Esqueçam as paixões, foquem nos ideais

O petista Lula fazendo coração com a mão. Esqueçam as paixões, foquem nos ideais
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Por Gabriel Placce – Os petistas estão eufóricos com a entrevista do ex-presidente a Reinaldo Azevedo, e, sob o ponto de vista político, eles têm toda razão.

Reinaldo, que sempre foi opositor ferrenho de Lula, juntou-se ao líder petista com o espírito de “inimigo do meu inimigo é meu amigo”. A Lava Jato, nas figuras de Moro e Dallagnol, foi arrebentada, foi bonito de ver.

Esperamos todos nós, que entendemos o que aconteceu, que essa gentalha da Lava Jato seja punida e presa, e que a mídia tradicional, que comprou e vendeu a narrativa, tenha agora a decência de se retratar.

Mas quando vamos ao ponto das ideias e da leitura do país, Lula é muito ruim.

O ex-presidente, como sempre, não fala sobre questões tributárias: não fala de criação de imposto sobre lucros e dividendos, de alteração no imposto sobre herança – que é uma piada no Brasil –, ou de redistribuir e aumentar o teto do IR.

Volta ao mesmo discursinho raso que faz há 30 anos: “o pobre precisa comer um pãozinho a mais no café da manhã, comer uma bistequinha e tomar uma cervejinha gelada no fim de semana”. Ou seja, consumo.

E não fala sobre alteração nos impostos porque ele não a fará, como o PT não a fez em 14 anos.

Fala do pãozinho e da cervejinha porque o projeto de expansão de crédito, que foi justamente o que levou 70 milhões de brasileiros pro SERASA, é o único projeto. Nunca emancipatório, nunca estrutural, sempre populista. Quem sabe até com outro liberal como Meirelles na economia!

E aqui há uma ruptura entre razão e emoção que leva a nossa chance de sucesso para o buraco.

Os petistas, pelo menos os daqui do chão – meu pai, meus tios, meus amigos queridos -, concordam comigo: tem que tirar tributo de produto e serviço (aquele que pobre e rico pagam a mesma coisa) e aumentar em patrimônio e renda! Sem isso, o Brasil não vai a lugar nenhum, não importa o crescimento do PIB.

Só que Lula não fez, Dilma não fez e o PT não fará outra vez, caso vença.

E, veja bem, em qualquer entrevista para o grande público, fora do sindicato, Lula não toca no assunto.

Em compensação, fala em transformar a Caixa em economia mista, o que significa que, assim como o Banco do Brasil e a Petrobrás, ficaria limitada nos mecanismos de controle do mercado, uma vez que os acionistas podem pedir, por direito, ressarcimento em caso de perdas por opções políticas (vide o caso mais recente de Bolsonaro com a Petrobrás). Haddad em 2018 propôs a autonomia do Banco Central, assim como o Guedes!

Vocês estão entendendo? É uma via fracassada. Infinitas vezes melhor que Bolsonaro e Temer (e que escolham um vice melhor na próxima), mas não é a única alternativa. Então, por quê?

Por Gabriel Placce

  1. Talvez não seja emancipação poder comer, ter um teto e um emprego digno, emancipação talvez seja ter os pensamentos iluminados enquanto a barriga ronca

  2. As alternativas que o articulista propõe e a que se vende no mercado eleitoral sinceramente, são cada uma pior que a outra. Uma é o fisiologista traidor e lesa pátria informante da CIA (Temer), a outra é o meganha indisciplinado e psicopata igualmente americanista (Bolsonaro) e o outro é o narcisista egocêntrico que vive de jogadas e das piores deslealdades aos companheiros, militantes e sem projeto (Lula).

    Entendo eu que o fim do PT se dá não só pela sua ausência de projeto ao país, mas também há algo nevrálgico nele e no seu irmão siamês, o PSDB: para além da sua total descrença e desdém no próprio Brasil e na sua história, da narrativa de que o Brasil é uma grande aberração e aborto da natureza nascido do acaso, da barbárie e tudo aquilo que seja um êxito e acerto deva ser visto sempre com ressalva e escárnio, o petismo e seu profeta Lula nasce e carrega no seu código genético um igual problema, que é o mandonismo de São Paulo e as vontades da plutocracia paulista como o início, fim e meio das questões do Brasil.

    Não é São Paulo que é parte do Brasil, mas sim o Brasil que é uma extensão de São Paulo e nisso uma ideia da democracia liberal como um fim em si próprio e o introjetamento de uma livre iniciativa benzida por uma subcultura americanista e que detesta o Brasil pelas suas raízes.

    Não há futuro a esse país enquanto se depender e se esperar as bençãos de São Paulo a alguma coisa, muito menos se não houver confrontação da plutocracia paulista. O não fuzilamento de alguns Miragaias em 32 foi talvez um dos piores erros de Getúlio Vargas na condução da vida brasileira naquele momento.

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