Por Christian Lynch – Desde que saiu do hospital e voltou a fazer cocô, Bolsonaro tem se sentido forte bastante para ensaiar uma contraofensiva, aproveitando o recesso da CPI e a sensação de menor vulnerabilidade, decorrente da aliança com o centrão. O que acontecerá daqui pra frente? Muitos acham que “agora vai”, que o governo irá engrenar, que o presidente chegará competitivo às eleições, que pode ter golpe etc.
Resposta a essa pergunta exige dar alguns passos para trás para ver o padrão de funcionamento do governo Bolsonaro. Olhando retrospectivamente, o que se percebe é que se trata de um governo fraco e altamente instável, com mudança permanente de pessoal e de aliados, distribuídos pela administração em três ou quatro grupos, sem qualquer coordenação efetiva entre eles.
A cabeça do governo, formada pelo clã Bolsonaro, não é propriamente uma cabeça humana, mas uma cabeça de medusa, com suas espetaculosas serpentes de violência. A família Bolsonaro sempre foi uma comandita dedicada a viver parasitariamente dos cofres públicos, explorando um nicho eleitoral neofascista pela espetacularização do ódio à democracia.
Incapaz de qualquer coisa construtiva, o que a família tem feito, desde a campanha, é continuar a fazer o que sempre fez, terceirizando ou alugando a administração, a quem estivesse disposto a compartilhar o butim. Daí o desfile sucessivo de precárias hegemonias que disputam de forma desencontrada o mando efetivo da administração, convocadas sempre para “salvar o governo”.
Primeiro, foram os neoliberais de Paulo Guedes. Depois, os neofascistas à Weintraub. Na sequência, os militares com Ramos e Braga Neto. Ultimamente, Lira e Nogueira, com o Centrão. As hegemonias se deslocam, sem que os outros grupos desapareçam completamente.
Nenhuma hegemonia, porém, é duradoura, porque Bolsonaro, querendo posar de grande ditador, na verdade não quer e não sabe governar.
O resultado é o caos político-administrativo. O governo sempre foi disfuncional e nunca teve mais do que alguns meses de aparente estabilidade. Está sempre ameaçando cair e se desintegrar por obra da incapacidade política – e eventualmente mental – do próprio presidente, que não sabe governar, mas também não deixa os outros governarem.
É por isso que sucessivamente Bolsonaro está sempre apelando a alguém que “salve o seu governo”, mas ele nunca ele oferece carta branca para que isso efetivamente aconteça. Seu governo vive de espasmos, porque ninguém tem efetivamente poder para impor uma direção clara. Mas isso não tem importância para o presidente, cujo objetivo último é sempre ganhar tempo para arrumar alguma maneira de chegar ao fim do mandato e não ser preso.
A atual tentativa do presidente de “contra-atacar”, de “salvar o governo”, já é a terceira ou quarta de seu mandato. O método é sempre o mesmo: sublocar a administração ou sua chefia para um novo inquilino e apostar no espetacularização da violência contra seus inimigos e instituições. É só o que Bolsonaro sabe fazer, desde que aprendeu a andar, como forma de esconder sua incapacidade para qualquer outra coisa na vida pública.
Diante desse padrão, francamente, não há nada que indique que o Centrão conseguirá dar rumo ao governo. Esse é um governo que não tem como se aprumar. O mais provável é que em breve haja novos confrontos com os militares, os neoliberais e, com a proximidade da eleição, com os marqueteiros neofascistas do gabinete do ódio. Nogueira dificilmente irá até o final.
A tendência do governo, portanto, ao contrário do que se imagina, é que ele se desintegre conforme se aproxime do fim, diante da perspectiva da derrota. No fim, a ameaça de arruaça pela mobilização dos generais e coronéis aposentados do Clube Militar, ou das PMs, servirá provavelmente apenas para negociar os termos da descida dos Bolsonaro do poder.
E assim chegará ao fim o pior governo eleito que o Brasil suportou em toda a sua história.
Por: Christian Edward Cyril Lynch.