As generalizações indevidas sobre o identitarismo

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Por Rennan Ziemer – Nos últimos dias, os ataques de setores conservadores contra o denominado identitarismo da esquerda se intensificaram no Twitter. Mas não adianta jogar a culpa nas minorias e grupos sub-representados pelo desastre político que o Brasil enfrenta.

A expressão identitarismo causa muita confusão, pois atualmente expressa dois significados distintos: a luta legítima contra as opressões de minorias; e sua deturpação, que consiste num discurso despolitizante, neoliberal e dissociado da realidade econômica e social brasileira, ou por setores mais radicalizados e fanáticos que não estão abertos ao debate democrático. Enquanto os neoliberais buscam principalmente ocupar cargos de destaque e poder, mas sem qualquer projeto de alteração do modelo econômico capitalista vigente, os radicais adotam um nível elevado de intransigência que sufoca qualquer tentativa de diálogo, inviabilizando a formação de consensos e acordos políticos, apesar de muitas vezes defenderem pautas importantes.

É no meio desta confusão que emergem alguns indivíduos, inclusive na esquerda, destilando reacionarismo numa tentativa de silenciar reivindicações legítimas. Algumas vezes é difícil identificar quem é filiado a algum partido de um simples usuário de rede social, sendo que muitos se valem do anonimato. Eu fui chamado de identitário por parte de alguns desses “críticos” ao escrever um artigo sobre voto impresso, para se ter uma noção do ridículo. Em geral, alegam que os identitários estariam atrapalhando a viabilidade de um projeto político eleitoral.

Aqui o primeiro equívoco, pois as pautas temáticas contra as opressões (mulheres, pessoas negras, LGBTIs, pessoas com deficiência, liberdade religiosa, ambiental, descriminalização das drogas) têm um grande potencial eleitoral, especialmente para cargos legislativos, que utilizam o critério proporcional, e não podem ser negligenciadas pelos partidos, especialmente os do campo da esquerda. Aqui cabe aos órgãos diretivos exigirem fidelidade partidária por parte dos mandatários, impondo a observância do programa partidário e em temas em que o partido fechou questão.

Em disputas majoritárias, especialmente para Presidência da República, é preciso maior nível de consenso, primeiro dentro do partido e depois entre o eleitorado alvo, levando em conta também que um governante deve atender às necessidades de toda a população e não apenas dos seus eleitores. Mas obviamente as reivindicações das minorias e contra as opressões devem integrar o plano de governo. Acompanhando há quase três anos o Projeto Nacional de Desenvolvimento liderado por Ciro Gomes, percebe-se que as principais demandas apresentadas pelos movimentos partidários foram devidamente contempladas, sem que as questões econômicas e sociais fossem negligenciadas.

Não há qualquer incompatibilidade entre promover o PND e defender pautas setoriais. Alguns militantes dão mais destaque para alguns temas, pois são mais próximos da sua realidade, da sua existência e dos problemas que enfrentam em suas vidas.

As pautas econômicas, sociais e contra as opressões devem caminhar juntas. Não é mais aceitável aguardar o bolo crescer para depois repartir, como também não é sustentável apenas promover medidas sociais paliativas enquanto se pratica populismo cambial causador da desindustrialização. Da mesma forma, não é admissível postergar ainda mais políticas para solucionar as questões do encarceramento da população negra, da violência e discriminação contra mulheres e LGBTIs e da inclusão e acessibilidade para PCDs.

Essa tentativa de silenciamento das pautas não será aceita, temos movimentos organizados em torno de temas específicos, mas que tem o objetivo comum de levar o trabalhismo para a população. Apenas fazemos nosso trabalho de base direcionado a uma fração específica da sociedade.

O fascismo sempre existiu, apenas permaneceu adormecido durante alguns anos de redemocratização e de progresso econômico. A novidade agora é a guerra híbrida nas redes sociais, que busca promover manipulação da opinião pública criando inimigos imaginários. Então, não foram os identitários que promoveram a disparada do número de seguidores do jogador de vôlei que criticou o personagem de quadrinhos bissexual. Esse público reacionário já estava ali, aguardando novas lideranças de extrema-direita.

Ao invés de atacar a luta contra opressões, promovam o PND. Quem fez demagogia com a luta identitária foram os governos petistas, usando as pautas da diversidade como moeda de troca com setores conservadores para obter apoio legislativo, ou promovendo encarceramento em massa enquanto quase nada fez pela segurança pública e contra a violência policial.

Não somos financiados por governos estrangeiros ou qualquer outro tipo de teoria da conspiração. Não somos colonizados. Há importantes autores brasileiros que estudam essas questões a partir da realidade nacional. Não nos confundam com militantes de classe média despolitizada, comuns em setores da esquerda, que não têm empatia com as classes mais pobres e ignoram seus privilégios e a elevada desigualdade social brasileira.

Esses militantes que vocês criticam estão em outros partidos e dificilmente votarão com o PDT. São vocês que estão gastando muita energia com algo que não vai dar retorno eleitoral nenhum. Estamos disputando o voto do eleitor médio e cada vez mais nossas pautas são reconhecidas como legítimas por grandes frações da sociedade brasileira.
Nossas demandas são parte do PND e não são contrárias ou incompatíveis como se tem a impressão pelos ataques generalizados. Inclusive concordamos com algumas críticas contra os fanáticos, mas eles não nos representam.

Escutem as ideias e demandas dos nossos movimentos contra as opressões antes de promover esse discurso de pânico moral contraidentitário indiscriminado. Defendemos bandeiras oficialmente reconhecidas pelo partido em seu estatuto, programa e resoluções. Como trabalhistas, somos aliados e não inimigos como alguns fazem parecer. Não causem mais confusão, mas ajudem a promover maior politização sendo mais precisos nas críticas. Quem sabe concordaremos com algumas delas.

Por Rennan Ziemer, Presidente Estadual do PDT Diversidade Paraná