Márcia Tiburi e o delírio estético progressista

Marcia Tiburi e o delirio estetico progressista
Botão Siga o Disparada no Google News

Por Gabriel Lazarotti – Nunca se produziu e consumiu simultaneamente tanta informação como nos nossos dias. Há quem defenda que globalizada mesmo é apenas a informação que corre velozmente na troca de dados pela internet. Podemos apreciar ao vivo as imagens captadas pelo telescópio Hubble ou mesmo navegar pelo acervo da galeria de arte do Metropolitan. Esse excesso de informações, porém, moldou a nossa percepção da política e fez com o que o ativismo e a militância se transformassem em definidores de identidade. Logo, eu sou aquilo pelo que milito, 24h por dia, eu sou as minhas bandeiras e estou hermeticamente fechado nas caixas do meu partido, do meu grupo e da minha liderança política.

Se as informações associadas aos algoritmos reconfiguram os nossos afetos, criam demandas e nos mobilizam para determinadas lutas, elas também nos fazem enxergar demônios onde não há. É muito comum lermos nas redes sociais: “tome um café, respire, antes de comentar todo e qualquer fato político.”

Esse sábio conselho tornou-se ainda mais importante nesse momento em que está presente o fenômeno da hiperpolitização da vida. A ideia de que tudo é política é totalitária e prejudicial, para ficarmos apenas em Bobbio. Avançando um pouco mais, vivemos uma hiperpartidarização da vida.

Se a professora Márcia Tiburi tivesse acolhido aquele sábio conselho, não teria sido tão apressada em descaracterizar o trabalho fotográfico da profissional Gabriela Piló que serviu de capa para a Folha de São Paulo dessa quinta-feira, dia 19 de janeiro de 2023. Um café, uma pausa, um respiro era tudo de que a militância vulgarizada pelos algoritmos precisava, era tudo o que Márcia Tiburi poderia ter feito.

A foto em questão apresenta o Presidente Lula sorrindo, um semblante leve, com a cabeça meneada verticalmente, provavelmente após um momento de descontração, uma gargalhada talvez. Na foto, Lula ajeita sua gravata como quem reconhece a beleza de um terno bem alinhado, que sabe que aparência pode ser superficial, mas tem um potencial comunicativo enorme. Lula parece dizer com o seu gesto que a linguagem e a beleza importam. Mas o que dizer da militância? A militância é, no mínimo, sisuda. Perceba que Lula sorria por detrás de uma vidraça avariada entregando a mensagem de um Presidente altivo apesar dos ataques, forte diante de um cenário de crise.

A militante do Partido dos Trabalhadores, Márcia Tiburi, não apenas não percebeu a beleza artística daquela foto que apresentou um Presidente que segue governando mesmo após a barbárie bolsonarista, mas cravou que a intenção da Folha de São Paulo ao escolher essa foto como capa foi a de incitar o ódio. Sim, a mesma pessoa que relativiza o assalto ao enxergar uma lógica no assalto, a mesma pessoa que concluiu que o problema dos fundamentalistas religiosos é não terem liberado o ânus, está afirmando que uma foto e uma capa estão incitando o ódio. Se é vitimização, deixo para o leitor essa conclusão, mas seu desconforto conservador levou Márcia a questionar se a escolha da Folha não era uma sugestão para que Lula levasse um tiro no peito, simplesmente porque a avaria do vidro está posicionada na direção do peito do atual Presidente.

O progressismo brasileiro tem revelado uma característica curiosa: sensibilidades políticas tão afloradas que são capazes de fabricar um antagonismo fantasmagórico. Ela e outros expoentes do progressismo brasileiro, como Leonardo Boff que corroborou esse pensamento, revelam uma ignorância estética. É recomendável para esses casos que usem mais a internet para ver o Hubble ao vivo, as galerias do Metropolitan, da Pinacoteca, do MASP, reduzam as redes sociais e sempre tomem um cafezinho para um respiro antes de comentar os fatos do dia. No limite, portanto, os extremos acabam se encontrando. Em termos artísticos, não seria nenhum absurdo afirmar que Márcia Tiburi é conservadora.

Por Gabriel Lazarotti, bacharel em Direito, policial civil, trabalhista

Marcia Tiburi e o delirio estetico progressista