RICARDO CAPPELLI: A velocidade dos ponteiros

Lula um dia antes de sua prisão. REUTERS/Leonardo Benassatto
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Segundo a Folha de SP, Lula está contrariado com os governadores do PT que defendem, no caso da inabilitação do ex-presidente, o apoio a alguém de fora do partido. A diferença é compreensível.

Para quem viu sua esposa morrer pressionada por acusações absurdas, teve a vida de sua família devassada e está preso sem provas, numa perseguição ideológica típica de um estado de exceção, as eleições são um momento importante, mas podem ser relativizadas.

O ex-presidente mira sua biografia, a história e o futuro do partido de quem é alma e maior símbolo.

Lula e a direção partidária pensam em ganhar as eleições, mas não veem a derrota como um resultado catastrófico, desde que preservado o tamanho da legenda no parlamento e seu espaço como principal força da esquerda brasileira.

Há implícito o cálculo de que um revés momentâneo pode asfaltar uma volta triufante logo adiante.

O tempo político dos governadores é outro. A maioria dos estados brasileiros, com raras e honrosas exceções, está quebrada ou caminha para quebrar. A retração do PIB ou seu crescimento inexpressivo impacta de forma dramática nas transferências constitucionais, que em alguns estados chega a 50% do orçamento. A arrecadação própria também não resiste à crise.

Os recursos para investimentos são cada vez mais escassos. O crescimento galopante da conta da previdência é outro drama que, cedo ou tarde, terá que ser enfrentado.

Os governadores do PT, principalmente os do nordeste, fazem belíssimas gestões e devem ser reeleitos sem dificuldades. Para eles não há como pensar no longo prazo. Janeiro de 2019 vai amanhecer.

Como governar mais quatro anos no meio de uma profunda crise econômica e correndo o risco de ver o governo federal nas mãos da oposição?

Premidos pela realidade objetiva, pela necessidade de pagar servidores, manter serviços públicos funcionando e garantir investimentos, os governadores optam por uma política mais ampla que, em tese, garanta uma vaga do campo no segundo turno com mais chances de vitória.

Faz sentido, na sua lógica, Lula ficar contrariado. Os governadores também. Só a história dirá quem está com a razão.

Na política, tempo e resultado nem sempre andam juntos. O objetivo é que determina a velocidade dos ponteiros do relógio. A única certeza é que eles não param de girar.

Por Ricardo Cappelli.