O centenário de Roberto Silveira e suas lições para os trabalhistas de hoje

Roberto Silveira
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O centenário de Roberto Silveira e suas lições para os trabalhistas de hoje

No dia 11 de junho de 2023 celebrou-se o centenário de Roberto Silveira. A passagem de Silveira como governador do estado do Rio de Janeiro foi uma das mais marcantes de toda a história fluminense, embora, infelizmente, abreviada pelas circunstâncias de seu prematuro falecimento em um trágico acidente, ainda hoje considerado sabotagem e assassinato por militantes que testemunharam tal período da história política brasileira.

Silveira foi um líder popular atuante em todas as batalhas populares da esquerda fluminense desde a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, quando ainda atuava pelo movimento estudantil, e sua ascensão ao cargo máximo do governo fluminense representou não somente o fortalecimento de uma aliança de caráter ideológico nacional-popular no estado do Rio, mas também a consolidação da visão de mundo e dos princípios que essa aliança defendia.

Toda a jornada de Silveira até a posição máxima do poder executivo estadual e a secretaria-geral de seu partido, o PTB, está repleta de lições para todos os socialistas e trabalhistas dos dias atuais. Podemos afirmar, sem exagero, que Silveira se tornou um grande exemplo da visão de mundo e da prática política adotada durante a segunda fase do Trabalhismo Brasileiro.

Para nós, é fundamental não apenas considerar a perspectiva histórica dos eventos, mas também compreender a visão da Ciência Política sobre esses acontecimentos. Para isso, temos que compreender como Silveira e o PTB fluminense, travando a “batalha do mais fraco contra o mais forte”, conseguiram derrotar um oponente expressivo mesmo em situação desfavorável. É importante, diante da situação que vivemos atualmente, que os trabalhistas compreendam a verdadeira essência de um dos maiores eventos da vida política fluminense no século XX, infelizmente apagado pela historiografia vigente.

A grande marcha de Roberto Silveira contra Amaral Peixoto pelo interior do estado do Rio de Janeiro.

Para tal, é necessário entender o movimento de massas no entorno de Roberto Silveira, constituído por diferentes camadas da sociedade fluminense e da vida política do estado do Rio de Janeiro e que teve sua origem entre 1945 e meados da década de 1950. Nesse sentido, é possível identificar pelo menos quatro grupos relevantes: estudantes, trabalhadores, militantes do movimento nacional-popular, incluindo nacionalistas de esquerda e socialistas, e todos aqueles excluídos do sistema de poder “amaralista”, que eram predominantemente encontrados no interior do estado, ainda dominado por oligarquias rurais. Por essa razão, a luta pela terra e pela reforma agrária, assim como sua contraparte urbana, a industrialização, foram questões centrais para o “robertismo”.

A grande marcha silenciosa de Roberto Silveira pelo estado do Rio de Janeiro, fundando do zero diretórios municipais do PTB verdadeiramente populares com a participação de todos os excluídos do sistema de poder vigente, contra Amaral Peixoto, iniciada por volta de 1947, permitiu que Silveira e o PTB fluminense, na visão popular, assumissem a liderança na crítica ao “amaralismo” que dominou o estado do Rio de Janeiro desde a interventoria de Amaral Peixoto ainda no período do Estado Novo. Apesar de ambos o “amaralismo” e o PSD, assim como o “robertismo” e o PTB, terem surgido da Revolução de 30. Silveira, como crítico de um processo que ele compreendia e ao mesmo tempo defendia, conseguiu imprimir sua visão particular sobre o legado de esquerda da utopia da Revolução de 30 e do varguismo, bem como aprofundar as lutas e os valores provenientes desse mesmo processo.

E é nisso que reside um dos maiores méritos do PTB nesse processo, pois ao criticar as limitações e as desigualdades do desenvolvimento legadas ao estado do Rio de Janeiro pelos desdobramentos da Revolução de 30 sob o comando do Amaralismo, agora seus defensores à esquerda poderiam assumir o poder por meio da crítica, buscando corrigir o processo sem descartá-lo, conforme desejavam os liberais e conservadores da época, fortemente alinhados aos EUA. É sob essa perspectiva que se torna possível compreender a genialidade de Silveira e o êxito do PTB fluminense. Mesmo que tenha sido ofuscada e apagada pela historiografia da classe dominante, a grande marcha silenciosa de Silveira para libertar e reunificar politicamente o território fluminense representa um feito gigantesco, incomparável e sem precedentes na história política do estado do Rio de Janeiro.

No centenário de Roberto Silveira, não apenas os trabalhistas do estado do Rio de Janeiro, mas de todo o Brasil, deveriam refletir sobre a grande marcha de Silveira pelo interior do estado do Rio de Janeiro fundando diretórios verdadeiramente populares, orgânicos e pujantes do antigo PTB. Deveríamos pensar e reproduzir o trabalho de Roberto pela consolidação do trabalhismo, sempre fiel ao partido e aos seus ideais, atuando na promoção de tal cultura política em todos os espaços possíveis.

 

Deveríamos nos lembrar do exemplo do saudoso prócer trabalhista fluminense dialogando com todas as lideranças políticas da esquerda do estado do Rio em sua época, como por exemplo Luís Carlos Prestes, para a consolidação de um movimento de massas de caráter nacional-popular que tivesse força o bastante para fazer profundas reformas, como a experiência de reforma agrária no Rio de Janeiro e a campanha popular contra o analfabetismo que se tornaram grandes exemplos da luta política de massas na história política fluminense.

Deveríamos, acima de tudo, no centenário de Roberto Silveira, honrar e estar a altura de sua memória, um gigante da história do Brasil e do Trabalhismo Brasileiro, que a historiografia da classe dominante cisma em tentar apagar para com isso ceifar de nós tal exemplo de luta política.