Ho Chi Minh e o tecnicismo de certo marxismo

Ho Chi Minh e o tecnicismo de certo marxismo ocidental
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Vamos imaginar que estamos numa fábrica do Vietnã em 1930. Segundo os escritos de Ho Chi Minh, o que encontraríamos? Trabalhadores locais sem direitos, sem salário, sem poder organizar legalmente sindicatos, sujeitos a castigos físicos, sofrendo preconceito racial e sujeito a mortes ao bel-prazer do proprietário francês.

Esse ponto é central. Ho Chi Minh denunciava de forma exaustiva como um vietnamita, no regime colonial, não era um ser humano e podia ser morto a qualquer momento pelo colonizador. Isso na fábrica, no bar, na rua, na praça. Na prática, o processo de extração de mais-valor era operado com base em relações de trabalho servis e análogas à escravidão – elemento típico da forma colonial-capitalista de exploração.

Agora pulamos para 1970. O que veríamos numa fábrica do mesmo Vietnã? Trabalhadores com direitos, salário, organização sindical legal, sem castigos físicos, sem proprietário com direito de matá-los, enfraquecimento do preconceito racial onipresente, certo nível de participação na gestão e na definição do regime de trabalho e a fábrica como um espaço de sociabilidade e dignidade pessoal.

Certo marxismo, contudo, olha para as duas situações e diz: tanto em 1930 quanto em 1970, tínhamos formas fordistas e tayloristas de produção, logo, nada mudou. Só mudou o status jurídico da propriedade (antes privado e hoje estatal).

Por muito tempo se criticou com razão que estatização não é o mesmo que socialização. Fato. Falta, contudo, a crítica mais aguda de uma visão simplista de relações de produção e trabalho onde tudo parece ser resumido a procedimentos técnicos de linha de produção. Nesse tipo de lógica, uma fábrica do Vietnã colonial de 1930, uma indústria têxtil no Brasil e uma fábrica soviética era tudo “a mesma coisa”, tudo “fordista”. O tecnicismo disso, disfarçado de crítica radical, me parece evidente.