Degradação sem fim

Degradacao sem fim
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O artigo do meu amigo Cappelli, espero ainda poder chamá-lo assim, repete a mesma fórmula banal da retórica política. Elogiar para criar empatia e depois esfaquear em nome de algo maior.

Vimos essa fórmula repetida incessantemente na última semana pelos quadros lulistas que o PT acredita que ainda tem alguma influência com o eleitor de Ciro.

Vou seguir a mesma fórmula banal aqui. Aqui é Cappelli, e não Ciro, que é um dos quadros mais extraordinários que já conheci na política. Ele é da minha geração, foi presidente da UNE no tempo em que eu ainda arrastava alguma corrente no movimento estudantil. Com o tempo se tornou um quadro competente de governo, além de revelar arguta compreensão da realidade e capacidade de escrita.

É por isso que a degradação política que revela em seu artigo se torna ainda mais chocante.

Percebam, leiam de novo. Há uma coisa que falta no artigo de Cappelli.

Política.

Não há ideologia, ideias, propostas, nada. Nada além de bajulação personalista e senso de oportunidade eleitoral.

Ele pede para Ciro se retirar da disputa presidencial porque podemos negociar compromissos programáticos de Lula?

Não.

Ele defende que a candidatura de Ciro é desnecessária porque já há candidatura do mesmo campo que defenda projeto semelhante?

Não.

Ele basicamente diz que Ciro deve se retirar porque luta contra a História.

Ora Cappelli, quando é que nós, trabalhistas, não lutamos contra a História? Contra todas as terríveis forças que se abatem sobre nosso povo e sua ânsia de libertação? Ou não foi Getúlio que derrubou a República Velha com a única revolução de nossa história? Ou o golpe de 54 não foi contra nós? Ou o golpe de 64 não foi contra nós? Ou a sanha destruidora da Globo não foi contra Brizola? Ou não é o nacionalismo do trabalhismo o que o fez por quase um século o grande inimigo dos EUA no Brasil?

Ciro não está atrás da justiça histórica, Cappelli. Ele não está num concurso de melhor candidato. Ele está atrás da essência da vida política superior: a disputa de ideias, de corações e mentes. Assim ele ressuscitou o trabalhismo no Brasil e hoje tem uma nova legião de jovens reconstruindo o percurso histórico que começa com Getúlio.

Mas se você quer que eu aborde diretamente seu argumento, vamos lá.

Não há qualquer dúvida que o tempo histórico de Lula passou. Lula foi o grande fracasso da esquerda brasileira de todos os tempos. Mobilizou por mais de trinta anos todas as energias desse campo político na vida nacional para não fazer nada com isso. Nada, absolutamente nada depois de 13 anos de poder, a não ser a destruição de todos os outros partidos de esquerda que não o PDT e o PT e uma despolitização do campo que gerou Bolsonaro.

E essa despolitização é a mesma que se vê no seu texto de forma chocante. Em essência ele diz que temos que renunciar a nossa candidatura porque Lula “ainda mora no coração dos brasileiros”. Porque ele “é a nossa maior liderança popular viva”, e ainda diz “talvez a maior de todos os tempos”.

Pelo amor de Deus Cappelli. Já que não tem mais política nos seus argumentos, eu não peço pelo amor da justiça social, da soberania, do desenvolvimento. Eu peço pelo amor de Deus. Tenha compostura.

Lula não mora mais no “coração dos brasileiros”. Lula não consegue reunir nem mil pessoas onde quer que ande hoje no país. Esse Lula senil de hoje não desperta mais qualquer esperança ou centelha de utopia na juventude. Ele é visto somente como aquele ladrão que governava melhor que o Bolsonaro, num tempo onde tinha emprego e comida na mesa. E é só para se livrar do pior presidente que o país já viu que as pessoas, no momento, estão declarando intenção de voto nele.

Sequer ele é ainda a maior liderança popular viva no país. A maior liderança popular hoje no país é Bolsonaro, Cappelli. Olhe para as ruas. Olhe para a capacidade de mobilização de um e de outro. Olhe para quem consegue pisar numa favela. Lula está na frente porque tem ainda o voto nordestino. No resto do Brasil, é odiado pela maioria.

Você sabe que esse Lula que está aí não tem mais traço do poder popular que tinha. No cargo, seria um desastre. Metade do país quer o ver na cadeia. Ele não iria recuperar a boa vontade do Judiciário, das Forças Armadas, das Polícias. Lula não vence nem no primeiro nem no segundo turno. Se vencer, não governa.

A República das Milícias já está aí. Sabe quem é o responsável, Cappelli? Você sabe muito bem. Luís Inácio Lula da Silva. Esse homem que na presidência não operou nenhuma transformação no país, o desindustrializou com demagogia cambial, destruiu a reputação de nossas estatais em um mar de corrupção, pagou os juros reais mais altos do mundo e deixou o Brasil o segundo país mais desigual do planeta. E então, quando estava preso, numa cadeia, fez o Brasil e a esquerda se submeter a seu umbigo destruindo a candidatura Ciro para eleger Bolsonaro e voltar com o caos.

Não Cappelli, o tempo histórico de Lula já passou. Mas se estou errado, se esse desastre, se essa ruína política ainda é a maior liderança popular do país, então esteja certo, esse é o maior dos motivos para Ciro manter sua candidatura. Porque Lula tem que passar. O povo brasileiro tem que se livrar da ruína política que ele gerou e que se reflete em seu artigo despolitizado. Portanto anote aí, dia 1◦ de outubro de 2022, não tenha dúvidas, Ciro estará “chutando a porta da história” desastrosa que o lulismo escreveu no Brasil.

Seremos rebeldes, tenha certeza.