O recado da vitória de Milei à esquerda brasileira

O recado da vitoria de Milei a esquerda brasileira
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Por Augusto Ribeiro – Os ventos vindos da direita parece não terem amainado na América Latina. A vitória de Milei na Argentina reafirma a posição consolidada do libaralismo radical nas terras ao sul do canal do Panamá. E não nos iludamos. Vamos encarar o mesmo problema em 2026.

Não haverá saída se não houver uma clara mudança de posição dos governos ditos de esquerda no que se refere à pauta econômica. O povo latino-americano não suporta mais o neoliberalismo empurrado goela abaixo pelos defensores do “mercado”. Está sufocado pela ausência de emprego, pelos serviços públicos precários, pela falta de perspectivas da juventude e pelo enriquecimento descomunal de determinadas castas detentoras do poder político e financeiro.

O que temos de alternativa real a essa realidade mórbida? Nada! Os partidos de “esquerda” que assumem o poder em países depauperados por anos de neoliberalismo injetado na veia de seus cidadãos pela mídia, pelo sistema financeiro, pela justiça e pelos políticos comprados com dinheiro dos cartéis já conhecidos de todos, não tem coragem de enfrentar a realidade que lhes é posta à mesa.

Vemos a cada governo dito progressista, avanços identitários apenas. Nenhuma luta dos trabalhadores por melhoria em salários, emprego, educação, saúde e moradia avança além dos discursos inflamados. Estão todos os partidos, governos e líderanças políticas, amarrados a um processo de destruição do estado de bem estar social conquistado a duras penas durante as décadas de 50 e 60, imposto pelo Consenso de Washington. Toda essa sopa de covardia, subserviência, identitarismo, financeirização, propaganda e idiotização popular, acaba por gerar uma insatisfação difusa, onde não há por parte do povo um direcionamento à real causa dos problemas.

Desse lodo fétido de indecisão e ignorância emergem os radicais, não à esquerda, porque a propaganda anticomunista é as igrejas neopentecostais se encarregaram de inviabilizar qualquer aproximação a este espectro político, mas sim à direita, com elementos que beiram a psicopatia surgindo como salvadores da pátria. Bolsonaro e Milei, são produtos do desespero, tal como Hitler o foi na Alemanha dos anos 30. Lá a esquerda foi inviabilizada pela violência das SAs e pela propaganda nazista. Aqui o mesmo ocorre pela via da violência da mídia e uso dirigido das redes sociais.

Seguimos no Brasil um caminho previsível de fracasso, tal como vivenciamos nas últimas décadas, que não gerou nada além do bolsonarismo. Enquanto partido político, nós pedetistas teremos que decidir nos próximos anos o que queremos. Se seguirmos nessa toada, sermos mais um representante da mesmice, do neoliberalismo disfarçado vestido de vermelho. Ou podemos enfrentar, custe o que custar, este modelo estabelecido.

Temos paulatinamente perdido espaço para legendas ditas de “esquerda”, ao mantermos o discurso da moderação e da composição. Perdemos identidade e ganhamos, talvez algum espaço político, mas que vem reduzindo nossa força política. Encarar essa realidade pode nos custar espaços de poder momentâneos a curto prazo, além de alguma força política, mas nos daria legitimidade para uma futura retomada quando o povo perceber o processo de submissão a que fomos submetidos pelos últimos 60 anos. Cabe a nós discutirmos esta grave situação e nos posicionarmos para o que vem por aí.

Por Augusto Ribeiro