La carta de Atílio Boron a Ciro Gomes

La carta de Atilio Boron a Ciro Gomes
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Li com enorme surpresa a carta aberta de Atílio Boron dirigida à Ciro Gomes solicitando a renuncia do candidato do PDT. Qual o argumento? O dilema é democracia ou fascismo! A manutenção da candidatura de Ciro, segundo Atílio, somente facilitará a vitória do Bolsonaro.

Atílio é informado sobre temas latino-americanos e não ignora as condições atuais da disputa brasileira. No entanto cala sobre os gravíssimos erros e convicções de Lula, Dilma e o PT. Cala também sobre suas alianças e sobre o rebaixamento das diretrizes do petucanismo.

Não recordo uma carta de Atílio durante os longos 14 anos do PT alertando para os erros e – mais grave ainda – sobre as convicções liberais de Lula, Dilma e o PT. Não recordo uma carta dirigida a seus amigos sociólogos brasileiros destinada a correção de rumo dos governos do PT!

Finalmente, creio que na atual disputa eleitoral as pequenas paixões deveriam ceder espaço para a reflexão crítica que, no fundo, na interdição permanente da crítica produzida por Lula e o PT, foi a grande responsável por nos trazer para esse impasse aparentemente sem solução.

  1. Se o dilema for, de fato, democracia (de fachada) x fascismo, Atílio Boron está certo e Nildo errado. Se não houver ameaça de golpe fascista, se tanto faz ser Lula ou Bolsonaro o vencedor das eleições, pois as condições de luta para os que a travamos fora das instituições serão as mesmas, então Nildo está certo. A questão é: todos sabemos o que significaram e significarão todos os governos petistas, enquanto governos social liberais, de conciliação dos interesses de classes; todos também conhecemos o significado dos regimes fascistas como o que Bolsonaro pretende implantar no Brasil. A partir disto, temos que nos fazer a indagação elementar, e, a meu ver, já respondida pela história da luta de classes do proletariado contra a burguesia em outros países: a luta pelas reformas, enquanto parte do processo de educação política dos trabalhadores para a realização de uma revolução, terá melhores condições para se desenvolver CONTRA um governo social-liberal petista ou CONTRA um regime fascista legitimado pela vitória eleitoral de Bolsonaro? A candidatura Ciro (outro mercador de ilusões como Lula, pois semeia no imaginário popular o mito de que um indivíduo eleito presidente da república é capaz de produzir grandes transformações a ponto de implantar no Brasil – um país periférico, segundo a divisão internacional do trabalho e à relação que submete a periferia ao centro – um Estado de Bem Estar Social que está sendo solapado até mesmo nos países capitalistas centrais), é inviável, precisamente porque é incapaz de corresponder à contradição em disputa entre a democracia (de fachada) e o fascismo, contribuindo apenas para melhorar as chances de levar Bolsonaro ao 2° turno. Para os que desejam com essas eleições dar um golpe no fascismo, afastando-o do Palácio do Planalto para melhorar as condições de luta de classes travada fora das instituições, a retirada da candidatura de Ciro convém, até mesmo, à própria candidatura de Ciro em 2026 (apesar de Ciro ter queimado muitas pontes necessárias à construção de alianças com partidos que, embora atualmente apoiam Lula, poderiam estar dispostos a apoiar Ciro na eleição de 2026).

  2. Excelente texto do Nildo. Um país com uma fragilidade democrática que nao aguenta uma eleicao em 2 turnos tem que repensar muito seus propósitos. Se dependet do Lula nós teremos apenas 1 partido de esquerda no Brasil. A “preocupacao” com o povo é “enorme” mas aqui no RJ Lula deixou a gente com o abacaxi do Andre Ceciliano e nao apoiou Mollon. Mesmo o apoio a Freixo ta tão fraco que me pergunto se tá fazendo diferença.

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