Sobre a luta indígena no Brasil

Sobre a luta indigena no Brasil
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Minha geração entendeu a “questão indígena” no Brasil pelas linhas exaustivas de Darcy Ribeiro. Aqui em Santa Catarina desfrutei da conversa permanente com Silvio Coelho dos Santos, um antropólogo de primeira linha que dedicou sua vida intelectual ao estudo sistemático dos povos indígenas em meu estado natal. Depois, nas andanças pela América Latina, descobri outros antropólogos e lideranças indígenas com enorme clareza da luta política sob condições nacionais. De fato, a luta indígena no Brasil guarda pouca conexão com as lutas indígenas de Oaxaca, no México ou Quetzaltenango, na Guatemala.

No México, assisti inúmeras vezes Rigoberta Menchú em conferências ou em lançamentos de livros. No Peru, as conversas e a leitura com Aníbal Quijano me ensinaram outro tanto sobre a disputa pela nação num país cuja composição majoritária é indígena ou descendente.

Há uma característica fundamental nos movimentos indígenas na América Latina: o caráter anti-capitalista de muitas lutas e sobretudo a enorme desconfiança em relação a política dos Estados Unidos para nosso continente. A experiência ensinou aos povos indígenas que o conquistador tem dois braços igualmente eficazes: a classe dominante interna e o imperialismo estadunidense.

Nessa perspectiva, a decisão da ABIP não poderia ser mais desastrosa. Não sei como qualificar a iniciativa da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil em solicitar ao embaixador e ao assessor de Kerry para abrir um “canal de comunicação” com os representantes do imperialismo. Ora, acaso acreditam que podem mitigar a política do proto fascista Bolsonaro com esse tipo de iniciativa? Acaso acreditam que o “diálogo” com nossos algozes poderá inibir a ação do atual governo que , finalmente, se entenderá com o Império seja com o partido republicano ou democrata? Acaso não percebem que fortalecem a “presença” dos Estados Unidos entre nós?

A direita brasileira não vacilará em mostrar a iniciativa como uma demonstração de “ingerência” dos Estados Unidos por intermédio dos representantes dos povos indígenas, claro está. Qualquer um sabe que o nacionalismo de direita é cosmético, mesmo quando declarado pela cúpula militar atual. É fácil perceber que esse “nacionalismo de direita” esta a serviço dos Estados Unidos em cada decisão tomada aqui, no interior do país.

As conexões do movimento sindical brasileiro com a socialdemocracia alemã e com a AFLCIO nos EUA são conhecidas. Lula mesmo é também um produto desse compromisso fatal. Portanto, a iniciativa da ABIP apenas reforça a tradição liberal de esquerda que tanto dano nos traz e sua crônica incapacidade de impedir o extermínio lento dos povos indígenas. A vida é cruel e, mais cedo do que tarde, poderemos observar os efeitos nocivos da iniciativa que apenas reforçou o papel dos EUA como “árbitro” da questão indígena e ambiental em nosso país. Por fim, é claro que os representantes do imperialismo não deixarão de fora do “canal de comunicação” as lideranças cooptadas que atualmente crescem e que somente poderiam ser enfrentadas com um movimento indígena nacionalista e independente. Um desastre completo!!!

Adiante e à esquerda, sempre!

Vai meu abraço!