Leonardo Boff: ‘A Amazônia deve ser internacionalizada e ter gestão global’

Leonardo Boff A Amazonia deve ser internacionalizada e ter gestao global
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A recente declaração de Leonardo Boff afirmando que a “Amazônia deve ser internacionalizada e ter gestão global” foi surpreendente.

Surpreendente porque me somava àqueles que consideravam a ameaça exagerada na medida que o poder central do Brasil está e esteve por longas quadras histórica sob o mando dos grandes interesses internacionais. Só quem não pisa neste fértil solo seria capaz de confundir o exercício de soberania, tipificado na Constituição Brasileira como “dever ser”, com as condições objetivas de mando sob o próprio destino.

O ponto central é que a presidência da república já está sob o julgo de interesses internacionais. Assim como parte das Forças Armadas – ver o texto “Neocolônias não precisam de Forças Armadas; o COPOM – política econômica; o destino das estatais brasileiras; e a hegemonia da totalidade da burocracia estatal. O erro de Leonardo Boff é imaginar que a Amazônia deve ser internacionalizada e ter uma gestão global e não reconhecer que já é o que ocorre.

É precisamente a resultante das relações de poder internacionais que condenam a Amazônia às atuais condições.

São as sucessivas sabotagens ao desenvolvimento, diversificação e sofisticação da matriz produtiva do Brasil as responsáveis pela expansão do arco do desmatamento e demais atividades predatórias à floresta. Trata-se de uma consequência direta do rebaixamento brasileiro à posição de mero exportador de materiais primários – ver o texto “Sem indústria não há floresta”.

A gestão global do planeta o divide entre centro e periferia. E é de “eterna periferia” a posição que nos é conferida. Sempre que a “gestão global” impede uma tentativa de emancipação nacional, seja na indústria automobilística, aeroespacial, petroquímica, militar, saúde ou ao desestabilizar governos eleitos e com compromisso popular, atentam contra a integridade da Amazônia.

A solução para a Amazônia está atrelada ao desenvolvimento nacional. E as condições objetivas demonstram que a única via para alcançar o desenvolvimento é através do exercício concreto da soberania. Leonardo Boff erra ao afirmar que o conceito de “nação” está obsoleto.

Seria difícil apontar outro momento histórico em que o exercício soberano das nações foi tão relevante. O silêncio da ala alinhada com o ideólogo -– pode ser confundido com uma concordância tácita – é tão ou mais temerário que a declaração em si. Trata-se da ala política que ora lidera as pesquisas eleitorais. A declaração deveria ter sido prontamente rechaçada.

As pouquíssimas experiências bem sucedidas de gestão ambiental no planeta conduzidas por países periféricos estão associadas à ausência de estratégicos interesses econômicos e/ou geopolíticos.

O caso de maior expressão é a Costa Rica – IDH/0,810. Costa Rica não possui minas de diamantes, de ferro ou bauxita; Não possui petróleo. País diminuto de baixíssima gravidade econômica. Logo ali está o Congo – IDH/0,48. Ao contrário da Costa Rica, Congo possui abundantes reservas de ferro abaixo de suas florestas. É a realidade congolesa que nos aguarda caso o Brasil se conforme com a atual realidade.

O Brasil já está sob o mando da gestão internacional dos seus interesses. Leonardo Boff parece não saber que vive em uma neocolônia de exploração e que o papel de compromissados ideólogos deveria ser iluminar caminhos de emancipação via exercício de soberania.