O que tem a ver Glenn Greenwald, David Miranda, Nova Resistência, Antônio Neto, Gustavo Castañon, Aldo Rebelo, Ciro Gomes e o PDT?
É Alexander Reid Ross, blogueiro norte-americano, que publicou um fio baseado no blog brasileiro anônimo e “anarquista” chamado “Coyote”.
Quem é Ross? Não, não é “Friends”. Ross é um conspiracionista norte-americano acusado pelo portal Grayzone de trabalhar com a CIA sob financiamento dos irmãos Koch. Se define como “anarquista”, que geralmente é o modelito vestido por agitadores da CIA há um século contra partidos e governos nacionalistas.
O fio feito por Ross tem o objetivo de ressuscitar o fantasma do “fascismo varguista”. “Fascista”, é o termo pelo qual a CIA se refere invariavelmente a todos os governos nacionalistas do mundo que não sejam comunistas.
O fio de Ross começa com um ataque a Glenn Greenwald e seu marido David Miranda que acaba de anunciar sua filiação ao PDT. Ele quer pintar o PDT, um partido social-democrata afiliado há 40 anos à Internacional Socialista (a organização da social democracia mundial), como “pendente ao fascismo”.
Depois parte para “acusar” Ciro Gomes de, pasmem, dar o nome de “Plano Nacional de Desenvolvimento” (É “Projeto”) a seu projeto, nome que seria o mesmo do de Vargas.
Segue me atacando por eu ter escrito um artigo sobre Vargas falando o óbvio: que ele lutou contra dois golpes de Estado, um comunista e um fascista, e que nós no PDT não defendemos o período de sete anos ditatoriais de Vargas, mas o COMPREENDEMOS DE UM PONTO DE VISTA HISTÓRICO. O PDT defende a democracia como a entendemos, e tem “Democrático” no nome para marcar bem esse compromisso. Temos que nos lembrar que, apesar do período ditatorial do Estado Novo, Vargas liderou uma revolução para dar ao Brasil voto feminino, voto secreto, direitos de organização aos trabalhadores, direitos trabalhistas, e seu primeiro período foi pleno de liberdades democráticas, assim como sua volta ao poder pelo voto, em 1950.
A cartada “Olga”, também volta contra mim. Ele volta a repetir a calúnia petista de que defendi a deportação da espiã soviética, mesmo com o PRINT ORIGINAL DO LADO. Não defendi, expliquei o contexto histórico e político que levou Vargas a não desafiar a decisão do STF, que tinha todo suporte das Forças Armadas. Essas tinham perdido na Intentona vários membros assassinados enquanto dormiam. Na época o Brasil tinha tratado de extradição com a Alemanha. Prestes entendia isso, tanto que apoiou Vargas já em 45 e terminou a vida como presidente de honra do PDT.
Você pode julgar que isso é um jogo de palavras, mas JUSTIFICAR não é DEFENDER, é dar o contexto histórico e os motivos de alguém. Vargas tinha muitos motivos para deportar a espiã Olga Benário, que veio ao Brasil num plano para depô-lo e assassiná-lo, mas vendo com os olhos e as informações de hoje, EU NÃO TERIA TOMADO ESSA DECISÃO. Mas eu não sou Vargas, nem vivo nos anos 30.
Depois acusa Antônio Neto, o presidente da Central Sindical CSB, de “seguir um grupo nazista” no Brasil. O que significa “seguir um grupo nazista” para ele? O PERFIL DELE SEGUIR NO TWITTER! Ora, eu sigo Bolsonaro no twitter para saber as loucuras do dia, isso não me faz seguidor de Bolsonaro, ainda mais sabendo que o “grupo nazista” em questão é uma editora, e que o perfil de Neto é administrado por um assessor. Ainda diz que Neto publicou um artigo defendendo Vargas no meu (Castañon) site, se referindo ao Disparada. Mas só publico aqui, infelizmente, o site não é meu.
Então é a vez da “Nova Resistência” entrar no samba sem conexão de Ross. Ele afirma que o PDT tem relação com o grupo, que defende as ideias de Aleksandr Dugin, a “quarta teoria política”.
Esta teoria se apelida como “quarta” exatamente para se diferenciar do liberalismo, fascismo e marxismo-leninismo. Portanto, não se declaram fascistas.
Eu, apesar disso, tenho extremas discordâncias com o que conheço da teoria. De matiz irracionalista, se baseia em parte nas ideias antropológicas de Martin Heidegger. Qualquer aluno meu de filosofia sabe que essa primeira frase já provaria que nunca seria simpático à teoria. Advoga pelo papel fundacional de “culturas originárias”, numa defesa reacionária e irracionalista de formas culturais passadas. Defende um conservadorismo de costumes que não tem nada a ver com minha crítica ao caráter irracionalista e construtivista social do identitarismo. Aliás, considero a Nova Resistência exatamente isso: um grupo identitário. Eu defendo todos os direitos de minorias sob uma perspectiva universalista. Além disso, Dugin faz uma denúncia da institucionalidade liberal com a qual não me identifico em nada, pois sou um defensor da democracia liberal como o menos pior dos regimes políticos já inventados.
De qualquer forma, a Nova Resistência não tem qualquer relação orgânica com o PDT, o que acontece é que alguns poucos membros do grupo, ao que parece, ainda são filiados ao partido.
Inclusive, Antônio Neto, acusado no fio de Ross, cassou a candidatura a vereador de um membro do grupo nas eleições passadas por declarações incompatíveis com o estatuto do partido. Além disso, a Nova Resistência sequer apoia a candidatura Ciro Gomes no momento, e sim, a de Aldo Rebelo, esse grande brasileiro que o fio diz, também equivocadamente, que apoia Ciro Gomes.
Para todos os marinheiros de primeira viagem, é bom saber que essa acusação é antiga. Não há um único petista desses que hoje fingem idolatrar Brizola, que não tenham o chamado de fascista no passado, por causa da defesa de Brizola do legado Varguista.
Neste mesmo momento, o PT já recupera a tática. Enquanto Lula, que foi expulso do velório de Brizola ao som do povo cantando “você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão”, faz vídeo de homenagem a Brizola, o PT reforça a estratégia da CIA de acusar o PDT de “ligações com o fascismo” por causa do varguismo.
Só vai piorar. Não há pesadelo maior para a CIA do que o trabalhismo no Brasil. Um renascimento varguista, do homem que fez o Brasil ser o país que mais cresceu na história do mundo entre 32 e 80, é exatamente o que canalhas como Koch, Soros e Bannon não podem permitir jamais.