Lembre-se sempre: os erros absurdos das pesquisas eleitorais no Brasil

Lembre-se sempre os erros absurdos das pesquisas eleitorais no Brasil
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Corria o ano da graça de 2014. O Brasil então despertou para a mais absurda sequência de “erros” das pesquisas eleitorais no país.
A coisa foi tão absurda e maciça que o PSDB pediu auditoria das urnas. Mas na verdade, os erros foram pró-PSDB.

Eu, então, como hoje, já havia previsto o “erro”. Mas o que aconteceu foi muito mais selvagem do que esperava. O resultado de Aécio nas urnas foi muito além da margem de erro do Ibope, 3,5% além do previsto, e o de Dilma aquém, 2,5%.

O mais incrível, no entanto, é que os levantamentos das próprias pesquisas Ibope e Datafolha de um dia anterior indicavam Aécio empatado com Marina. No dia seguinte, saíram com 12 pontos de diferença das urnas. 12 pontos pró Aécio.

O que uma noite não faz, não é mesmo? A questão é: faz o que, e aonde?

Ainda mais espetacular foram os erros naquele ano da boca de urna do Ibope. Quando falamos que uma pesquisa tem confiabilidade de 99% e margem de erro de 2% (o que foi o caso da boca de urna do Ibope), isso significa que o estado real das opiniões tem 99% de chances de estar no intervalo entre 2% a menos e 2% a mais que a previsão.

Em outras palavras, Aécio tinha 99% de chances de estar entre 28% e 32% dos votos. As chances dele ter mais que 32% eram de 0.5% (de ter menos idem). Ele teve 33,5%. 1,5% além da margem de erro. E pior do que isso: o outro “erro” foi justamente sobre os índices de Dilma. Ela teve 0,5% além da margem de erro. Para menos.

Isso é particularmente grave se considerarmos as características da pesquisa de boca de urna, e dessa em particular.

A boca de urna não sofre influência das abstenções, nem de mudanças de opinião posteriores, pois pergunta somente em quem a pessoa acabou de votar. E essa pesquisa entrevistou simplesmente 64.200 eleitores de todas as regiões do país.

Como a matéria do Estado de Minas (jornal que apoia Aécio) lembra muito bem, apesar de o Ibope ter “prudentemente” declarado uma margem de erro de 2%, uma amostra desse tamanho em relação ao eleitorado brasileiro tem, na verdade, margem de erro de somente 0,5%.

O que aconteceu, é realmente incrível.

Mas se você acha tudo isso incrível, certamente é porque não se lembra mais do que aconteceu em 2014.

Resultados virtualmente impossíveis aconteceram em todo país. A avalanche absurda de 40,4% dos votos em Sartori no Rio Grande do Sul, por exemplo, quando o resultado previsto na boca de urna era de 29%. É isso mesmo. A boca de urna (de 99% de confiabilidade) dava Genro (PT) 35%, Sartori (PMDB) 29%, Amélia (PP) 26%. As urnas deram Sartori 40,4%, Genro 32,5% e Amélia 21,7%.

Olívio Dutra, também no RS, perdeu absurdamente a vaga no senado, depois de a boca de urna ter indicado sua vitória por 6% de diferença.

No Rio, nada menos que 8% dos votos parecem ter sido transferidos de Garotinho para Pezão e Crivella, materializando uma supostamente impossível ausência de Garotinho no segundo turno. Garotinho saiu da boca de urna com 28% e das urnas eletrônicas com 19,75%. Pezão teve mais 6% e Crivella mais de 2%, todos acima da margem de erro. No caso de Pezão e Garotinho, impossivelmente além da margem de erro. E assim, a nave foi por todo país.

Há muito, muito mais barbaridades localizadas nessas eleições, e eu só estou considerando aqui aquelas que a boca de urna revelou. Mas a avalanche de Aécio em SP em 24 horas, a perda do PT no ABC, a derrota acachapante de Marina para Aécio em 48 horas, tudo isso é parte do terreno da literatura fantástica.

Mais uma vez saíram artigos na imprensa, como saem todos os anos depois das eleições, falando da falência dos institutos de pesquisa. No Brasil isso acontece desde 82 com o caso Proconsult. Mas esquecemos disso toda eleição.

ESQUECEMOS DISSO TODA ELEIÇÃO.

Só que em 2014 a coisa foi tão grave, que os institutos Ibope e Datafolha abandonaram a realização de bocas de urna.
E passaram a justificar os “erros” por mudanças bruscas de último dia.

Chegamos então a 2018, e vou aqui me concentrar nas últimas duas eleições gerais, porque “erros” em eleições municipais são até covardia. É como bater em criança.

Neste ano, no dia do debate da Globo, Zema tinha 9% em Minas segundo o Datafolha. Um dia antes das eleições, o Datafolha dava Anastasia 32%, Pimentel 23%, Zema 19%. No senado, o Datafolha dava Dilma eleita com 23%; Pacheco, 15%; Carlos Viana, 14%. Aberta as urnas, Zema venceu o primeiro turno com 43%, contra 29% de Anastasia e 23% de Pimentel. Já Dilma ficou em quarto lugar para o Senado com 15% dos votos.

No Rio de Janeiro, Witzel tinha 4% no dia do debate da Globo segundo o Datafolha. Um dia antes das eleições, o Datafolha dava Paes com 23%, Romário, 15%, Wilson, 14% e Índio, 11%. O resultado do primeiro turno foi Witzel com 41%, Paes com 19%, Tarcísio Mota com 10% e Romário com 8%.

Já nas eleições presidenciais, um dia antes, o Datafolha dava Bolsonaro com 36%; Haddad com 22% e Ciro com 13%. Abertas as urnas, Bolsonaro teve 46% dos votos válidos e quase levou no primeiro turno.

Chega não?

Não.

Todo ano, tudo isso é esquecido, e a máquina da mídia tenta nos convencer que duvidar de pesquisas é terraplanismo.

Não, acreditar em pesquisas é que é terraplanismo. Qualquer um que esteja dentro da política sabe que institutos vendem pesquisas e sabem por quanto.

Também sabe que as pesquisas presenciais no Brasil insistem em não tentar aferir o impacto da abstenção, e estão com as amostras distorcidas de evangélicos e católicos baseadas no Censo de 2010.

Não acredite em pesquisas. Hoje será o último round do sistema tentando convencer você a esmagar a única candidatura antisistema de Ciro e apoiar a candidatura do sistema de Lula.

Vão colocar Ciro caindo e Lula prestes a vencer no primeiro turno para forçar seu voto útil.

O único problema é que pesquisas, até certo ponto, são profecias autorrealizáveis.

Mas só até certo ponto, como vimos aqui.

Resista. Não desista.

Como dizia o mago Merlin em “Excalibur”: “Lembre-se sempre, porque a perdição do homem, é esquecer”.

  1. Perfeito seu texto. É óbvio que pesquisas como as do Datafolha e do Ipec estão completamente desconectadas da realidade. Não apenas por não refletirem o que vemos claramente nas ruas com o apoio popular a Bolsonaro – e a falta de apoio a Lula –, mas também por estarem sempre com índices “engessados”. Nas últimas semanas, Lula subia um ponto e Bolsonaro caía um. Neste sábado, dia 1º, o Ipec mostrou Lula caindo e Bolsonaro subindo além da “margem de erro”, certamente para se ajustar aos fatos. E se a realidade comprovar o quão errados esses “institutos” estão, vão dar a desculpa de sempre: as pesquisas são apenas um “retrato do momento”.

  2. Ahaahaahahahaha Cirista desesperado detected
    Vai dar é Ciro abaixo da Tebet pra vcs deixarem de passar vergonha

  3. Ciro “caiu”, mas, entretanto, o voto útil dos ciristas foi destinado (sem surpresas, dado a raivosidade de Ciro contra Lula) a Bolsonaro. Parabéns! Ciro Gomes e seus sofistas de estimação jamais serão esquecidos, principalmente por nós que não somos do PT e o tínhamos como uma alternativa na luta institucional contra o fascismo. Penso que a candidata do MDB se converteu mais confiável caso seja necessário recorrer ainda a um nome apoiado por uma Frente Ampla Antifascista em 2026.

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