Primeiro o Monza, depois o Santana

Primeiro o Monza, depois o Santana joão santana ciro gomes pdt
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Por Franco Chiariello – Salvo engano, o ano era 1990 (adoro esse tipo de introdução de texto: “Quando em 1860 e tantos. Isto me lembra Voltaire. Ou Cordel). A Seleção Brasileira tinha recém tomado uma “piaba” da Argentina na Copa. O gol foi de um cara com o inimaginável nome de “Claudio Paul Cannigia”. A figurinha dele no álbum da Copa era disputada a tapas pela molecada de Araras, cidade onde eu vivia então. Eu tinha 7 anos.

Na época, meu pai era representante comercial, e nós fazíamos parte de uma classe média já em decadência. Um declínio que inclusive depois só fez piorar. Apesar dos esforços do meu pai montar negócio, dar certo e depois quebrar, o histórico é do típico legítimo pai de família honrado, responsável e com família para sustentar.

Acontece que o meu pai tinha acabado de comprar um carro Monza 2.0, que era considerado o “carango” mais “fudidão” da época. O Monza de antigamente era tipo um carro dos luxuosos de hoje, e embora hoje eu não ligue para carros, na época eu me importava. Eu era um menino de classe média, sim, “classe médinha”, éh!; e movido pela influência, na pré-adolescência, eu sempre lia a revista 4 rodas.

Em certo dia, me lembro vivamente. Pouco depois que meu pai comprou o “Monzão” surgiu o SANTANA! 2.0 MPFI. Foi aquele baque. O nosso Monza era “apenas um 2.0”. Cara, imagine o balde de água fria. Eu e minha família tínhamos “o carro”, e me aparece isso!? Típica cena do seriado “Anos Incríveis”. Eu agora era o Kevin Arnold tupiniquim, mas sem a Winnie Cooper.

Na verdade, o que eu mal sabia era que a indústria brasileira estava começando a entrar em declínio, e em pouco tempo vinha uma enxurrada de carros de fora do Brasil. Eu ainda não sabia o que isso significava, mas mudou o destino e a vida de muitas pessoas.

No primeiro governo FHC, quando eu então tinha 11 anos, meu pai em seu último suspiro de cidadão de classe média me deu um vídeo game Super Nintendo. Lacrado! Ele veio em uma caixa bonita e com um cheiro que consigo lembrar até hoje. Foi como um sonho. Faz muito tempo isso, mas é engraçado recordar esse fetiche da classe média cheirar coisas.

De lá para cá, muita coisa mudou. O Brasil foi se desindustrializando aos poucos, o governo do FHC mostrou o nabo para classe média com sua política cambial e depois no governo Lula eu já era um vendedor ambulante nas ruas de SP. Mais a diante minha querida esposa e filho chegaram e ainda outras coisas, e além delas, outras mais que ainda virão.

O fato é que o retrato que faço dessa digressão familiar aos dias de hoje traz um histórico geracional muito mais comum do que se pode imaginar. Afinal, pela média, os brasileiros que hoje estão na casa dos trinta e poucos anos viveram de forma muito homogênea os últimos vinte anos. Uma outra parte, obviamente, fora desse contexto, viveram no limite, com o teto do progresso social batendo forte sobre suas cabeças.

No meu caso, agora homem feito e na posição de pai de família, a conclusão mais óbvia que tiro desse saudosismo sadio é que a classe média hoje combalida pela crise econômica e pelo vírus da Covid, é, e deve sempre ter sido, apenas o sonho de uma peça de marketing de um passado muito distante – idêntico ao desfalecimento do sonho de quando você compra um carro Monza 2.0 e em seguida lançam o Santana 2.0 MPFI melhorado.

Essa surpresa, que em parte para alguns frustra as perspectivas em relação ao que o modelo antigo era, por outro lado para outros renova a perspectiva daquilo que um modelo novo pode ser. Nesse contexto, porém, tudo depende do cenário em que torna possível a economia crescer e muitos pais de família terem emprego. Sendo assim, considerando o cenário atual, parece claro que estamos em um mato sem cachorro.

A suposição que mais bem se enquadra ao momento que passamos é a de que estamos em um barco a vela navegando em solitário num mar político revolto com destino as eleições presidenciais de 2022 e que após chegarmos no destino precisaremos de um plano. E entre todos os candidatos hoje disponíveis para nos ajudar com esse plano, o mais bem preparado é Ciro Gomes, com seu Projeto Nacional de Desenvolvimento.

Cabe notar que muito das críticas que fazem ao Ciro nunca passaram despercebidas e o que parecia ser um destempero de personalidade amplamente explorado pela mídia, no momento atual desaparece ao ser compreendido pela importância de um bom marqueteiro. Pois nessa altura do campeonato, houve uma clara mudança na postura Ciro, e isso ocorreu muito próximo a chegada de Santana. (Desculpem o trocadilho infame).

João Santana chegou, e uma semana antes já se percebia alguns traços daquilo que poderia ser considerada a sua “grande estreia”. E viu-se um Ciro mais moderado, firme nos seus propósitos, porém, mais “sussa”, mais “relax”. Numa tranquila, e aliás, muito numa boa.

No tal evento “brazilian não sei das quantas”, evento organizado pela Harvard e pelo MIT , o Ciro estava lá, todo pimpão, e quando falava, o povo da telinha, que eram celebridades que estavam abaixo dele posicionados na tela, pareciam fingir que não estavam olhando num espelho embaixo do queixo.

Os da parte ao lado davam umas piscadas. Os de cima, era ele mesmo. E assim: foi até chamado pelo Huck, que de verde parecia bem branco ali, de “google ambulante”.

Pquemepariu! Rapaziada! Foi um estouro! Festa no AP! Rolou um quase balancê!

Outro traço já visível para quem acompanha o “Coroné Ciro”, que não possui mídia, nem bufunfa, nem posses nem balas, é o seguinte. Surgiram pequenos vídeos, bem curtinhos, camisa meio solta, livros atrás da cabeça já careca de ter mastigado, lutado, se digladiado com aquelas mentes que escreveram aquelas ideias impressas em papéis.

Ideias maravilhosas! Como os livros fazem bem, diz aí? Só perde para um Baião de dois com cerveja gelada com os amigos.

Enquanto isso, o Ciro de dentes límpidos, pele que parecia ter sido lavada com sabonete Phebo, aquele que vale a pena cada centavo de investimento, ao invés dos pasteurizados sabonetes da Rexona. Rexona: time de voleibol. Phebo: limpa até as impurezas da alma.

Pois bem. Estava lá, o Cirão da massa, todo mais menino, falando clara e limpidamente. Como se tivesse aprendendo a jogar a UEFA Champion’s League, ou fosse recém contratado pelo Real ou pelo Liverpool, saído da Commenbol. Coisa fina, pique Zidane ou CR7. CR12! Aí uma ideia para Bordão! Aqui é Pelé e Garrincha Carai…

Bom, mas, e daí? E daqui, é que na verdade, o intuito desse texto não é falar sobre Monza, nem sobre sabonetes (mentira, eu queria a muito tempo colocar o sabonete Phebo em algum texto meu), nem tampouco enaltecer o futebol biscoito fino jogado pelo Ciro e pelo Cristiano Ronaldo. Eu queria falar mesmo era do puritanismo canino de algumas pessoas.

Caninos brancos! Nome de livro…

Olha só: João Santana fez merda lá atrás? Fez! Confessou? Confessou! Inclusive entregou uma boa pare do Lulopetismo. Ele vai fazer merda agora? Se ele fizer vai em cana de novo. E ponto final. Com Ciro não tem essa de lavar dinheiro na Suíça. Como diria Pedro Luís, o da parede: “Se o sujeito cagou, pisou na bola, têm que resolver aqui, não pode sair fora” .

Santana ainda está pagando o preço pelas merdas que fez no passado. Assistam o Roda Viva em que ele participa . Pô, o cara até gravou CD, está com um visual mais hippie, mais a cara da “vaibe cirista” em termos de estética dos dias correntes. Usa sandália. As sandálias da humildade, como tanto cobram por aí! Eu tomaria uma com ele fácil. Eu tomaria umas oito até se ele pagar, porque que o bagulho aqui está foda.

O bicho é gênio, véio, gênio! Uma porrada de Presidente (a) eleito (a). Cê é loko, bigode…

Olha, vou escrever aqui em letras garrafais: VOCÊS SÃO BURROS EM PENSAR QUE UM CARA DESSE, DEPOIS DE TER SE FUDIDO MUITO, DE ESTAR USANDO TORNOZELEIRA ELETRÔNICA E OS CARALHO, ESTARIA VINDO PARA CAMPANHA DO CIRO PARA COMETER CRIME? AQUI NÃO É A GALERA BANDIDA DO LULOPETISMO!!

Ufa, até gritei aqui. Filhote quase que acordou. Mano, nem à pau. E tem mais: vendo a entrevista dele no programa roda viva, fica nítido que o que ele realmente quer é jogar o jogo da boa política. Se arrependeu. Confessou. Está pagando. Ou vocês querem instituir a pena de morte? O sujeito não pode, além de se arrepender, pagar pelo que fez, e voltar a exercer o ofício que ele mais manja? Vocês querem que a pessoa morra socialmente falando, após ter ou estar cumprindo uma pena lavrada por um juiz de direito? Querem a pena de morte? Vocês comeram cocô?

Bom, o Ciro agora tem alguém que o cobre. E isso é muito bom. Sabe o ponto certo da tal da tapioca. Tapioca com T de Transgressão, com T de Trampo. Com T de “EsTá na hora de Ciro ganhar essa porra”. O bicho é o melhor que tem, mas até mesmo os melhores precisam de uns toques. Vais ser bom para ele. Vai ser bom para gente. Pro Bê érre! Mano… Assim… Bolsonaro é uma charrete, Lula é um Monza. E Ciro é o Santana MPFI melhorado. O país precisa avançar, e o Ciro com seu Plano Nacional de Desenvolvimento representa esse avanço. Avanço, Desodorante do povo. Igual ao Phebo. O roxo, claro.

Ah, mas, e o Monza do meu pai? Rapaz, no fim das contas ele teve que vender o Monza na época para investir em mais um negócio para sustentar a mim e a meus irmãos. Porém, na sequência, além do Brasil ter saído da Copa perdendo para a Argentina, no mesmo ano, veio o Collor e “rapelou” toda a poupança.

Meu pai conseguiu ainda comprar uma Brasília, e a última imagem que tenho na minha cabeça é a gente dentro dela. Meu pai, minha mãe e meus irmãos parados na beira de uma estrada, rumo à Ubatuba, salvo engano, após a Brasília ter quebrado. Parece o Brasil. Se o cenário fosse outro, e um projeto como o do Ciro fosse executado, talvez se meu pai tivesse comprado um Santana. Vai saber…

Este texto é dedicado ao meu pai, Luiz, que de tanto bater em pedra, e ter votado no Bolsonaro, Agora é Ciro. E não é só por conta do filho.

Por: Franco Chiariello, sociólogo que curte um monte de coisa, inclusive o Brasil.

Revisão técnica automotiva por Thiago Maia, economista e expert em abelhas e trabalhismo.