O comissário marxista do PT

O comissario marxista do PT
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No Canal Resistentes participo há mais de dois anos numa coluna quinzenal na qual abordo temas políticos da América Latina e, obviamente, também do Brasil. Na última edição do programa exibido em 17 de setembro Claudio Passos organizou um debate entre Elias Jabour – membro do comitê central do PC do B – e eu para discutir a crise chilena e as eleições presidenciais. Na oportunidade, Elias sustentou as posições de seu partido convocando voto em Lula já no primeiro turno enquanto eu defendi o voto nulo na disputa presidencial. Indagado a respeito, Walter Pomar emitiu uma opinião sobre o evento na qual tratou exclusivamente de minha posição – voto nulo – atribuindo-me o poder de “causar danos ao marxismo”. Elias teve melhor sorte pois Pomar não emitiu palavra sobre a qualidade de seu marxismo.

A leitura de sua brevíssima sentença sobre o encontro permite concluir que o divisor de águas para sacramentar a verdade sobre o marxismo está determinado por quem vota em Lula e aqueles que negam o voto ao ex-presidente. É Lula – e não o enorme conflito de classes que arde sob nossos pés – o critério da verdade para Pomar. A “análise concreta de situações concretas” possui uma essência eleitoral capaz de qualificar ou condenar toda posição: quem está com Lula toca na realidade e, quem, ao contrário, nega voto ao ex-presidente, não somente está fora da realidade senão que produz imenso dano ao marxismo.

De minha parte, recordo que há anos sou um crítico quase solitário dos marxistas que atuam na universidade; estes, na verdade, não representam o “marxismo acadêmico” pois suas contribuições são pra lá de modestas e constituem na grande maioria das vezes mera exegese sem conexão alguma com a evolução da crise brasileira e menos ainda com o futuro da Revolução Brasileira a despeito do conhecimento que eventualmente exibem sobre a seção V do tomo III de O capital, da Crítica ao Programa de Ghota ou mesmo da Ontologia do ser social de Lukács… Portanto, não estou disposto a aceitar sem reserva a existência de um “marxismo acadêmico” que, nas condições brasileiras, admitiria como uma virtude semelhante àquelas que existem nos Estados Unidos ou na Inglaterra, para dar apenas dois exemplos.

Entretanto, lidando e litigando contra o marxismo que se refugiou na universidade após a domínio estalinista sobre o antigo movimento comunista internacional, eu sou capaz de reconhecer contribuições parciais e mesmo algum esforço bem logrado quando professores encaram temas de fronteira ou aspectos parciais de nossos problemas desde uma “perspectiva marxista” sem, contudo, tocar no nervo da Revolução Brasileira. Nesse contexto, creio que Pomar está muito mais exposto ao “marxismo acadêmico” do que eu e, na verdade, sua sentença sobre meu marxismo não possui os anticorpos que, por ossos do ofício, desenvolvi em quase três décadas de profissão.

O comissario marxista do PT
https://youtu.be/xpwgx29JpIw

O PT é um partido que exibe enorme e definitiva crise ética, programática e política cujo epílogo estamos observando nessas eleições. É um partido que há muitos anos está impossibilitado de desenvolver teoria sobre a realidade brasileira e, em consequência, aqueles que ainda resistem ao processo já concluído de sua completa adesão a ordem burguesa, importam para seu interior de maneira miserável as modas universitárias sem qualquer rigor e reproduzem toda sorte de quinquilharias ideológicas necessárias para justificar com algum “brilho teórico” as disputas eleitorais que, ao fim e ao cabo, ainda mantém o partido “vivo”. Eu devo reconhecer que, vez por outra, vejo o esforço necessariamente improdutivo de Pomar nos congressos ou encontros do PT, sempre destinados a convencer a maioria do seu partido para voltar à rebeldia que exibiu na juventude e, sejamos justos, foi precisamente aquela radicalidade que finalmente construiu a aceitação eleitoral que ainda hoje possui mesmo que sem brilho. Ainda assim, é fácil concluir que Pomar – há anos membro do diretório nacional – não sai ileso da batalha contra a maioria absoluta de seu partido pois o máximo que logrou até agora é simular que o “outrora maior partido de esquerda da América Latina” ainda estaria “em disputa” quando, na verdade, nem mesmo o caldinho de radicalidade que ele e seus companheiros logram manter consegue impedir a conciliação de classe cuja expressão maior não poderia ser mais eloquente: a chapa petucana Lula/Alckmin.

Devo registrar um grave descuido de meu crítico pois enquanto ele me indica como uma espécie de maçã podre capaz de produzir danos na cesta do marxismo, deixa sem cuidado seu próprio pomar. Ocorre que Walter está empenhado na campanha de Lula para presidente e de Haddad para governador de São Paulo. O último acaba de lançar um livro – O terceiro excluído – que ataca de maneira sorrateira a tradição marxista no que ela possui de mais vital, potente e atual. Até agora, não vi palavra de Walter sobre o tema embora seria uma tarefa a altura de um comissário marxista. Mais importante ainda: o candidato de Walter para governador e possível sucessor de Lula no futuro do partido, declara solenemente que seus “gurus intelectuais” que terminaram por lhe influenciar decisivamente na escrita de um livro abertamente reacionário são três conhecidos e festejados acadêmicos uspianos (Ruy Fausto, Roberto Schwarz e Marilena Chauí); todos eles com pinta de “marxistas” embora com reparos suficientemente claros para não se confundir com a tradição crítica de Marx e Engels.

No Brasil, ninguém vacilaria em desconhecer que São Paulo é o coração burguês do país e que a USP, embora cada dia mais decadente na batalha das ideias, ainda mantém considerável influência acadêmica no país. Ora, os três festejados uspianos homenageados por Haddad exercem de maneira distinta influência notável no partido de Walter e, creio, até mesmo ele estaria disposto a admitir caso fizesse cuidadosa revisão teórica e política, o quanto o “marxismo acadêmico” uspiano foi sempre responsável em larga medida para as sucessivas derrotas que meu crítico acumula na luta interna e que o condenaram a condição marginal nas decisões mais importantes do PT. Na verdade, emparedado pelos acadêmicos uspianos – Haddad à cabeça – Walter logra apenas marcar posição interna e figurar como testemunha singular da completa adesão de seu partido a ordem burguesa.

Não considero uma contradição o fato de Walter me atribuir a condição de “marxista acadêmico” enquanto seu candidato a governador é expressão maior do academicismo alienante e funcional a ordem burguesa que domina seu partido com a total cumplicidade e até mesmo entusiasmo de meu inesperado crítico. Lula é, de fato, um divisor de águas entre nós nessa eleição, mas jamais poderia ser o critério da verdade. Entretanto, não devemos ignorar que precisamente Lula é apenas expressão cada dia mais pálida da conciliação de classe que eu renuncio no terreno eleitoral enquanto Walter a reproduz como se não tivéssemos alternativa senão seguir agarrado num santo que pode ter muitos eleitores, mas é totalmente incapaz de produzir algum milagre.

  1. No fim das contas (longe de mim, pobre mortal que não sou como os doutos em marxismo que digladiam), a discussão acaba sendo reduzida a se é de inspiração marxista ou não a recomendação de voto em Lula, derivando secundariamente para a discussão do caráter marxista ou não do PT. Para mim, essa forma de abordar a questão é completamente descabida, posto que, para além do marxismo, existe, muito antes dele, a intuição política, de que se serve a maioria dos homens desde que a sociedade foi dividida em classes antagônicas, a que se seguiu a filosofia política e a ciência política. Isso significa que compreender a necessidade de não permitir a permanência do chefe das milícias brasileiras na Presidência da República é alcançada indiferentemente pelos que têm o privilégio da intuição política aguçada, podendo ser, inclusive, iletrados, pelos pensadores instruídos pela filosofia política desde os gregos ou pelos cientistas políticos, sejam eles marxistas ou não. Também é irrelevante o fato de o PT ser um partido marxista ou não, posto que jamais o foi, e nem assim deixou de participar como uma peça fundamental em um jogo de xadrez político em que se pode obter essa ou aquela configuração de poder mais ou menos favorável para a luta de classes do proletariado contra a burguesia. A questão é, portanto, da relação entre a luta institucional e a luta não institucional. Partidos como o PT, o Psol e o PDT não diferenciam essas duas dimensões, compreendendo as eleições na democracia (de fachada) (neo)liberal burguesa como um elo de um processo de tomada do poder que, em algum momento do futuro, não se sabendo se distante ou próximo, transferirá o poder das mãos da plutocracia para as mãos dos trabalhadores por meio de uma eleição em que a esquerda conquistará a maioria absoluta dos parlamentos e governos executivos. Alguns grupos políticos como os maoístas brasileiros, concedem às eleições nas instituições burguesas um viés absolutamente negativo, destinado apenas a dificultar a consecução de uma revolução. Os marxistas-leninistas que não foram objeto de tentações revisionistas, defendidos do oportunismo de esquerda e do oportunismo de direita, conhecem que o dia sonhado pelos reformistas não passa de uma miragem e, por isso, procuram fazer análises sobre as eleições nas instituições burguesas em termos de suas consequências para a luta de classes do proletariado contra a burguesia, respondendo a questões mais simples, que não demandam conhecimentos enciclopédicos do marxismo (pelo visto, não tão enciclopédicos, posto que dispensam, para alguns, os textos de ciência política de Stálin) tais como: é melhor travar a luta em defesa dos direitos políticos, econômicos e sociais sob um regime fascista ou sob um governo de alguém como Lula? É preferível correr o risco de uma repressão violentíssima contra as organizações políticas classistas dos trabalhadores, seus sindicatos, partidos e movimentos sociais, desencadeada por um regime fascista que tem como braço armado para a eliminação física de opositores grupos paramilitares, como braço ideológico movimentos evangélicos comandados por pastores vigaristas como Edir Macedo e Silas Malafaia, contando ainda com grande simpatia da plutocracia financeira, ruralistas e militares, e de grupos de extrema direita liderados por Trump, ou é preferível desfrutar da relativa liberdade que permite, por exemplo, que indivíduos de esquerda (marxistas ou não) como Nildo e Pomar dêem aulas como professores contratados em universidades públicas, palestras legais em auditórios abertos, franqueados ao grande público, ganhando suas vidas como trabalhadores remunerados da educação, e não palestras clandestinas para convidados escolhidos criteriosamente para que tais eventos restritos a um público seleto e de confiança não cheguem ao conhecimento da polícia política de Boksonaro?

  2. Não é de hoje que Pomar é uma mistura de cachorro louco e Politruk às avessas: coage e é bem agressivo com aqueles que afrontam os métodos mais do que questionáveis do PT em seu flerte com o imoral, o antiético, hipócrita, ilegal, e quem sabe, do inconstitucional. E como Politruk às avessas, é o comissário político que doutrina sem doutrina alguma e politiza em ideologia.

    O lulopetismo mais do que as suas práticas que conhecemos, é também uma forma de pensar, e que já é tempo de ser frontal e violentamente debelada, pouco importa o que vai ter de mau viver, choro, insônia ou o que sobrará no final.

    E como tudo no PT é sempre um moralismo de guela e falsos profetismos, era caso de se fazer uma reflexão também do que será o PT depois da morte de Lula. Sendo uma grande sopa de letrinhas e uma agregado de muita coisa, tenho por mim que as grandes colas do partido foram as maquinações de Zé Dirceu, os falsos consensos por aclamação e a mistificação de Lula. Acho que depois da morte dele, o PT se fragmentará: não possui quadros, ideias, espírito de liderança, grandeza ou honra ou sequer tem intelectuais à altura de pensar o Brasil a altura dos desafios que nossa Pátria hoje encara para este século.

  3. Vai chegar um momento que o Brasil vai ter que desafiar gente mediana que se jullga maior do que é poucas ideias e impoem ao país submissãoa agendas contrarias ao interesse do próprio país não respeito acordos,tratados e leis que vão contra três principios Território,soberania e população seja tratados na Amazonia para favorecer ambientalismo pseudo cientifico extremamente contrario ao país ,internacionalismo sem nacionalismo a serviço de USA e Europa é algo completamente inocuo ao nosso destino maior,o que o Brasl realmente precisa é um verdadeiro processo revolucionario de cunho nacionalista que vai além de amarras ideológicas aglutinando todos os setores a sociedade e infelizmente o PT está deixando juntamente com seu Lula em ser um partido com opções tornando um mero figurino da classe dominante aqui e lá fora com discurso vazio e politicamente correto que não dá em nada em ser um mero braço armado da hipocrisia de países ricos enquanto jogam o país ao limbo e a desgraça de mera mentira ideologica dicursos que não representam nenhuma ideia dita pois a unica coisa que fazem é ludibriar as esquerdas mais conscientes com papo furado de medo ao poder dominante de umanação decadente ou a promessas de desafio ao poder central com demagogia barata não vejo Lula com nenhuma estatura intelectual a não ser aimpressionar intelectuais ultrapassados como o distinto leonardo Boff e uma religiosidade estéril do franciscanismo.não é Nilo Peçanha,Rodrigues Alves para citar dois estadistas da Republica velha e em termos estratégicos não consegue superar nenhum lider militar com todos os seus defeitos isto sem citar outros grandes estadistas como Getulio Vargas,J K e João Goulart até o entreguista FHC estou acreditando que o Lula é inferior pelo menos como planejador,olha estou exemplificando de um governante que não gostei,o Lula é o vedadeiro cavalo de troia um homem insignificante sem reais condições intelectuais um verdadeiro pelego da USP .e de um movimento conservador paulista ligado a Soros e o financismo da asquerosa elite brasileira,Não acreditoneste modelo estrutural nosso país carece de mudanças concreta e não de colonialismo em nome de grupos nada benevolente que planejam não só a tomada da Amazonia de fato como a fragmentação do Brasil usando esquerdistas recalcados,oportunistas e mentirosos.que ludibriam outras pessoas de esquerda com falsas estrategias de gente sem ideias e imaginação o plano de governo do PT é repetir instruções do departamento de estado,hoje até a direita nacionalista se encontra mais revolucionaria que a nossa esquerdaque parece ter desistido em modificar qualquer coisa a não ser colobaricionismo com inimigos historicos passando por Roth,Macron e Imperialismo sinceramente vocês com esta cultura devem ser reavaliados pela historia e não por palavras mentirosas desse pernóstico STF outro agente do servilismo conservador,e olha que não sou marxista mas como Karl tinha razão não dá mais a aceitar esta .modulação pernostica que uma pseudo esquerda tenta colocar como ideal.

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