A posição do PT de votar contra a PEC-23 é absolutamente surreal.
O teto de gastos, na prática, será rompido pelo segundo ano consecutivo. A própria direita política percebeu a estupidez de se manter o garrote nos gastos e investimentos públicos, ainda mais em tempos de calamidade pública. O teto impede e criminaliza o ato de governar.
O centrão mobilizou-se para viabilizar pagamentos de dívidas do Estado que vão de compromissos com aposentados e pessoas que esperam há anos receber montantes devidos a desapropriações de casas, a dívidas de estados e municípios e até fortunas para o grande capital. Hay de todo, como dizem os vendedores a retalho em Buenos Aires, hay de todo.
Pouco importa. O certo é que a PEC está sendo o instrumento possível para se quebrar o objeto do desejo do ultraliberalismo, que escandaliza colunistas de aluguel e financistas, para quem é pecado o Estado gastar.
O rompimento do teto tem como subproduto a viabilização do auxílio emergencial para minorar a fome de parcela enorme da população brasileira. Sobre isso, Lula apontou o caminho, em 20 de outubro:
“Tô vendo o Bolsonaro dizer agora que vai dar R$ 400 de auxílio. Tem gente dizendo que é auxílio eleitoral, que não podemos aceitar. Não penso assim. O PT defende um auxílio de R$ 600 desde o ano passado. O povo precisa. Ele tem que dar. Se vai tirar proveito disso, problema dele”.
Parece que o PT não ouviu essas palavras e decidiu fechar questão contra a PEC. Espero que o PSOL não siga esse despautério. Se o objetivo é furar o teto, pouco importa a ferramenta a ser utilizada.
Aprovada a PEC – como tudo indica que acontecerá -, Bolsonaro terá na mão o discurso contra a esquerda, ao dizer que O PT não quis furar o teto e negou dinheiro aos pobres.
Mil malabarismos retóricos virão para contestar a acusação. Mas tudo que demanda explicações cheias de “mas”, “porém”, “contudo” e “todavia” não cola. Em geral esses ziguezagues compõem uma explicação errada.