Por João Pianezzola – Os reveses internacionais nos desviaram do foco, mas ainda é outubro, mês da Revolução de 30.
Importante lembrarmos de um paradoxo:
Apesar do gigantismo de Vargas, o sucesso da revolução foi o sucesso do tenentismo, das quarteladas da ala moça do exército herdeiras do “jacobinismo” de Floriano Peixoto.
Os tenentes deram aos rumos que levaram à revolução a tônica do descontentamento político, a causa libertária, e a necessidade de ação política enérgica e direta, plasmadas na noção de que o exército deveria cumprir o papel de condução.
O dinamismo dos tenentes, explicitada na longa marcha da Coluna Miguel Costa-Prestes, representava, sem dúvidas, uma força de “progresso”. Um progressismo “à bala” como diria Floriano, disposto antes a mudar pela força do que ceder ao fluxo das correntes políticas atuais.
Em contrapartida, Getúlio Vargas, que seria o realizador e sustentador da futura Revolução, CONDENOU as revoltas dos tenentes, tanto em 1922 como em 1924. Próximo do governo de Artur Bernardes, seguia a linha de seu partido (PRR), que à época buscava preservar a “Ordem”.
Mesmo que os próprios republicanos gaúchos trouxessem em si a marca inegável da preocupação social e da modernização política como herança do positivismo, enquanto parcela da mesma herança, traziam consigo o zelo religioso pela preservação da Ordem.
Essas duas tendências pareciam, aparentemente, irreconciliáveis e em rota de colisão. Acontece que a velha divisa positivista “ORDEM E PROGRESSO” foi parar em nossa bandeira republicana. Ambas vertentes aliás surgiram da mesma fonte. Marechal Floriano e PRR vieram da mesma facção do republicanismo antiliberal.
A batalha que Floriano travou em nível federal, os republicanos gaúchos, donde veio Vargas, travaram em nível regional — e venceram. Logo, tenentismo e castilhismo gaúcho, progresso e ordem, estavam fadados unir-se em prol do Brasil.
Pois o fluidismo armado e revolucionário de Miguel Costa, Siqueira Campos (e Carlos Prestes) e os demais tenentes, já estava dialeticamente unido à aristocracia sociocrática do castilhismo-borgismo e do PRR.
Em suma, a história da Revolução de 30 é a história da marcha sintética de elementos muito díspares. No próprio RS, a Aliança Liberal uniu maragatos e chimangos, suma heresia política. Nossa bandeira é bela porque é profética: ORDEM E PROGRESSO. Nossa síntese. Nosso DNA.
Por João Pianezzola