Fala sério, Valter Pomar!

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FALA SÉRIO, VALTER POMAR! Militante formulador da suposta esquerda do neoPT, nos comprova nesse artigo sobre o Congresso do PSOL como se faz um exercício de prestidigitação política. Ou seja, como se tira ás da manga para justificar algo que eludimos para não ter que discutir. Porque a ser uma avaliação autêntica, só posso identificar uma dupla personalidade política no meu amigo. Não dá para compatibilizar o que hoje ele escreve com o que disse sobre seu partido em seminários internos que acompanhei, aplaudindo, em várias de suas edições regionais, e na entrevista que concedeu ao seu principal parceiro na dita esquerda petista, Breno Altman.

O PSOL TERIA FEITO uma guinada à esquerda, segundo Valter, ao terminar seu VII Congresso insinuando, por impossibilidade política de o fazer de forma expressa, um apoio a Lula no primeiro turno das eleições de 2022.

OU SEJA, e aí está o truque de mágico de circo que o comentarista externo opera, Joga um tapete sobre o passado recente do PT que cumpriu mandatos presidenciais sem promover uma sequer das exigidas reformas estruturais esperadas de um governo minimamente popular e democrático. Reforma Tributária e Reforma Política que pusesse fim à privatização do Público por conta do grande capital? Qual o que…Não é demais pretender ser o referencial do que é a esquerda brasileira?

ORA, MEU CARO Valter, a leitura correta deve ser a oposta a que faria quem não defende interesse específico de ium apoio incondicional a Lula, qualquer que sejam os movimentos de reaproximação com o que já causou, como aliados, imensas tragédias para o PT.

É NA DIREÇÃO de um Lula enigmático quanto à amplitude do laço de alianças que propõe com setores das classes dominantes, que a nova maioria propõe aproximação. E isso só pode ser considerado guinada à esquerda por quem já colocou sua barra muito à direita.

OU OS QUE SE PRETENDEM esquerda petista, que você vocaliza, tem saudades da parceria Palocci/Meirelles e o upgrade ao neoliberalismo tucano que empreenderam no primeiro governo Lula? Ou a esquerda petista já esqueceu que o desmonte da Seguridade Social pública nos governos de Michel Golpista e Bolsonaro/Guedes encontraram seu motor de arranque na própria contra-reforma implantada por Lula contra os servidores? Ou a esquerda petista joga para escanteio o crime de entregar a um meliante como Geddel o controle de parte essencial da Caixa Econômica? Ou das benesses concedidas em cargos ao gangster Eduardo Cunha, por quem terminaram apunhalados?

O QUE FEZ NASCER O PSOL, caro Valter, foi política que hoje, em âmbito interno, você não hesita em apontar como razão de fracasso que não pode se repetir. Ou vamos esquecer do meliante Roberto Jefferson, então aliado do governo, criticando a bancada tucana, por não votar o que então propunha o governo Lula, exatamente no mesmo sentido do que era proposto pelo mandarinato FHC?

O QUE FEZ nascer o PSOL foram as sequelas do Pacto Conservador de Alta Intensidade, compensados por um Reformismo Fraco, como bem sintetizou o insuspeito André Singer em seu “Os Sentidos do Lulismo”?

NÃO COGITO DE MITIFICAR O PSOL. Pelo contrário. Não são poucas as ressalvas que apresento à sua crescente subalternidade ao movimentismo identitário, com viés liberal. Não são poucas as ressalvas que faço à crescente ocultação do partido como agente do mundo do trabalho na Luta de Classes. E isso está bastante no artigo de Luis Felipe Miguel que você cita. Ali está a leitura mais correta, do ponto de vista da Academia, do que resultou do VII Congresso.

NÃO HESITO, portanto, em ler o VII Congresso no sentido oposto ao que você pretendeu retratar. São 44% de esquerda, unificados em torno de uma candidatura própria; unificados, contra 56% cujas hesitações não permitem aos líderes das duas tendências mais importantes dessa nova maioria se pronunciar oficialmente em favor daquilo que operam nos bastidores: o apoio a Lula no primeiro turno

E NÃO TENHA DÚVIDAS, Valter, assim como nas eleições anteriores de Lula e de Dilma, não hesitarei em estar – mantida a polaridade atual – entre os que, não só votarão, como farão campanha para Lula. Esperando que, desta feita, o neoPT retorne ao PT que tive a honra de representar no Parlamento.

Luta que Segue.