Darcy Ribeiro 99 anos: Viva o Povo Brasileiro

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Por Marcelo da Costa Nicolau – Nos 99 anos de Darcy Ribeiro, nada melhor do que ouvir o próprio apresentando suas teses e seu generoso pensamento. O Brasil altivo e que se quer grande, solidário e criativo ainda vive. A história da educação contemporânea do Brasil se confunde com a história do trabalhismo. Darcy Ribeiro foi o último representante da Escola Nova, o grande movimento brasileiro de transformação social pela educação do século XX e o último grande intérprete do Brasil e da Brasilidade. Não à toa, Darcy é o nosso último reformador da educação brasileira.

Último brasileiro a oferecer ao Brasil uma proposta revolucionária de educação, radicalmente nacional e livre de colonialismos teóricos. Não à toa, nossas Universidades mais ousadas (UnB e UENF) foram construídas pelas suas generosas mãos, que souberam encarnar as lições do grande Anísio Teixeira, seu “maestro soberano” e pai da moderna educação brasileira. As escolas mais maravilhosas que já foram feitas no Brasil foram construídas por Darcy Ribeiro. Nossa Passarela do Samba, o Sambódromo da Marques de Sapucaí, foi projetada para abrigar mais de 10 mil crianças em horário integral no seu interior. Não foi pensado para ser um coliseu inerte ao logo do ano, ou apenas palco privilegiado para festas e espetáculos.

A história das indignidades que foram dirigidas ao seu gênio e aos seus projetos ainda estão para ser escritas. Ainda precisa ser explicado como foi possível eleger Moreira Franco govenador do Rio de Janeiro e não Darcy Ribeiro.

Ainda precisa ser explicado como pessoas se dissessem de esquerda e puderam ainda assim atacar os CIEPs: “Escola não é pensão” ainda precisa ser colocado no museu da infâmia dessa mesma autorreferida esquerda que jamais construiu qualquer referência de educação para o Brasil, mesmo ocupando diversos governos de Estado e a Presidência da República por 4 mandatos. Darcy Ribeiro foi atacado, difamado e banido da academia brasileira, não pela qualidade das ideias de defendia, mas pela sua militância política ao lado de Leonel Brizola, sua condição de ideólogo do trabalhismo. A disputa pela hegemonia no campo progressista produziu essa infâmia e essa conta ainda vai ser cobrada.

Ninguém melhor que Darcy Ribeiro encarnou a ideia de que a educação é o melhor instrumento de que dispomos pra transformar o Brasil que temos no Brasil que queremos e merecemos. Ninguém melhor que Darcy ofereceu uma educação digna ao Brasil. Darcy Ribeiro expressou o melhor que toda a tradição política do trabalhismo legou ao Brasil. Darcy entendia que o Brasil é um presente pra humanidade: a única sociedade na face da Terra, que, mesmo convivendo com tantas atrocidades cotidianas e históricas, conhece o tom de cinza, conhece a mistura, valoriza a mestiçagem, sincretiza culturas e assim as mantém vivas, as incorpora como virtude, antropofagiza todas as potencialidades estrangeiras e as toma como se suas fossem. O Brasil é a única sociedade que incorpora generosamente qualquer estrangeiro como um irmão no seu seio.

O Brasil é grande demais para ser destruído e, não à toa, tem a elite mais grotesca do planeta Terra: a Casa Grande. A única elite que se identifica mais com os estrangeiros que a exploram do que com o povo que lhe dá origem. A única elite que, quando não pode escravizar seus irmãos, prefere assassinar o seu povo. Darcy Ribeiro dedicou sua vida a derrotar essa elite e temos a obrigação moral de continuar sua luta. Temos a obrigação intelectual e política de continuar sua obra. Darcy Ribeiro segue vivo na genialidade do Povo Brasileiro que permitiu que ele existisse.

Viva Darcy Ribeiro.

Viva o Trabalhismo.

Viva o Brasil.

Por Marcelo da Costa Nicolau, Presidente do Movimento Trabalhista da Educação do Rio de Janeiro – MTPE-RJ; Professor do curso graduação em Pedagogia do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro – ISERJ; Coordenador do Centro de Memória da Educação Brasileira – CMEB/ISERJ.