esquerda radical estão disputando o lulismo, especialmente agora que o Lula já selou o Alckmin como vice, para forçar um racha nessa base (um erro enorme), levando o que for possível dali em uma nova formação ou configuração de esquerda. Para entrar nessa base lulista, eles precisam seguir um ritual. Bater no Ciro é um dos elementos desse ritual. Não existe essa de sentar para dialogar com o Ciro, porque o que interessa para eles é pegar o lulismo, não um debate aberto de ideias. Eles precisam entrar na rede de comunicação do PT e falar para o eleitorado petista para racharem a base lulista. Dialogar com o Ciro prejudica essa tarefa, já que a audiência e a base militante organizada que apoia o Ciro é menor do que a lulista. Por isso, boa parte desses influenciadores não vão topar dialogar com o Ciro, já que isso não é vantajoso para eles.

Não existem militantes ou influenciadores avulso dispostos a serem convencidos por meio de um debate, existem militantes organizados com uma clara estratégia de cooptação de parte do lulismo. Isso precisa ficar claro para todo mundo. Parte da esquerda marxista nessa rede está se usando da chapa Lula-Alckmin para forçar o rompimento de partes do lulismo. Quando o Lula estava fora do jogo, a disputa era mais franca e aberta. Com Lula no jogo, ela é muito mais dissimulada. A militância trabalhista não pode se iludir.

Quer fortalecer o projeto do Ciro? Monte grupos na sua região, converse com seus amigos, parentes e outros que você acha que convence para aderir ao projeto trabalhista. Procure o PDT na sua cidade e se organize onde for possível. E esqueça os marxistas/comunistas das redes sociais.