A esperança é a última que morre, mas quando só se tem ela, é a primeira

Lá se foi o primeiro trimestre do governo Bolsonaro e o cenário econômico foi de estagnação.
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Lá se foi o primeiro trimestre do governo Bolsonaro e o cenário econômico foi de estagnação. E a previsão para o próximo é de recessão. Estagnação com o forte desemprego que estamos vivendo já é ruim, recessão nem se fala.

Quando essa tragédia é apresentada em dados para a sociedade, rapidamente saltam dos cabos de fibra ótica os ativistas, humanos ou cibernéticos, para defender o governo. A justificativa utilizada é: não se pode culpar um governo de 4 meses. Essa afirmação nasceu com força da caterva de sequazes e já se tornou a explicação oficial do governo federal, até o Paulo Guedes a utiliza para se defender contra a paralisia. E de certa forma eles têm razão.

Entretanto, o que eles não observam é que na maioria das vezes não se trata de culpar um governo de quatro meses, mas sim de analisar os 4 meses de um governo, e nisso a culpa deles é inegável. É consenso que o problema prioritário e maior é o econômico. Nenhum economista discorda que o grande vilão hoje é o desemprego. Mas nesse aspecto, o governo não apresentou um projeto, apenas decidiu dar continuidade ao projeto do governo anterior.

Rogério Marinho, que foi relator da reforma trabalhista, liderou a redação da reforma da previdência; Joaquim Levy, que era titular da Fazenda, foi para o BNDS; Esteves Colnago, que era ministro do planejamento, agora é secretário da economia; Masueto Almeida já era secretário do tesouro nacional com o Temer, continuou com o cargo. Por tudo isso, não seria nem exagerado dizer que, no que se refere a política econômica, o governo não está começando, ele já tem dois anos e quatro meses. Na transição Temer para Bolsonaro, apenas o discurso liberal se radicalizou, mas a pauta é a mesma: privatizações, livre mercado, outra reforma trabalhista (carteira verde e amarela) e reforma da previdência.

E se a crise está em uma escala crescente desde 2015, se os nossos vizinhos argentinos procuraram sem sucesso resolver seus problemas com essas mesmas medidas, creio já deu para perceber que por esse caminho não tem estrada florida. Todavia, contrariando as estatísticas, essa equipe econômica liderada por Paulo Guedes, tem esperança em uma eventual predisposição do mercado em investir no Brasil se acaso as reformas forem aprovadas. Resumindo, para o governo, a solução está na expectativa. O único projeto econômico de um governo de quatro meses se baseia em uma previsão otimista, só. Não parece considerar a disputa de mercado e tecnologia entre China e EUA, as altas do petróleo pelo entrevero entre EUA e Irã, a indisposição do mercado europeu com o descaso do governo brasileiro com o meio ambiente. Todos esses fatores correlatos com o desempenho econômico globalizado são ignorados pela esperança de sucesso da pauta uníssona das reformas.

O presidente, que assumidamente não entende nada disso, também espera, mas de Deus.

Contudo, se nesses quatro meses o governo se cercou de esperanças, os brasileiros estão cada vez esperando menos. A vida real é dura e cara. Não se preenche um estômago de esperanças. As polêmicas do governo, as brigas de militares e Olavetes, a disputa de autódromos, as teorias da conspiração, os pardais retirados, as balas de revólver, o rapto do horário de verão, os filhos com ego inflado, as lives amadoras em redes socais, os rolês de moto, nada disso cria base para se esperar sentado e desempregado.

E se na mitologia grega, de todos os sentimentos da caixa de Pandora só sobrou a paciente esperança, que foi a última a fugir, na farsa do mito brasileiro a esperança tende a ser a primeira a ir embora. E não porque ela é apressada, mas porque foi o único sentimento que entrou na agenda de um governo que se elegeu defendendo o que não quer, mas que em mais de quatro meses ainda não sabe o que fazer.

Por Borges Lima