O liberal-fascismo e a disputa pela memória

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Toda vez que chamo o Governo Bolsonaro de liberal-fascista, alguém aparece dando chilique dizendo que não é possível ser liberal e fascista ao mesmo tempo. Será mesmo? Vamos traçar um breve retrospecto de como chegamos aqui.

A partir do final de 2013, começa uma gigantesca campanha nos monopólios de mídia pelo ajuste fiscal antipopular. O discurso único é que o país estava quebrado, tinha gastado demais e que agora era o momento de “arrumar a casa”. Nesse meio tempo, Veja, Folha de SP, Estadão, Jovem Pan, Record, Globo e afins, intensificaram a promoção de um pensamento reacionário contra o Governo do PT. Lembre-se que Rodrigo Constantino e Olavo de Carvalho eram louvados nos monopólios de mídia.

Nunca é demais lembrar que grandes nomes do liberalismo brasileiro, como Reinaldo Azevedo e Carlos Andreazza, promoviam sem pudores o pensamento de Olavo de Carvalho. Já na eleição de 2014, era claro uma radicalização à direita do PSDB e dos seus eleitores. Em paralelo ao ajuste fiscal, o estimulo ao reacionarismo, a escalada do fundamentalismo religioso, temos a Lava-jato, estimulada pelos monopólios de mídia e praticamente todos os liberais brasileiros. O PSDB também não aceita o resultado de 2014 e parte para ofensiva.

O ajuste fiscal comandado por Joaquim Levy (Dilma II) e os efeitos da lava-jato derrubam a economia e jogam o desemprego lá para cima. Já no meio de 2016, era claro, explícito, o caráter reacionário dos protestos “coxinhas”. Várias faixas pedindo golpe militar! O mundo liberal, de armas e bagagens, abraçou a Lava-jato, o fundamentalismo religioso, o conservadorismo e a criminalização das esquerdas. Entre 2017 e 2018, era moda falar que é “liberal na economia e conservador nos costumes”.

A fórmula do “liberal na economia e conservador nos costumes” era uma maneira de expressar a aliança entre fundamentalismo/reacionarismo e ultraliberalismo econômico. Compreendendo isso, Bolsonaro, que sempre foi um nacionalista de direita, procura um liberal como guru. Era claro, e dito explicitamente na imprensa, que buscar um guru liberal era uma forma de ganhar “apoio do mercado” e do mundo liberal. Bolsonaro poderia escolher um liberal fofo, mas preferiu um conservador, bem no espírito do tempo. E veio Paulo Guedes.

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Mesmo o “centrão” fechando com o PSDB, na prática, todos fizeram campanha para Bolsonaro desde o primeiro turno. A mídia também não o enfrentou como deveria Bolsonaro. Ele falou de Kit Gay na bancada do jornal nacional sem quase resposta nenhuma da Globo. Os apoiadores da Lava-jato fecharam com Bolsonaro, o fundamentalismo religioso também, o militarismo e seus fãs também e o “mercado” foi para o bolsonarismo. Em palestra na CNI, Ciro Gomes e seu Projeto Nacional de Desenvolvimento foi vaiado e Bolsonaro aplaudido!

No 2° turno, um monte de gente, mesmo quem não tinha simpatias nenhuma por Haddad e o PT, votou nele e fez campanha. E o mundo liberal? Ficou entre apoio explícito ao Bolsonarismo e uma posição de “é uma escolha muito difícil” e “no PT eu não voto” (Luciano Huck). Durante todo 2019, a posição do mundo liberal foi “deixa o Paulo Guedes trabalhar”. No Valor, Exame, Folha de SP, Globo, Estadão, colunas da Miriam Leitão, Merval Pereira, a posição era relativizar os perigos em nome da “agenda econômica de Guedes”

É fácil achar colunistas, intelectuais, formações de opinião, empresários, editorais de mídia e afins defendendo Paulo Guedes, a encarnação do liberalismo, como o “fiador do Governo”. Todo mundo viu e todo mundo lembra. Ou não?! Em resumo, temos um projeto político fascista que teve seu caminho aberto pelo mundo liberal. Claro, a ideia era devolver o governo ao PSDB, mas paciência. O próprio PSDB, em 2018, fez vários apoios ao bolsonarismo. Quem esqueceu do BolsoDória?

Esse projeto, no governo, teve amplo apoio do mundo liberal até metade de 2020. Durante todo 2019, com poucas exceções, era raro, raríssimo, achar um liberal criticando esse governo. E quando criticava, era ainda defendendo Sérgio Moro e Paulo Guedes. Se o projeto chega ao governo com apoio do liberalismo, se mantém no governo com apoio do liberalismo e até hoje tem gente que apoia baseado na agenda liberal e a crítica é que “liberalizou pouco” (Baleia Rossi e PSDB), por que eu não posso chamar de liberal-fascista mesmo?

Alguém pode dizer, nesse momento, que o “verdadeiro liberalismo” não apoia autoritarismo. Mas isso é a falácia do “escocês verdadeiro”.

Na dúvida, leiam “Liberalismo. Entre a civilização e a barbárie” e “Contra-história do liberalismo”, ambos de Domenico Losurdo.

  1. Tudo o que o rapaz disse (ele é comunista, portanto na visão marxista) sobre a conjuntura brasileira que levou ao Bolsonarismo é parcialmente verdade (sobretudo porque desde 1989 a mídia tem uma postura à favor do neoliberalismo, isso nunca mudou, e coloca como se o PT fosse a vítima e todo o resto os ”malvadões”), no entanto, isso não ”pariu” um fascista, MAS SIM UM PINOCHET.
    O fascismo é completamente oposto ao liberalismo político e econômico. Só ocorre uma junção estratégica entre ambos quando o objetivo é acabar com a esquerda. De toda forma, continuam sendo um paradoxo.
    Os dois principais pilares do fascismo é o ultranacionalismo e autoritarismo. Não tem como uma pessoa ser liberal e nacionalista ao mesmo tempo, ou você adere um conceito ou o outro. Dessa forma, Já deu para perceber que de nacionalista Bolsonaro não tem nada, é completamente liberal em todos os aspectos, é como um Collor, FHC ou Temer em variante militar. Os verdadeiros fascistas brasileiros que não existem mais, eram os INTEGRALISTAS, no qual eram nacionalistas e a favor do autoritarismo, pois achavam que necessário a ordem para o desenvolvimento. Se posicionavam contra privatizações, enalteciam os aspectos nacionais, como cultura, linguística e etc…

    É tão difícil entender que o verdadeiro problema do Brasil é o neoliberalismo?
    Espantalhos tais como Fascismo e Comunismo nunca foram verdadeiramente um problema no Brasil, uma vez que nunca tivemos verdadeiras ameaças no que diz respeitos a essas coisas.

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