Que desperdício bobo a conversa com a Laerte nesta segunda, no Roda Viva! Evidentemente isso não se deu por responsabilidade da entrevistada ou dos entrevistadores, todos jovens e, ao que parece, competentes em seus campos de atuação. Quem jogou fora a possibilidade de uma bela noite foi a edição do programa.
Laerte Coutinho é figura estelar da cultura brasileira. Ao longo dos últimos 50 anos, nos ensinou a olhar criticamente o desenvolvimento de uma metrópole quase provinciana para uma megalópole caótica e supostamente globalizada, em narrativas sequenciais originalíssimas. Teve papel central na criação de um quadrinho nacional de vanguarda através do Balão, revistinha em papel sulfite feita em parceria com Luiz Gê, Angeli, Paulo e Chico Caruso e outros lá por 1972-75. Acompanhou e estimulou o crescimento dos movimentos populares, reinventando – junto com o galático Sérgio Gomes – a ideia de comunicação sindical. Virou de ponta cabeça a charge política. Destacou-se na luta pela redemocratização do país e há dez anos se reinventou como militante das causas LGBTQIA+. E desenha – roubando palavras de Ziraldo – como um anjo.
Pois o Roda viva, ignorando sua faraônica produção gráfica-literária decidiu reduzi-la a uma personagem, cujas opiniões se direcionariam à crise da idade, vida sexual, solidão, afetos etc. Todos temas importantes, mas sem contexto histórico algum.
Faltou colocar na bancada quem pudesse dialogar com esse talento oceânico. Faltou chamar Serjão, Luiz Gê, Fernando Morais, Adriano Diogo, Ricardo Kotscho, Rogério de Campos e quem mais tivesse estrada para fazer da noite um espetáculo. E, claro, nos programas seguintes, pegar cada uma dessas feras e colocá-las no centro da roda, com os demais extraindo-lhe o que pudessem, num rodízio semanal.
Vencemos uma Era no Brasil. É preciso fazer um balanço para avançarmos. No terreno da cultura eu começaria com a criadora dos Piratas do Tietê!
