Não é preciso apagar a memória de Moreira César para homenagear Paulo Gustavo em Niterói

Para homenagear Paulo Gustavo não é preciso o Coronel Moreira César de Niterói
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Existem muitas formas da prefeitura de Niterói homenagear o Paulo Gustavo. Estátua na praia de Icaraí, no campo de São Bento, no Caminho Niemeyer, busto no Teatro Municipal, nome de escola ou centro cultural etc. Mas a prefeitura quer porque quer trocar o nome da rua Coronel Moreira César por Ator Paulo Gustavo. Abriu consulta pública e eu votei NÃO à mudança. E votei NÃO porque, mais do que homenagear o ator falecido, essa mudança visa apagar a memória do grande Coronel Moreira César.

Quem foi o Coronel Moreira César? Foi crucial no esmagamento da Revolta da Armada (grande parte dela ocorrida em Niterói), uma insurgência da Marinha, com apoio de vários monarquistas, contra o governo de Floriano Peixoto, o primeiro governo republicano popular.

Moreira César igualmente foi decisivo ao esmagar os liberais gaúchos que se revoltavam contra o governo estadual de Júlio de Castilhos, o primeiro a introduzir educação pública e direitos trabalhistas a toda a população. Sim, Moreira César era chamado de “corta-cabeças”, e pelo visto cortou as cabeças certas, até porque seus inimigos não eram menos “corta-cabeças” do que ele.

Os desafetos de Moreira César, entre eles o próprio prefeito de Niterói, denunciam que ele participou do linchamento do jornalista Apulcro de Castro. Esquecem-se de dizer que o tal jornalista era contrário ao abolicionismo e conhecido por espalhar boatos agressivos e chulos contra importantes figuras do país, inclusive abolicionistas.

Também se menciona a participação dele na repressão a Canudos. Mas se esquecem que ele foi morto na campanha e que não fazia sentido permitir que Antônio Conselheiro realizasse sua “monarquia celeste”. Havia todo um fundo social de miséria e opressão para o qual o Império não havia dado a mínima e a República seguia esse mesmo caminho, mas a solução passava por um Estado forte e integrador, como defendido por Euclides da Cunha e que somente passaria a existir a partir da Era Vargas, e não pela permissão a se criar monarquias messiânicas paraestatais.

O curioso é que muitos dos que são contrários a homenagear Moreira César por ele ter sido chamado de “corta-cabeças” são os primeiros a babar o ovo da Revolução Francesa, que, ao contrário do que se diz, cortou mais cabeças de plebeus que de aristocratas. Também, quando vão à Europa, tiram foto ao lado das estátuas de um monte de carniceiros lá considerados considerados “heróis da pátria”, como o corsário Francis Drake, e acham o máximo.

Apagar a memória de Moreira César é apagar a memória do Brasil e da luta pela unidade nacional. É um desserviço que a Prefeitura de Niterói presta à cidade e ao país, por mais que tenha ações muito meritórias em outros campos. Numa cidade que tem a honra de ter acolhido José Bonifácio em seus últimos dias e mal homenageia o Patriarca (um nome de rua e só), querer se desfazer de Moreira César é mais uma contribuição do poder público municipal à boçalização social e à perda de referências.

  1. Ele como era um grande artista, acho mais correto, por o seu nome no cinema Icaraí, que será reformado com salas de espetáculos etc..
    Com certeza, bem melhor.

  2. Independentemente de quem tenha sido ou feito o Cel. Moreira César, sou contra a mudança de nomes de logradouros públicos, da mesma forma que fui contra a mudança do nome da Av. 7 de Setembro para Av. Roberto Silveira. Apagar memórias nos torna um povo sem referências. Paulo Gustavo era brilhante em seu mister e, por ser ligado às artes e cultura, porque não homenageá-lo dando seu nome à uma sala de teatro, a de cinema ou a um centro cultural, sobremodo quando há um projeto de restauração/criação de uma área de cultura no local onde funcionava o antigo Cinema Icaraí, por exemplo. Independentemente de quem se trate o nome de um logradouro é, antes de mais nada, a manutenção de nossa história e as substituições apagam, sempre, um pedacinho dela.

  3. Essa pesquisa que a Prefeitura fez, foi direcionada a denegrir a memória do Moreira César. Pura politicagem! Que percentual de niteroienses concordaram! 20.000 de 520.000 moradores? Tá de sacanagem, prefeitinho!

  4. Parabéns Felipe pela defesa de um patrimônio dos Niteroienses, se isso seguir e a mudança da Rua acontecer, irá virar uma grande baderna de politicos que acham que podem tudo, Ruas, Bairros, Cidades, Estados são invioláveis, não há motivos para mudar.

  5. Ô Quintas, lhe tenho muito respeito como intelectual e é louvável a sua ideia de respeito aos ícones da Pátria e seu legado ao País. Moreira César tem o seu legado sim, mas querer dar essa dimensão a Canudos e a atuação dele a àquela tragédia, me desculpe, é a uma desonra uma glória que ela não tem.

    Canudos foi antes de tudo um massacre e uma desonra que o Exército do Brasil, infelizmente desde o golpismo de 1964 se recusa a tratar do assunto ou ainda procura algum contorcionismo circense pra buscar legitimar e justificar o injustificável. Foi um massacre conduzido às custas de um pretexto mentiroso e errado do Barão de Jeremoabo de forma a não perder uma mão de obra semiescrava e um grave problema que as deficiências do Estado brasileiro se depararam. Uma força policial de anteparo as questões do Exército e um traquejo político melhor e certamente as coisas não teriam tido o desfecho que tiveram.

    Paulo Gustavo foi um grande artista e que de fato merece ser homenageado e isso não exclui também o enaltecimento do legado positivo do Corta Cabeças a vida brasileira, ou pelo menos naquilo que tem de ser exaltado. Simples assim.

  6. Nem um pouco surpreso que um direitista pense assim. Prefere homenagear alguém que levou dor a morte aos outros do quê alguém que só levou humor, amor e felicidade para tantos. É isso que nos diferencia de vocês. Nós queremos amor e risos. Vocês querem ver sangue.

  7. ” isso não exclui também o enaltecimento do legado positivo do Corta Cabeças a vida brasileira,”

    Muita calma nessa hora. Militares da velha republica não merecem ser homenageados, especialmente os que participaram do massacre em Canudos.
    EUA estão se desfazendo do legado dos confederados, devemos fazer o mesmo com a velha republica

  8. A tentativa de reescrever a história sob as lentes atuais é muito triste. Na época do Coronel Moreira César não havia armas não letais (gás lacrimogêneo, balas de borracha), não existia técnicas de controle de distúrbios civis como temos hoje e nada havia escrito sobre direitos humanos. Seria justo destruirmos as Pirâmides do Egito por terem sido construídas com mão de obra escrava? Estudemos a história para não errarmos no futuro. Se apagarmos a história, esqueceremos de onde viemos e cometeremos os mesmos erros do passado.

  9. Concordo com a manutenção do nome original da via, dada como Coronel Moreira César. É muito triste quando a moda e a emoção momentânea se sobrepõem à história e à tradição. Se for dada uma homenagem, em uma via pública, que seja em uma nova. Apresentaram “de repente” o Coronel Moreira César como um monstro, visando covardemente manipular a emoção das pessoas que votaram SIM. Triste se ver que valores e ética não servem pra nada neste país sem memória. Que Paulo Gustavo seja brevemente esquecido e substituído por outros no futuro.

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