Datafolha mostra que Lula ressuscita Bolsonaro e coloca o Brasil em risco

Datafolha mostra que Lula ressuscita Bolsonaro e coloca o Brasil em risco
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O maior prejudicado pelo Datafolha divulgado essa semana foi Lula. Além da recuperação de Bolsonaro e queda do ex-presidente no geral, a vantagem de Lula caiu 8 pontos em relação ao atual presidente entre os pobres, setor no qual o petista geralmente leva vantagem devido à memória do Bolsa Família. Analistas que consideram o povo mera massa de manobra atribuem isso ao Auxílio do governo Bolsonaro, porém essa ajuda financeira atingirá apenas 15% da população em 2022. Na verdade, o que ressuscitou Bolsonaro e acendeu o alerta no comitê de campanha do PT é o clima de “já ganhou” de Lula que utiliza sua liderança nas pesquisas para repetir conchavos fisiológicos como a aliança com o tucano Geraldo Alckmin, ex-inimigo mortal e agora companheiro “socialista”, e a completa ausência de projeto para o país para além de frases de efeito saudosistas do tempo em que o petista era presidente.

Essa arrogância de Lula passa por cima inclusive da própria militância de seu partido que se insurgiu contra aliança com o ex-governador do São Paulo pelo PSDB que se especializou em colocar a PM para reprimir os movimentos sociais lulistas como o MST e o MTST. Muito longe de ser massa de manobra, o povo compreende muito bem a contradição humilhante de colocar Geraldo Alckmin e Guilherme Boulos abraçadinhos no palanque de Lula. O Datafolha demonstra, na verdade, que o eleitorado está cansado desse tipo conchavo pelo poder sem nenhum projeto e não apenas destrói qualquer ilusão da militância petista (e mentira contada pelos dirigentes) de que a aliança Lula/Alckmin garantiria a vitória em primeiro turno. Pelo contrário, o Datafolha aponta que essa política hipócrita do PT coloca em risco até mesmo uma vitória em segundo turno.

Lula deixa muito claro, desde muito cedo, que a sua política é repetir a governança fisiológica, ou seja, a ausência de projeto e o conchavo (inclusive de corrupção) como elemento central do poder, além, é claro, de manter o modelo econômico desastroso que gerou a crise na qual nos encontramos e não conseguimos sair. Essa combinação de política conservadora e economia neoliberal só foi agravada por Bolsonaro, mas o povo lembra muito bem que foi levada a cabo muito antes pelo lulo-petismo.

Além disso, Lula desde sempre aposta no “quanto pior, melhor” para capitalizar eleitoralmente com hipocrisia cínica. Em 1985, o PT ficou contra a eleição de Tancredo Neves, pois queria que Paulo Maluf fosse presidente e atrasasse a redemocratização do Brasil para posar de opositor radical. Em 1988, ficou contra a Constituição Federal, e em 1989, Lula era o único que perdia de Collor no segundo turno, mas a autoconstrução partidária do PT era mais importante do que evitar entregar o país para a direita. Em 2016, Lula e o PT não fizeram o menor esforço para evitar a queda de Dilma, pois apostavam em deixar os efeitos da crise econômica gerada por ela no colo de Temer para capitalizar fingindo ser oposição ao antigo aliado do MDB. E por fim, como todos sabem, em 2018 Lula mentiu que era candidato para inviabilizar qualquer alternativa ao PT e entregar o poder para Bolsonaro. No processo, destruiu o PCdoB e rachou o PSB. Em 2022, Lula irá terminar o serviço no PSB e irá reincorporar o PSOL.

Pois bem. Não satisfeito com 4 anos de governo ultra-liberal da extrema-direita que nada mais fez do que radicalizar a política econômica desastrosa do PT, Lula quer repetir a mesma fórmula: quanto pior, melhor + conchavos com corruptos sem ideologia + política econômica neoliberal. Bolsonaro tem 25% de intenção de voto, portanto 75% querem a saída dele. Já Lula, que foi presidente por 8 anos, e é o candidato mais amplamente conhecido por toda a população, bate no teto de 45% e oscila para baixo a cada pesquisa. Logo, 30% do eleitorado não aceita nem Bolsonaro e nem Lula de jeito nenhum. O melhor candidato posicionado nessa posição é Ciro Gomes, que é pouco conhecido e não tem o mesmo espaço na mídia que um ex-presidente e um presidente em exercício. Na prática, Ciro já tem aproximadamente um terço desse eleitorado “nem, nem”, e é o único capaz de ampliar tanto pela esquerda como pela direita.

O fato é que concretamente, Lula coloca o Brasil em risco novamente ao efetivamente ressuscitar Bolsonaro contra a rejeição ao desastre econômico e à governança política corrupta do PT, bem como à agenda identitária das classes médias progressistas que antagonizam de forma violenta a cultura do Brasil real e profundo da maioria da população. Evidentemente que Bolsonaro não é alternativa ao desastre lulo-petista, porque ele é a continuidade desses aspectos centrais da política do PT, apenas com o sinal trocado na agenda cultural e de costumes, o que já é muito para grande parte do povo.

O que os dois extremos da tal “polarização” mais temem é justamente uma alternativa ao consenso entre eles na política econômica e na governança política. O presente desastroso de Bolsonaro não pode ser superado repetindo os mesmos erros nos quais Lula insiste e que nos trouxeram até essa situação. Por isso é tão importante bloquear o nome de alguém como Ciro Gomes, que tem biografia e projeto, nesse momento em que a população ainda não está engajada nas eleições, e na prática, só toma conhecimento dos dois nomes mais conhecidos. Ao contrário do que deseja a aliança tácita entre Lula e Bolsonaro, as eleições em uma democracia de massas não são decididas em gabinetes. A campanha de Ciro Gomes será a mais moderna na forma e a mais densa no conteúdo em um país que anseia por mudança e em um ambiente comunicacional digital que se transforma aceleradamente. Portanto, mais ou cedo ou mais tarde, a população poderá tomar conhecimento de um projeto que não é apenas de poder, mas de país, e que olha para o futuro, para então decidir se quer continuar com a mesma governança e política econômica dos últimos 30 anos ou se quer uma mudança estrutural para enfrentar a nova conjuntura histórica mundial.